Em duas semanas, cooperativas ligadas ao MST captam R$ 17,5 mi para a agricultura familiar

O Finapop, programa de investimento de cooperativas ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) por meio da oferta de títulos no mercado financeiro, atingiu, em menos de duas semanas, a meta de captar R$ 17,5 milhões com a emissão de um Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA). Todos os recursos serão utilizados para financiar a produção em áreas da reforma agrária. 

No período da operação, que teve início no começo deste mês, mais de cinco mil contas foram abertas na corretora Terra Investimentos, que distribuiu os títulos, e pelo menos 1.600 clientes declararam oficialmente interesse em adquirir as cotas oferecidas.

Os títulos do CRA foram emitidos no mercado pela securitizadora Gaia Impacto, com o valor de R$ 100 cada e uma remuneração de 5,5% ao ano. O valor máximo reservado por um único investidor foi de R$ 1 milhão. O balanço completo da operação vai ser divulgado até quinta-feira (16). 

O Finapop foi estruturado com apoio do economista Eduardo Moreira, que é um dos investidores. A diferença para outras aplicações na Bolsa de Valores é que todo montante captado é revertido para cooperativas que produzem alimento saudável, sem agrotóxicos, com respeito ao meio ambiente e em terrenos oriundos da reforma agrária.

“As pessoas não tinham que estar comemorando a alta do PIB [Produto Interno Bruto], mas ter comida na mesa, sair de uma situação de rua para ter um lugar onde morar, ter um lugar na escola para colocar seus filhos”, ressalta Moreira, em entrevista ao Brasil de Fato.

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“Porque ninguém come PIB. Só a alta do PIB não garante nada, ainda mais porque o nosso está crescendo baseado em riquezas enviadas para fora do país, muitas vezes sem recolher imposto nenhum, no agronegócio e no setor de serviços financeiros, que também não deixam nada para a gente.”

Na visão do economista, o Finapop é uma resposta a um contexto de piora da qualidade de vida dos brasileiros.

“O Finapop estimula o financiamento popular da agricultura familiar. Essa operação, na minha visão, é uma forma de fazer o dinheiro chegar a pessoas que produzem alimentos, que estão dispostas a fazer um uso da terra que melhore a vida de todo mundo.”

As cooperativas que receberão os recursos estão localizadas no Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Até vencimento dos títulos, em julho de 2026, elas terão que pagar pelo financiamento obtido na captação e garantir a remuneração do investidor com uma taxa prefixada de 5,5% ao ano.

Cerca de 13 mil famílias devem ser beneficiadas pela operação. Elas pretendem investir os recursos na ampliação e modernização da estrutura para a produção de leite, milho, arroz, soja, açúcar mascavo e suco de uva.

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Como funciona

O Finapop se baseia na distribuição de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), que é um título de dívida. As pessoas físicas que adquirem um CRA têm isenção de imposto de renda e receberão seus recursos de volta em até cinco anos, com pagamentos mensais a partir do 13º mês e juros de 5,5%.

Como os valores estão livres de tributação, os juros são líquidos, e não brutos, tornando o Finapop uma das opções mais vantajosas do mercado financeiro para os investidores de pequeno porte.

Para além desse ganho, o principal atrativo do Finapop é saber que o seu investimento ajuda a financiar a agricultura familiar, que produz 70% dos alimentos que compõem a mesa do brasileiro. 

Esta é a segunda operação no mercado financeiro desenvolvida pela Finapop. Na primeira, a beneficiada foi a Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita (Coopan), no Rio Grande do Sul.

Foi destinado R$ 1 milhão para a construção de um novo frigorífico no assentamento, que já possui criação própria e abatedouro. A meta agora é concluir as obras em fevereiro do próximo ano e começar a fabricar salame, defumados e linguiça.

Entre os projetos da lista do Finapop, estão cooperativas que produzem cacau, mel, hortaliças, frutas e laticínios.

Edição: Vinícius Segalla