ACNUR apoia o lançamento de centro de acolhida temporária em Guarulhos

"Todos irmãos", nome da casa de passagem em Guarulhos, foi lançada ontem pelo ACNUR em parceria com a Caritas Diocesana de Guarulhos, Caritas Arquidiocesana de São Paulo e Prefeitura de Guarulhos para a acolhida humanitária temporária da população refugiada e migrante.

Desembarcar no maior aeroporto da América do Sul para quem busca proteção internacional, sem ter qualquer referência do idioma local e de lugares para uma estadia segura e gratuita, é um desafio durante o processo de chegada ao Brasil. 

Como forma de responder à crescente chegada de pessoas refugiadas e migrantes de diferentes nacionalidades, em especial afegãs, que buscam a condição de refugiado ou chegam por meio de vistos humanitários, o ACNUR, em parceria com a Caritas Diocesana de Guarulhos, Caritas Arquidiocesana de São Paulo e Prefeitura de Guarulhos, inaugurou oficialmente hoje o Centro de Acolhida Temporária “Todos Irmãos”. 

“A inauguração do centro de acolhida é uma resposta tripartite entre prefeitura, sociedade civil e ACNUR para um bem comum: prover uma estrutura digna de acolhimento para a população que chega ao país pelo aeroporto internacional, propiciando que tenham meios para seu desenvolvimento”, afirmou o prefeito Gustavo Costa (Guti). 

O espaço conta com 27 vagas para pessoas que chegam pelo Aeroporto Internacional de Guarulhos e não têm locais de referência para sua estadia imediata. O atendimento é feito por profissionais da Síria, do Afeganistão e Brasil contratados pelo ACNUR justamente para facilitar a adequação dos idiomas e o compartilhamento de informações necessárias para o processo de integração local no país. 

“Sinto-me honrada de prestar esse serviço de mediação para a população recém-chegada ao Brasil. Eu mesma vim em condições difíceis e sei o quão complexo é chegar em um novo país com um idioma e cultura completamente diferentes. Agora, posso compartilhar com eles minhas experiências de convivência e compartilhar informações seguras para que possam tomar decisões efetivas para o desenvolvimento de suas vidas”, disse Sabera, afegã que foi contratada pelo ACNUR e que vive há nove meses no Brasil. 

Desde 2015, o ACNUR trabalha em parceria com a Secretaria de Assistência Social de Guarulhos para fortalecer o Posto Avançado de Atendimento Humanizado ao Migrante (PAAHM), localizado no aeroporto e responsável pelos encaminhamentos dessas pessoas ao novo espaço. A estadia no centro de acolhida tem a perspectiva de durar até 20 dias, podendo acolher famílias com crianças, inclusive pessoas com deficiência e dificuldade de mobilidade. 

“O ACNUR assumiu o compromisso com a prefeitura de Guarulhos e com a sociedade civil organizada de atuar de forma coordenada para acolher as pessoas que chegam via aeroporto internacional de Guarulhos em grande vulnerabilidade e sem qualquer referência ao Brasil. Porém, para além de prover um espaço seguro onde possam ficar em um primeiro momento, é preciso também garantir o acesso, no médio e longo prazos, aos serviços complementares das redes de proteção e integração nas diversas áreas. A casa de passagem é, portanto, mais uma contribuição importante para o avanço da política municipal de apoio a refugiados e migrantes”, afirmou Silvia Sander, Associada de Proteção do escritório do ACNUR de São Paulo. 

Há, atualmente, quatro famílias afegãs que já estão abrigadas no centro de acolhida, incluindo 11 crianças. As famílias desembarcaram no aeroporto de Guarulhos em agosto e foram referenciadas ao espaço pelo PAAHM, reforçando a importância do trabalho articulado, em rede. Com os celulares nas mãos em busca de informações sobre cursos de português, outras demandas apresentadas pelas famílias contemplam questões de integração local. 

“Estamos muito gratos ao governo brasileiro por ter nos concedido o visto humanitário, permitindo-nos chegar até aqui. A partir de agora precisamos aprender português, assegurar que nossos filhos estejam matriculados na escola e já começar a buscar emprego para que possamos nos manter”, disse Mohammed Moqeem, de 28 anos, engenheiro de construção de estradas. 

Desde outubro de 2021, a Caritas São Paulo atendeu mais de 300 pessoas afegãs que buscaram proteção no Brasil e chances de se recolocarem no mercado de trabalho, considerando seu perfil qualificado e o desejo comum de darem sequência aos seus conhecimentos. Uma oportunidade que chega ao Brasil em decorrência de uma trágica realidade do outro lado do mundo, de que foi forçado a abandonar seus lares