FIM

Essa foi a imagem que me veio à cabeça ao terminar de ler o livro Fim, da atriz Fernanda Torres.

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Há um tipo de pôster que aprecio bastante, ele é a reprodução de alguma imagem – fotos de família em geral – composta de outras pequenas imagens, diferentes entre si, que juntas formam a maior numa espécie de mosaico ou colcha de retalhos. Essa foi a imagem que me veio à cabeça ao terminar de ler o livro Fim, da atriz Fernanda Torres.

Atriz consagrada no teatro, cinema e televisão, tendo seu talento reconhecido com diversos prêmios, Fernanda agora se aventurou na seara da literatura. Seu romance de estreia trata de cinco vidas, na verdade cinco mortes e suas vidas interligadas, são os amigos Ciro, Álvaro, Neto, Sílvio e Ribeiro. Cinco senhores idosos que perpassam suas vidas no momento de suas mortes. Parece funesto, mas o livro é de um humor refinado e irônico e leve como uma crônica ou uma história contada a beira-mar num fim de tarde no Rio de Janeiro.

Contando com cinco capítulos principais, a narrativa de cada começa com o momento derradeiro de cada um, a percepção do momento da morte e a revisita a vida que teve, as histórias compartilhadas com os quatro amigos e com suas respectivas esposas e filhos. Dentro de cada capítulo há o ponto de vista dos coadjuvantes e como vivenciaram o mesmo episódio. Ao final do romance percebe-se que a história é uma só: como esses cinco companheiros de farra viveram os últimos 50 anos – de 1960 para cá – e como lidaram com casamento, constituição de família e toda a liberdade que essa época proporcionou com o sexo livre e as drogas.

O que torna o livro fascinante é o fato da autora tratar de vidas comuns, pessoas de classe média com sonhos, ambições, medos, colocando o ponto de vista de cada um e suas frustrações com a não realização dos desejos de juventude e a aceitação ou desilusão com o caminho que suas vidas percorreram devido as escolhas feitas no passado.

Essa facilidade de identificação e cumplicidade que cria com o leitor, faz com que vejamos os personagens como amigos próximos, como se suas vidas fossem nossas também e faz com que tenhamos a sensação de que estávamos lá junto com eles nas farras, nas separações e nas brigas.

Com um texto suave, leve, mesmo tratando de algo tão complexo como a vida e o fim dela, Fernanda Torres faz uma estreia brilhante como escritora. O domínio do texto, a informalidade que imprime e a forma como ela brinca com a estrutura narrativa, fazendo idas e vindas no passado das personagens, mostrando o que cada uma sentiu na mesma história sem se perder ou cair em clichês literários faz com que tenhamos mais uma grande autora no nosso já aclamado time de escritores brasileiros. Só temos a agradecer pelo livro e lhe dar as boas-vindas. Até a próxima.

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@kajotha