Exposição resgata luta de mulheres carentes por moradia na periferia carioca

Com curadoria de Osvaldo Carvalho, a exposição começou a ser projetada pelo artista em meio ao recolhimento imposto pela pandemia da Covid-19, depois de permanecer em estado de latência no seu íntimo por cerca de 30 anos

Obra de Jabim Nunes. As casinhas agrupadas - Foto: Flavio Salgado
Obra de Jabim Nunes. As casinhas agrupadas - Foto: Flavio Salgado

O artista visual Jabim Nunes apresenta a mostra “Ocupação”, no Centro Cultural Correios, desta quarta-feira (17/07), a partir das 16h, até 31 de agosto. A exposição é inspirada na vivência que ele teve no Assentamento de Mulheres, em Mesquita, na periferia carioca, em meados da década de 1990. Licenciado em Educação Artística, na época Jabim desenvolvia ações culturais no local em que mulheres carentes, a quase totalidade negras, lutavam por moradia.

Com curadoria de Osvaldo Carvalho, a exposição começou a ser projetada pelo artista em meio ao recolhimento imposto pela pandemia da Covid-19, depois de permanecer em estado de latência no seu íntimo por cerca de 30 anos. Assim que possível, ele revisitou a antiga região da ocupação de mulheres para recolher fragmentos de móveis, janelas, portas e telhados, os quais separou por qualidade, textura e coloração.

Jabim, de 61 anos, nascido em Paraty, filho de um velho construtor de barcos artesanais de cedro e de casas na cidade do sul fluminense, aplainou as madeiras, devolveu a elas suas cores originais e transformou-as em obras de arte esculpidas, rememorando o que vivenciara no território então ocupado. “Estacas, espaços demarcados, sonhos, emoções e superações daquelas mulheres que ergueram com as mãos suas próprias casas, algumas delas, inclusive, buscando escapar da violência doméstica que sofriam por parte de seus ex-companheiros e que também atingia os filhos”.

Obra de Jabim Nunes. Escultura de parede - Foto: Flavio Salgado
Obra de Jabim Nunes. Escultura de parede – Foto: Flavio Salgado

Em um trecho do texto curatorial, Osvaldo Carvalho, nome prestigiado na cena artística contemporânea, comenta sobre o trabalho do artista: “O despojamento dos materiais, aliado ao rigor da fatura de Jabim Nunes, nos revela um aspecto distinto em sua trajetória permeada pelas premissas de formas simples, mas não simplistas; há aqui comprometimento técnico, sem faltar emoção; não há renúncia, há desejo; não há ilusões, mas fatos concretos”.

A mostra, na qual o artista trabalhou de 2020 para cá, é composta de três séries inéditas abrigadas nas instalações “Terra Batida”, “Assentamento” e “Complexo”. A primeira destaca a força e a resiliência da comunidade na luta por moradia – são 17 esculturas semelhantes aos compactadores e mais a caixa de terra, como símbolos de construção e transformação.

A segunda, “Assentamento”, é referenciada no antropólogo norte-americano e escultor pós-minimalista Richard Nonas e caracteriza-se pela imersão na monocromia e na beleza bruta da madeira. Nela, o artista demonstra um profundo respeito pela tradição artesanal, valorizando as qualidades únicas que a madeira oferece para a transformação e a consequente criação artística.

Artista visual Jabim Nunes - Foto: Flavio Salgado
Artista visual Jabim Nunes – Foto: Flavio Salgado

Por fim, “Complexo” remete a um universo urbano, a moradias de traços simples e autênticos que homenageiam a arquitetura resiliente dos morros cariocas. É uma instalação orgânica, composta por dezenas de miniaturas. A simplicidade dos materiais faz refletir sobre a vida simples dos moradores nas comunidades que, por sua resiliência, sobrevivem com o mínimo de recursos disponível, defendendo a memória da permanente realidade.

Na sua trajetória de arte-educador e de artista, com participação em exposições no Rio – onde mora -, no país e no exterior e com obras em acervos de instituições públicas, Jabim sempre privilegiou a sustentabilidade e a relação arte-natureza.

SERVIÇO

Exposição Ocupação

Onde: Centro Cultural Correios. Rua Visconde de Itaboraí 20, Centro do Rio de Janeiro.

Abertura: quarta-feira (17/07), às 16h.

Visitação: terça a sábabado, das 12h às 19h. Até 31 de agosto.

Classificação: livre.

Entrada gratuita.