Historia e Arte

Mostra ‘Achados do Valongo’, no Muhcab, exibe 180 itens de escavações

Muhcab fica na Gamboa, na zona portuária do Rio, e funciona de quinta a sábado, com entrada gratuita - Beth Santos/Prefeitura do Rio
Muhcab fica na Gamboa, na zona portuária do Rio, e funciona de quinta a sábado, com entrada gratuita - Beth Santos/Prefeitura do Rio

A lembrança de um Rio de Janeiro negro, que é filho do crime da escravidão, e ao mesmo tempo tem a cultura construída pelos descendentes das pessoas que foram escravizadas. Nesta quinta-feira (25/07), o Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (Muhcab), na Gamboa, apresenta uma das mais aguardadas exposições do ano: “Achados do Valongo”, que reúne 180 itens como piaçavas, cerâmicas, pedras e peças em vidro que contam um pouco da história da herança africana no Rio. São achados oriundos das escavações do Cais do Valongo, na zona portuária do Rio, ocupando a novíssima Sala dos Achados no Muhcab, reaberto pela Secretaria Municipal de Cultura do Rio totalmente modernizado e requalificado. Em cartaz, achados arqueológicos do lugar onde operou o maior mercado de escravizados do Brasil. Fazem parte do acervo do Laboratório Aberto de Arqueologia Urbana (LAAU) da Prefeitura do Rio.

Para marcar a novidade e também o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e o Dia Nacional de Tereza de Benguela, o Festival D’Benguela reúne por lá moda, gastronomia, DJ e intervenções artísticas.

Descoberto em 2011, na fase inicial do projeto Porto Maravilha, de revitalização da região, o cais era adjacente ao mercado. Estima-se que por lá passaram 700 mil africanos escravizados, entre 1790 e 1831, oriundos principalmente de portos do atual território de Angola, mas também de Moçambique.

A escavação arqueológica de 2011 abriu um pedaço de terreno de quatro mil metros quadrados. De lá saíram centenas de artefatos de matrizes africanas, como contas de colares, búzios, brincos e pulseiras de cobre, cristais, peças de cerâmica, aneis de piaçava, figas, cachimbos de barro, materiais de cobre, âmbar, corais e miniaturas de uso ritual.

Museu que exalta a ancestralidade

Construir um futuro sem racismo e com mais diversidade. Esses são alguns dos objetivos do Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (Muhcab), na Gamboa, que reabriu ao público depois de seis meses de obras. O museu foi totalmente reformado, modernizado e requalificado. Trata-se de um Museu de Território da Prefeitura do Rio via Secretaria Municipal de Cultura, de papel fundamental no resgate, preservação e revitalização da memória afro-brasileira. 

Entre as melhorias feitas no Muhcab, destaque para a reforma dos banheiros, construção de rampas de acesso, troca completa das instalações elétricas e, sobretudo, a requalificação de todo o acervo: cerca de 180 achados arqueológicos descobertos nas obras do Porto Maravilha em torno da exposição “Achados do Valongo” (breve em cartaz). Há vários espaços novos no Muhcab, que passa a oferecer agora salas de ensaio, informática e leitura, um mini anfiteatro, mais um auditório, outras salas expositivas, uma área com mini arquibancada e jardim para atividades com crianças e também hall de convivência.

A Secretaria Municipal de Cultura quer transformar o Muhcab numa referência internacional de arte contemporânea.  Atualmente, o Muhcab abriga a mostra “Os Super Heróis Negros Brasileiros”, com produção de Paula Ramagem, reunindo, na Sala Mestre Marçal, imagens de personagens de HQs produzidos por quadrinistas negros. E ainda a mostra “Canto, Cores e Telas: TecnoMacumba no traço de Fernando Mendonça”, reunindo mais de 20 pinturas de grande porte a partir dos shows da Rita Benneditto, onde o artista fazia pinturas ao vivo, elaborando imagens relacionadas às religiões de matrizes africanas, sobretudo orixás. A exposição tem recursos do edital Pró-Carioca – Edição Paulo Gustavo. 


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Um dos 15 pontos de memória que compõem a Pequena África, na Zona Portuária do Rio, o Muhcab foi inaugurado como museu em novembro de 2021 pela prefeitura – via Secretaria Municipal de Cultura – no imóvel onde funcionou o Centro Cultural José Bonifácio, na Gamboa. Vizinho ao Cais do Valongo (Patrimônio Mundial / Unesco), o museu foi criado em 2017, via decreto, mas nunca tinha sido aberto ao público. O acervo guarda aproximadamente 2,5 mil itens, entre pinturas, esculturas e fotografias, além de trabalhos de artistas plásticos contemporâneos, que dialogam com o espaço.

