Quem não é visto, não é lembrado

Muita gente não gosta de assistir ao horário eleitoral. Dizem que é artificial, chato. Imagine, então, como deve ser para quem passa a vida tendo que sorrir ou ficar triste exatamente na hora cert

Muita gente não gosta de assistir ao horário eleitoral. Dizem que é artificial, chato. Imagine, então, como deve ser para quem passa a vida tendo que sorrir ou ficar triste exatamente na hora certa. A política muda de país para país, mas a novela da opinião pública passa sempre em jornal, rádio e TV. Na Inglaterra, por exemplo, o último capítulo teve a morte da Rainha Elizabeth II. Saiu de cena o Príncipe Charles e surgiu o Rei Charles III. Sério, sem choro, lendo um discurso provavelmente escrito por outra pessoa. E mesmo nesse mundo encantado, cheio de assessores, nem tudo é um conto de fadas: tem problema familiar nos jornais, Brexit, mudança de primeiro-ministro, além de casos como o de Antigua e Barbuda, ilha no Caribe, que nem esperou o funeral para começar a debater sua independência. Isso, sem falar em rancores históricos, como na Argentina, onde teve apresentador comemorando na televisão “a morte da velha de m…”. 

Por aqui, também existe Família Real, mas é diferente: para um membro da realeza influenciar na política brasileira, só sendo eleito. Aliás, como é o caso do deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-RJ), o primeiro a assumir um cargo político de relevância desde a proclamação da República, em 1889.

“BRASIL ESTÁ CONTINUANDO A ME SURPREENDER” 

Cheia de sotaque, foi assim que a russa, Olga Kovalenko, começou o seu vídeo “Gringa se surpreende com debate presidencial no Brasil”, que já tem 30 mil curtidas. No YouTube, ela conta como foi assistir TV no último dia 28: “No domingo, aconteceram os debates. E sabe o que mais me surpreendeu com isso? É que vocês têm debates para escolher o presidente! Tem candidatos e eles falam um com o outro. Até fazem perguntas!! E tudo isso, ao vivo!!!”. Segundo ela, na Rússia só alguns partidos têm propaganda nos intervalos comerciais e nada de debate. 

Por aqui, o horário eleitoral foi criado para deixar a disputa mais igualitária e vem sendo aperfeiçoado com o tempo. Este ano, vai até 29 de setembro, deixando muito programador de rádio e TV maluco porque cada partido tem sua data, horário e um erro pode acabar em multa. É candidato de todo tipo, desde o lutador de MMA, Wanderley Silva (PP-PR), subcelebridades como o ator pornográfico, Kid Bengala (UNIÃO-SP), até os desconhecidos que fazem de tudo para chamar a atenção: tem Mãe Mary De Xangô (MDB-SE), Gabigol da Torcida (PTB-RJ) e Velho Barreiro (PTB-MG). Apenas para citar três exemplos de como, além de sua função democrática, o horário eleitoral acaba sendo divertido. 

Para quem realmente corre por fora, haja criatividade para influenciar de alguma forma a opinião pública. Há quem venceria fácil para… melhor jingle político, como prova o clássico “Ey-ey-Eymael, um democrata cristão”. Isso para não citar o maior de todos, que precisou de poucos segundos em rádio e TV para ser o terceiro colocado nas eleições de 1994. Qual o seu nome? “Meu nome é Eneias”!