Vozes femininas na ficção: mulheres fortes no Brasil de 1940

Eclode a Segunda Guerra Mundial, e quando um submarino alemão afunda navios brasileiros, Getúlio Vargas envia soldados para lutar contra os nazistas na Europa. Este conturbado momento histórico guia o enredo de Rasgando o pano, lançamento da paulista Waléria Leme. O romance convida o leitor a mergulhar nas memórias de quem viveu intensamente as décadas de 1930 e 40, em que o Brasil vivia a ditadura no Estado Novo.

A partir do subtítulo Uma jovem decidida, um estudante idealista e uma guerra não escolhida, a autora contextualiza os encontros e desencontros de Maria Isabel e Otávio, protagonistas da obra. O ano é 1938 e, na capital paulista, a jovem rica e filha de um fazendeiro de café se apaixona por um estudante de direito, pobre, e neto de imigrantes italianos.

Para viver este amor, os dois precisarão lutar contra os preconceitos e obstáculos impostos pelo pai de Isa, que não aprova a relação. Como se não bastasse, o jovem Otávio é enviado pela Força Expedicionária Brasileira (FEB) para lutar contra os nazistas. Rasgando o pano é uma referência às rajadas das metralhadoras MG-42, empunhadas pelos alemães na guerra.

O distintivo brasileiro, que antes era um escudo verde, muda para um
retângulo amarelo com bordas vermelhas, uma tarja azul e no centro
uma cobra verde fumando. Os americanos, vendo aquilo, apelidam os
brasileiros de “Smoking snake”. (Rasgando o pano, p. 305)

Além das pesquisas sobre a realidade da época, Waléria recorreu às lembranças do pai – hoje com 93 anos de idade –, que acompanhou aflito o desenrolar da guerra e relatos de familiares de pracinhas. Notas de rodapé ajudam o leitor a entender palavras e referências específicas não mais usuais.

Rasgando o pano abraça a realidade ao trazer temas de importante discussão na vida real, como imposições sociais, empoderamento feminino, sexualidade e representatividade LGBTQIA+. A história de Enrico, irmão do protagonista, revela uma crítica à sociedade da época, que retrata as tentativas de “cura” aos homossexuais.