Museu da História e Cultura Afro-Brasileira (Muhcab):

Rua Pedro Ernesto 80, Gamboa. Ter a dom, das 10h às 17h. Grátis. Livre. 

SIGA @cultura_rio / @muhcab.rio Contato: Sinara Rúbia – 21 99391-7069.

*15 PONTOS DA PEQUENA ÁFRICA*

Além de museu, o Muhcab é uma reflexão do poder da arte e da importância da fé nos momentos de resistência a violações de direitos. Um dos 15 pontos da Pequena África, nome dado por Heitor dos Prazeres a uma região do Rio conhecido por ser o principal ponto de desembarque e comércio de africanos escravizados nas Américas.

1. Cais do Valongo, Patrimônio Mundial 

2. Mercado de escravos do Valongo

3. Cemitério dos Pretos Novos – Instituto dos Pretos Novos – IPN

4. Muhcab (antiga Escola José Bonifácio)

5. Praça da Harmonia – interpreta as Barricadas da Revolta da Vacina

6. Sindicatos e associações negras – Sociedade da Resistência dos Trabalhadores do Trapiche e Café

7. Casa de Machado de Assis

8. Mirante da Pequena África

9. Largo do Depósito/Praça dos Estivadores

10. Trapiches e atividades portuárias da Rua da Saúde

11. Pedra do Sal, Quilombo da Pedra do Sal e Rua São Francisco da Prainha

12. Zungu Largo de São Francisco da Prainha

13. Igreja São Francisco da Prainha

14. Praça Mauá

15. Igreja de Santa Rita

PROGRAMAÇÃO

Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (Muhcab)

Rua Pedro Ernesto 80, Gamboa

Festival D’Benguela – (moda, gastronomia e intervenções artísticas) Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e Dia Nacional de Tereza de Benguela 

Feira de moda, gastronomia, bar com vendas de bebidas, painéis temáticos com palestrantes, espaço literário, DJ nos intervalos, intervenções artísticas e mais.

Quinta-feira (25/07), às 10h. Grátis. Livre.

Evento “Nossa força move a América Latina” ( celebração à organização política e das conquistas de mulheres negras na América Latina)

O evento é uma celebração à organização política e das conquistas de mulheres negras na América Latina, e de chamado à sociedade para um compromisso de fortalecer a participação e representação de mulheres negras na política na região.

Quinta-feira (25/07), às 18h30. Grátis. Livre.

Homenagens às Mulheres Negras e celebração com a Roda de Samba Mulheres da Pequena África

Entrega de moções de aplausos, louvor e reconhecimento para os coautores do livro “Negras, Mulheres, Herdeiras Ancestrais”, da Editora Folha de Ouro, para mais de 60 mulheres negras reconhecendo suas trajetórias e compromisso com a comunidade negra, bem como toda sociedade, das quais estão inseridas, seguida de celebração com a Roda de Samba Mulheres da Pequena África. Esta roda de samba feminina e feminista traz em seu repertório sambas clássicos e contemporâneos e pautas que orbitam o universo da mulher com os pés fincados na ancestralidade. O grupo que se apresenta semanalmente na Pedra do Sal, faz parte do calendário cultural do Rio de Janeiro, arrebatando o público e colhendo elogios por onde passam.

Sexta-feira (26/07), às 17h. Grátis. Livre.

Babalakina – Julho das Pretas (artes e danças negras)

Esta será a segunda Edição do evento,  encerrando  o mês de reabertura do Muhcab em grande estilo. “Julho das Pretas Babalakina: Mulheres negras, arte e movimentos” celebra a vida, os fazeres e  protagonismos dessas dessas  mulheres. O foco é demarcar a data do 25 de Julho,  Dia da Mulher Negra  Afro Latino Americana e Caribenha – Dia de Teresa de Benguela e de ressaltar as lutas e vitórias de mulheres pretas da cidade do Rio. A programação tem foco  especial nas artes e danças negras.  A idealizadora   Aline Valentim é uma artista e  bailarina negra que atua na cidade há mais de 20 anos  e propõe um evento leve, alegre de muita troca e integração. 

Domingo (28/07), às 14h. Grátis. Livre.

Exposição ”Protagonismos: memória, orgulho e identidade”, 

Terça-feira a domingo, de 10h às 17h. Grátis. Livre. 

Exposição “Cantos, cores e telas, tecnomacumba no traço de Fernando Mendonça” 

Terça-feira a domingo, de 10h às 17h. Grátis. Livre. 

Exposição “Os super heróis negros brasileiros”

Terça-feira a domingo, de 10h às 17h. Grátis. Livre.