”Marias’ fala sobre justiça e igualdade de gênero’, diz diretora

Documentário estreou nos cinemas brasileiros na última quinta-feira (17)

André Luiz
7 Min Read

O documentário “Marias”, dirigido por Ludmila Curi, estreou na última quinta-feira (17) nos cinemas brasileiros. A obra é um road movie que atravessa fronteiras, conectando o Brasil à Rússia para contar a vida de Maria Prestes, uma nordestina que se destacou como figura central na luta pela reforma agrária no Brasil.

A produção oferece ao público um retrato íntimo de uma mulher que, além de ser a companheira de Luís Carlos Prestes por 40 anos, desempenhou um papel de protagonismo nas lutas sociais brasileiras e internacionais.

Com imagens de arquivo e gravações inéditas, “Marias” revela não apenas a trajetória de Maria Prestes, mas também de outras mulheres icônicas que, assim como ela, lutaram por justiça e igualdade em diferentes momentos históricos.

Entre as figuras destacadas no longa estão Maria Bonita, Olga Benário, Dilma Rousseff e Marielle Franco. Através de uma narrativa sensível e cuidadosa, o filme busca destacar a força e a resiliência das mulheres que marcaram a história do Brasil, assim como daquelas que seguem lutando nos dias atuais.

Ludmila Curi, diretora e roteirista do documentário, concedeu uma entrevista exclusiva ao Diário Carioca para falar sobre sua inspiração para o projeto, os desafios da produção, a conexão entre as lutas femininas do passado e do presente, além de adiantar detalhes sobre seus próximos projetos.

Conexão com outras figuras femininas

''Marias' fala sobre justiça e igualdade de gênero', diz diretora | Diário Carioca
Foto: Divulgação

Quando questionada sobre o que a motivou a escolher Maria Prestes como protagonista do documentário, Ludmila revelou que a decisão foi quase automática, dado o impacto da figura de Maria.

“Quando eu conheci a Maria, ela já era uma mulher com mais de 80 anos, testemunha ativa de grandes acontecimentos históricos e uma profunda conhecedora da realidade brasileira. A trajetória dela era extremamente rica e, até então, desconhecida do grande público”, disse ao DC.

A diretora contou que a relação entre Maria e as outras mulheres retratadas no filme surgiu de forma espontânea durante as filmagens.

“Enquanto estávamos filmando, percebi que as histórias se conectavam naturalmente. Registramos muitas mulheres do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Rio Grande do Norte e no Piauí, e Maria sempre mencionava outras figuras femininas que a inspiravam”, explicou.

Ludmila ainda destacou a participação de Marielle Franco no documentário. “Ela foi registrada em uma visita à casa de Maria logo após ser eleita vereadora, e isso marcou muito a narrativa do filme. O encontro foi iniciativa delas, e tivemos que antecipar as filmagens para não perder essa oportunidade histórica”, revelou ao DC.

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Luta das mulheres

A diretora espera que a estreia de “Marias” nos cinemas vá além de uma simples exibição, tornando-se uma ferramenta de discussão sobre a luta das mulheres por justiça e igualdade.


“Minha expectativa é que o filme acenda esse debate não só nas salas de cinema, mas também em cineclubes e organizações que promovem os direitos humanos e os direitos das mulheres”
Ludmila Curi, diretora

Segundo Ludmila, o objetivo principal do documentário é conectar as lutas femininas do passado com as do presente, mostrando que, apesar das mudanças ao longo do tempo, muitas dessas batalhas permanecem.

“Maria Prestes cresceu no contexto da luta pela reforma agrária e viveu clandestina durante a Guerra Fria. Sua trajetória é uma síntese das lutas sociais dos séculos XX e XXI”, afirmou.

Desafios de produção

Produzir um documentário que atravessa continentes e histórias tão densas não foi uma tarefa simples, e Ludmila enfrentou inúmeros desafios ao longo da jornada.

“O maior desafio foi ter como protagonista uma mulher que viveu grande parte de sua vida na clandestinidade, o que dificulta o acesso a registros. Além disso, a montagem foi extremamente complexa, pois trabalhamos quase um ano para entrelaçar as diferentes narrativas e personagens”, destacou ao site.

O processo de pesquisa também foi exaustivo. Ludmila revelou que a pesquisa foi intensa para encontrar imagens das figuras femininas mencionadas por Maria Prestes.


“Em muitos casos, tivemos que fazer um trabalho triplicado para conseguir apenas uma foto de mulheres que marcaram a história, mas que não foram registradas pelas câmeras oficiais”
Ludmila Curi, diretora

Igualdade de gênero

“Marias” traz uma mensagem poderosa sobre a importância de enxergar a história do Brasil sob uma nova perspectiva, principalmente através das vozes de mulheres.

“Espero que o filme ofereça ao público uma nova maneira de entender a história, sob uma ótica diferente da narrativa dominante”, contou.

''Marias' fala sobre justiça e igualdade de gênero', diz diretora | Diário Carioca
Foto: Divulgação

Ludmila destacou que o filme contribui para a discussão sobre justiça social e igualdade de gênero.

“O documentário não apenas conta a história de Maria, mas reforça o papel essencial que as mulheres desempenham na sociedade, em todos os níveis”, reflete a diretora.

Projetos futuros

Ludmila Curi já está envolvida em novos projetos para os próximos anos e revelou e primeira mão que outro road movie está a caminho.

“Atualmente, estou lançando alguns curtas que produzi em um projeto chamado escutario.com.br, desenvolvido com jovens em situação de vulnerabilidade no Centro do Rio. Também estamos captando recursos para um filme de ficção sobre a história do Morro do Borel”, contou.

“Estou trabalhando também em um roteiro híbrido, um filme que mescla documentário e ficção, conectando Brasil, Angola e Portugal. Posso adiantar que mais um road movie está a caminho”, concluiu a diretora em entrevista ao Diário Carioca, revelando mais um de seus próximos projetos.

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