Um foragido que segue abastecendo no Rio
O ex-diretor da Abin e deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), condenado por participação em trama antidemocrática e foragido nos Estados Unidos, continuou pedindo reembolso de combustível à Câmara dos Deputados — mesmo após, segundo a Polícia Federal, ter deixado o Brasil no início de setembro.
As notas somam R$ 4,7 mil e foram todas emitidas em seu CPF, registradas no Rio de Janeiro, enquanto Ramagem votava remotamente em Brasília e já circulava no exterior. A legislação é clara: apenas abastecimentos feitos pelo próprio parlamentar podem ser reembolsados. O restante é irregularidade — ou eufemismo para desvio.
O duplo corpo do parlamentar: ausente no Brasil, presente na bomba de gasolina
De acordo com o O Globo, o gabinete entregou notas emitidas entre setembro e outubro. Incluiu, inclusive, abastecimento do dia da votação da PEC da Blindagem, quando Ramagem pressionou para manter o texto que dificultaria investigações contra parlamentares — ironia que dispensa comentários.

Em 16 de setembro, às 17h, uma bomba da Barra da Tijuca registrava abastecimento de R$ 250 em seu nome. Horas depois, ele votava contra requerimentos do PSOL. A PF afirma: Ramagem estava fora do país desde 9 ou 10 de setembro.
A retórica de autoproteção
Dois dias depois, já no exterior, ele admitiu à rádio Auriverde que a PEC poderia “proteger” integrantes do Centrão — e “a direita acusada de crime de opinião”. O discurso, embalado pela fuga, revela a dramaturgia típica do bolsonarismo: vitimização, distorção e negação da realidade.
Outubro repete o roteiro
Em 14 de outubro, Ramagem votava emenda de Chris Tonietto (PL-RJ) sobre “vida desde a gestação”, enquanto outro abastecimento era registrado no Recreio dos Bandeirantes.
No dia 22, às 18h, votou pela criação da chamada “bancada cristã”; no mesmo horário, mais gasolina na Barra da Tijuca — e mais pedido de reembolso.
A análise jurídica e o risco de punição
A advogada Izabelle Paes Omena de Oliveira Lima afirma: se o combustível não foi usado pelo parlamentar, a Câmara pode glosar as despesas. E, se houver dolo ou fraude, o caso chega ao Conselho de Ética.
Ramagem participava remotamente desde 9 de setembro, amparado por atestados médicos. Porém, a Mesa Diretora confirmou que ele nunca pediu autorização para exercer o mandato no exterior — mais um capítulo da confusão planejada.
Condenação, perda de mandato e o adeus administrativo
Na terça-feira (26), ao declarar o trânsito em julgado da condenação pela trama golpista, o ministro Alexandre de Moraes determinou a perda do mandato.
Os últimos registros de presença de Ramagem em Brasília datam de 9 de setembro, durante instalação da comissão da PEC da Segurança Pública, quando atacou o governo Lula com a retórica desgastada do bolsonarismo: acusou “benevolência com criminosos” — enquanto ele próprio fugia do país.
Naquele mesmo dia, pediu seu último reembolso em Brasília. Depois disso, em outubro, seu gabinete alugou um Corolla blindado por R$ 4,9 mil, mantido no Rio enquanto Ramagem já vivia sua vida de fugitivo no exterior.
