O novo filme da Netflix, “A sociedade da Neve”, que narra o acidente de avião sofrido pelo time de rugby uruguaio na Cordilheira dos Andes, se tornou um sucesso no streaming e atraiu milhares de espectadores que se interessam por este tipo de narrativa.
Paulo Ramirez, professor de ciências sociais da ESPM, conta que dentro dos estudos de estética e audiovisual, há um conceito chamado Catarse, que envolve uma identificação sensorial daquilo a que assistimos, fazendo com que haja um interesse por narrativas como essa. “O plano de fundo dessas histórias que fazem tanto sucesso é o grau de sociabilidade, ou seja, quais são as boas ou má relações, se você protege ou não pessoas desconhecidas, então tudo isso acaba trazendo esse espírito da catarse”, afirma Ramirez.
A professora de cinema e audiovisual da ESPM, Adriana Moreira, também acredita que o filme insere a catarse no roteiro, trazendo um didatismo sobre a tragédia nos Andes. “Como aquelas pessoas entraram no avião? Qual era a motivação delas? Todo o processo angustiante de sobrevivência deles durante o filme serve para que depois tenhamos uma experiência catártica. É isso que a ficção permite, que não só entendamos sobre uma história mas que também nos emocionemos com ela”, completa a especialista da ESPM.
Adriana Moreira ainda afirma que muitas obras cinematográficas, ao trazerem de volta as tragédias e crimes que aconteceram há anos e ficaram marcados na história, permitem que o espectador não só conheça sobre determinados acontecimentos, mas que tenha uma real experiência de envolvimento. “Isso é uma das coisas mais preciosas de uma obra cinematográfica ficcional. Mesmo baseada em fatos reais, ela pode trazer tanto informações que o espectador não conhece, quanto uma experiência de entretenimento que permite que ele se conecte com personagens e universos, trazendo também uma conexão empática desse espectador”, diz.
Por outro lado, durante a produção dessas obras cinematográficas, a junção dos fatos originais do ocorrido com a ficção, pode criar uma nova história? Adriana Moreira afirma que muitos formatos audiovisuais trazem elementos de narrativas ficcionais e não ficcionais para contar histórias, seja para trazer mais informação ou envolvimento emocional ao espectador. “No caso do filme ‘A Sociedade da Neve’, é uma história ficcional baseada em uma tragédia real e não estamos contando uma nova história, estamos trazendo novas contribuições, percepções, e até mesmo a criação de diálogos e cenas que não mudarão o começo, meio e fim da história, mas que permitem uma conexão emocional sobre ela”, diz a professora do curso de cinema e audiovisual da ESPM.
A especialista finaliza dizendo que o limite entre a ficção e realidade é cada vez mais tênue e que no caso do filme ‘A sociedade da neve’ passamos o tempo todo refletindo sobre se o que aconteceu foi uma tragédia ou milagre.