Exposições on-line contam histórias de luta LGBTQIA+ desde o Brasil Colônia até os dias atuais

O Museu da Diversidade Sexual disponibiliza gratuitamente mostras virtuais sobre a luta LGBTQIA+ . Os acervos discutem, com um riquíssimo acervo de documentos, fotos e relatos, diversidade sexual, violência de gênero, resistência, memória e cultura LGBTQIA+

O que vem à tona quando a perspectiva LGBTQIA+ é adotada para se contar a história dos séculos iniciais da colonização? Com essa indagação, a doutora em teoria e crítica literária pela Unicamp e militante dos direitos de prostitutas e pessoas LGBTQIA+, Amara Moira, sintetiza o que será abordado na exposição “Dando Pinta no Brasil Colônia”, uma das várias mostras virtuais lançadas em dezembro pelo Museu da Diversidade Sexual (MDS), instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo.

Ao se pensar em história do Brasil, raramente se aborda a questão das dissidências sexuais e de gênero, ficando a impressão de que isso seria um fenômeno recente. Figuras que não cabiam nos padrões hegemônicos de gênero e sexualidade, antepassados da atual população LGBTQIA+, sempre existiram nesse território e uma prova cabal disso são as inúmeras leis que vigoraram por aqui querendo eliminar qualquer vestígio dessas existências.

A importância dessa exposição permite que a história do país seja contada por uma outra perspectiva da luta LGBTQIA+. Além disso, também está à disposição do público, em formato on-line, o projeto documental “Palomas”, que conta a história de mulheres transexuais que vivem na cidade de São Paulo em busca de autonomia. Segundo a fotógrafa documentarista Dan Agostini, idealizadora da iniciativa, o intuito é tornar pública a história dessas mulheres que contaram suas trajetórias de luta, dor, preconceito, sonhos e coragem, a fim de conscientizar sobre a realidade social que vive parte da população LGBTQIA+.

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Colonização, sexualidades e generificações: respostas de hoje para o agora

A fim de propor uma maneira de perceber a experiência colonial brasileira também como estabelecimento de normas de gênero e sexualidade, essa proposta curatorial visa pensar a influência cis-hetero-cristã na experiência africana na colonização brasileira. Ora, se considerarmos as diversas Áfricas, sequestradas e inventadas, também se faz necessário notar o aspecto disruptivo do exercício colonial, de modo que teremos sempre o antes e depois dele. Há uma história particular nas colonizações africanas e americanas, com isso, o Brasil, vinculado substancialmente à Costa do Ouro e a Angola, por exemplo, nasce com a contradição do tempo em operação.

Pouco menos de um século antes de entrarmos no mapa ocidental, o avanço europeu sobre a costa africana atlântica já estava em curso. Isto é, o que significa pré-colonial na estrutura combinada da colonização atlântica? Sempre haverá, por fim, a referência ao anterior, ao marco inaugural, uma África antes do sequestro. Voltemos, se o exercício colonial inaugura algo, também o inventa e enquanto o faz, imprime a si mesmo. Nisto se nota, então, a constante generificação cisgênera, acompanhada pela heterossexualidade compulsória, na constituição das relações, mesmos escravistas, como veremos, da história brasileira.

 “Dando Pinta no Brasil Colônia”, nova exposição de Amara Moira celebra a coragem de quem, lá atrás, mesmo diante da perseguição inquisitorial e portuguesa, foi inventando brechas para poder existir. Reunindo diversos registros, documentos, cartas e relatos, a exposição revela os mais diversos tipos de censura e violências. Uma das principais fontes para imaginarmos a presença LGBTQIA+ nos primórdios da colonização do Brasil são as confissões e denúncias feitas à Santa Inquisição.

Homens que se envolviam, pontual ou recorrentemente, com outros homens, mulheres fazendo o mesmo com outras mulheres e até figuras que, já naquela época, desafiavam as normas de gênero e mostravam que é, sim, possível existir para além das concepções genitalizantes de homem e mulher, tudo isso se encontra nesses documentos.

Sexualidades Múltiplas: Autobiografias indígenas, projeto de Tipuici Manoki foi pensado a partir do Bicentenário da Independência, com o intuito de apresentar um pouco das narrativas indígenas sobre a diversidade sexual, partindo das perspectivas dos indígenas LGBTQIA+. Sendo assim, o material traz múltiplas narrativas autobiográficas desses sujeitos, desde o impacto que os processos de colonização causaram em suas vidas, até as suas atuais formas de criatividade e resistência adotadas como estratégias cosmopolíticas.

Sabemos que a colonização no Brasil continua violando as culturas dos povos indígenas e, consequentemente, os corpos LGBTQIA+. Nesse sentido, apresentar essas autobiografias indígenas é uma forma de celebrar e fortalecer as suas formas de expressão e resistência diante de ameaças à sobrevivência desses grupos.