23.3 C
Rio de Janeiro
sábado, janeiro 11, 2025
InícioGastronomia“Manifesto Transpofágico” em nova temporada no Teatro Firjan Sesi Centro

“Manifesto Transpofágico” em nova temporada no Teatro Firjan Sesi Centro

Depois de formar filas enormes no Teatro Firjan Sesi Centro às segundas e terças-feiras de Abril e Maio e inúmeros pedidos para uma extensão da temporada, o espetáculo “Manifesto Transpofágico” retorna ao Rio de Janeiro no horário nobre.

Foto: Rai do Vale   Renata Carvalho encena sua pesquisa cênica sobre o corpo travesti. Responsável também pela dramaturgia, Renata sobe ao palco dirigida por Luiz Fernando Marques (Lubi) falando direto com a plateia, como um depoimento, mas também a envolvendo neste jogo cênico.

Um verdadeiro sucesso de público e crítica e reconhecida como uma grande auxílio contra a transfobia, a montagem, que estreou em São Paulo em 2019, realizou temporadas de sucesso em países como Itália, França, Espanha, Irlanda e Holanda, além de Uruguai, Chile e Estados Unidos.

 “Manifesto Transpofágico” é uma pesquisa cênica sobre o corpo travesti realizada por Renata Carvalho, que encena o solo e assina a sua dramaturgia, a montagem dirigida por Luiz Fernando Marques (Lubi) fala direto com a plateia, como um depoimento, mas também a envolve neste jogo cênico.

A transpofagia de Renata consiste em se alimentar das suas e dos seus – da sua transcestralidade – as digerindo e devolvendo em arte, literatura e/ou educação – Carvalho é graduanda em Ciências Sociais e estuda os corpos trans desde 2007. Neste manifesto, Carvalho convida o público a olhar incansavelmente para o seu corpo travesti e lhe apresenta a historicidade dele. Para isso, pensou em cada detalhe para que a plateia se sinta acolhida em absoluto – do título da montagem à narrativa, passando pela iluminação e o volume do som.

“A peça inicialmente teria o nome de ‘Eu travesti’, mas quando a escrevi estava sendo muito atacada por representar Jesus em ‘O evangelho segundo Jesus, Rainha do céu’ e também pelo lançamento do MONART (Movimento Nacional de Artistas Trans) e do ‘Manifesto Representatividade Trans’, com a luta pela pausa na prática do transfake”, relembra Renata sobre seus projetos. “Existia – e existe – uma dificuldade das pessoas em pronunciar a palavra travesti, e acreditei que a peça teria dificuldade para entrar em cartaz e ser noticiada. Então resolvi dar um nome mais teatral, mais digestivo, que soasse confortável aos ouvidos”, ironiza Carvalho, que também fundou o Coletivo T – primeiro coletivo artístico formado integralmente por artistas trans.

Além disso, a ideia da também diretora e ativista dos direitos humanos e LGBTQIA+, com foco nas pessoas trans e travestis, é, certamente, despertar a consciência do nosso grau de transfobia em 2023. “Qual é a imagem da travesti que todos nós ainda precisamos desconstruir? Onde cada um de nós estamos nessa estrutura transfóbica? A narrativa é construída para que nada abale a fragilidade cisgênera e desvie do tema. A música não é alta, as luzes na plateia acendem gradualmente.

O espetáculo é dividido em duas partes: na primeira, um corpo apenas de calcinha no palco narrando, dentre outras coisas, o devir travesti daquele corpo denunciando a construção social, criminal, patológica, sexualizada, religiosa e moral que permeia o imagético do senso comum sobre o que é ser uma travesti / ter um corpo travesti. Na segunda parte, a proposta provoca uma conversa ética e sincera com o público de e em 2023.

“O que o meu corpo travesti ainda carrega do que foi mostrado no palco? O que todes nós que estamos nesse teatro/espaço ainda carregamos daquela época? Por que ainda carregamos? É aberto ao público fazer qualquer pergunta, comentário, depoimento. Se quisermos juntes, este será o lugar onde podemos errar, e com isso, aprender”, acredita Carvalho.

Renata nomeia seu estudo de “Transpologia”, com o objetivo de denunciar a construção social, midiática, patológica, religiosa, criminal e hipersexualizante que permeia o imaginário do senso comum sobre pessoas trans/travestis. O imagético construído com o auxílio das artes com suas narrativas viciadas, estereotipadas e cheias de arquétipos com conteúdo transfóbico em suas apresentações e representações, a transfobia recreativa e o corpo risível das pessoas trans/travesti na arte e no humor, e por fim, a prática do transfake, que exclui corpos trans/travestis dos espaços de atuação e criação artística.

Falar de transfobia no país que mais mata transexuais e travestis pode ser desafiador, mas Renata Carvalho entende que sua missão em cena também é educacional. “Acho que o meu maior desafio é transformar essas pautas em arte, dar luz a algo que possa causar reflexão em quem assiste. Esta luta também é pedagógica. Como também estou no processo de aprendizagem, tento acolher toda pergunta/ comentário/depoimento não interrompendo para corrigir, por exemplo, e sem julgar a fala. O espetáculo propõe um diálogo ético e sincero sobre o tema, então preciso acolher essas falas, senão eu travo o jogo, as pessoas não abrem mais a boca e vão para casa com tudo internalizado”, considera.

Dedicada à escrita de textos, roteiros e livro, Renata segue em pesquisa para “Diáspora”, peça que, sob sua direção e dramaturgia, vai narrar a histórias de travestis e mulheres trans que saíram do Brasil sonhando com uma vida melhor na Europa. Está também escrevendo e dirigindo alunos da Universidade de Lille, na França, e ampliando o MONART para a Itália e Portugal. No streaming, poderá ser vista nas séries do Globoplay “As Five” (3º temporada) e “FIM”. E no cinema, no curta-metragem “Dinho”, de Leo Tabosa, e no longa-metragem “Salomé”, de André Antônio.

“Acredito que tenha conseguido tornar o debate público sobre a presença de corpos trans nas artes por estar nela há 27 anos. Por ter conseguido permanecer, produzir, errar, repetir, de ter a prática do fazer artístico e, dentro desse fazer, nasce a pesquisadora e transpóloga que verticaliza o tema. E na busca do meu eu, do meu ser travesti, encontrei meu coletivo, minha transcestralidade, meu ser político. Essas junções possibilitaram a consciência e o despertar para conceituar essas ausências. É a arte cumprindo seu papel”, finaliza Renata Carvalho.

SERVIÇO:
“MANIFESTO TRANSPOFÁGICO”
Temporada: 06 a 21 de julho / Quintas e sextas-feiras, às 19h
Local: Teatro Firjan SESI ( Av. Graça Aranha, nº 1 – Centro)
Ingressos: https://bileto.sympla.com.br/event/81149

Relacionadas

Parimatch Cassino online

Confira outros assuntos:

Mais Lidas