Ex-presidentes defendem revolução digital a serviço da democracia

Miami, 22 out (EFE).- A transformação digital e a explosão do uso das redes sociais precisam estar “a serviço do fortalecimento da democracia liberal” e da liberdade de expressão, um direito “inegociável”, afirmaram nesta sexta-feira os ex-presidentes Mauricio Macri, da Argentina; Luis Alberto Lacalle, do Uruguai; e Jorge Quiroga, da Bolívia.

Diante da forma acelerada como a era digital “mudou as nossas vidas”, os três ex-mandatários concordaram ao apontar o “perigo” que a internet representa para um “censor”.

São os cidadãos, portanto, que devem ser “críticos com aqueles que falham na qualidade da mensagem, com informações falsas e perversas”, e não pessoas ou poderes que se apropriam do direito de censurar opiniões nas redes sociais e regular o mundo digital, disseram os ex-presidentes em um painel virtual.

“Tenho muito medo do censor” de conteúdos em plataformas da internet porque, uma vez que ele tem esse poder, “quem o tira?”, perguntou Macri nesta sexta-feira durante um painel na 77ª Assembleia Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) sobre governança global e ameaças às liberdades civis e políticas.

MUNDO DIGITAL DEVE REFORÇAR A DEMOCRACIA.

Neste contexto, o ex-presidente argentino defendeu que “a liberdade de expressão e a democracia são inseparáveis e o mundo digital deve estar a serviço do fortalecimento da democracia liberal”.

No final, as redes sociais acumulam “muita informação” que “ataca regimes autoritários como os de Cuba, Venezuela e Nicarágua”. Regimes, segundo ele, que “buscam suprimir a liberdade de expressão”.

“Regulamentar é perigoso, não é bom quando começamos a controlar, porque acaba em autoritarismo e messianismo”, acrescentou.

Lacalle se expressou em termos semelhantes, levantando a questão de “quem censura o censor?” nas redes sociais e apontou para o “medo de abuso” do direito à liberdade de expressão, em referência, por exemplo, à censura nas redes sociais das opiniões do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump.

“Eu preferia que ninguém dissesse que isto pode e isto não pode, que isto está certo ou errado – em referência ao Facebook – e que exista liberdade plena com responsabilidade”, analisou Lacalle.

Para Quiroga, a criação de mecanismos de governança digital que “filtrem o lixo” é fundamental para que “não seja o Facebook ou (o presidente venezuelano Nicolás) Maduro que certifique “o que é bom e o que não é bom”.

No contexto da independência regional na internet, Quiroga disse ser a favor da construção de uma “nuvem latino-americana” que permitiria à região “ter soberania digital sobre os dados” e “não ficar presa” no meio da guerra digital que está sendo travada por EUA e China.

A chave para o mundo digital, “baseada na democratização bestial da informação e do acesso ao conhecimento”, de acordo com Macri, reside em “saber universalizar estes avanços para a melhoria dos seres humanos”, principalmente estimulando a “competição” e o “acesso à educação, ao conhecimento do mundo”.

Mas a esta visão de sociedades abertas se opõe o populismo, ideologia que “busca responsáveis pelas suas incapacidades e fracassos, que justificam o isolamento ao qual submetem os seus países”.

“Hoje, mais do que nunca, temos de apostar na governança global e reforçar os procedimentos democráticos, que são sistemas mais eficientes e transparentes”, enfatizou.

VENEZUELA, CUBA E NICARÁGUA.

Pelo contrário, autocracias ou regimes autoritários como os de Venezuela, Cuba ou Nicarágua, segundo Macri, “exigem mais poder e controle” para “censurar a liberdade de expressão”, um caminho que apenas conduz a “estagnação e destruição”.

“A liberdade de expressão é inegociável”, declarou Macri.

Lacalle alertou para a influência do intelectual comunista italiano Antonio Gramsci nas universidades americanas, para o “avanço das suas ideias totalitárias”, o que, segundo ele, impede o “debate” acadêmico e impõe “preconceitos que impedem a defesa de posições opostas”.

Um exemplo desta corrente ideológica nas universidades americanas seria o “radicalismo e totalitarismo” presente na tendência para “julgar a história” com formatos atuais, algo que se materializa no “ódio” a certos monumentos, que foram eliminados ou vandalizados.

Na América Latina, opinou que o Foro de São Paulo e outros instigam a “as comunidades indígenas, tudo planejado”, como “um adversário do sistema de liberdades”, argumentou.

Quiroga, neste sentido, alertou sobre o perigo para a democracia na região representado pela possível entrada da Venezuela e da Nicarágua no Sistema Interamericano de Direitos Humanos.

Se isto acontecer, na opinião do ex-governante, significaria a “entrada de duas ditaduras, de um conglomerado criminoso”.

“O que vamos fazer? Vamos aceitar regimes autoritários como membros de uma organização democrática”, questionou o ex-presidente boliviano, afirmando que isto significaria sérios problemas para a capacidade de “defender a liberdade de expressão como uma pedra fundamental da democracia” na região. EFE

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