Moraes cobra explicações de Bolsonaro após desrespeito de Nikolas Ferreira

Ministro quer saber se o ex-presidente teve acesso ao aparelho usado por Nikolas Ferreira, prática proibida nas regras da prisão domiciliar.

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Alexandre de Moraes - © Antônio Augusto/Secom/TSE
Alexandre de Moraes - © Antônio Augusto/Secom/TSE
Atualizado em 27/11/2025 11:39

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), intimou a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro a explicar por que o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) utilizou um celular durante visita ao ex-mandatário, na sexta-feira (21), quando Bolsonaro ainda cumpria prisão domiciliar.

As regras impostas pelo ministro eram explícitas: nenhuma visita poderia portar dispositivos destinados ao ex-presidente, e Bolsonaro estava proibido de usar celular, acessar redes sociais ou enviar mensagens por terceiros. A cena gravada pela TV Globo, contudo, mostrou Nikolas com o aparelho na mão, ao lado do ex-presidente, reacendendo suspeitas sobre um possível descumprimento das determinações.

O que Moraes quer saber

Na intimação enviada nesta quarta-feira, Moraes foi direto: a defesa deve esclarecer se houve compartilhamento do aparelho, se Bolsonaro teve acesso a mensagens ou se utilizou o celular por meio do deputado — uma prática já conhecida no repertório bolsonarista de contornar regras.

A prisão domiciliar e a escalada judicial

No dia da visita, Bolsonaro ainda estava sob determinação de prisão domiciliar decretada pelo próprio Moraes. Três dias depois, na terça-feira (25), o STF declarou o trânsito em julgado da condenação do ex-presidente por tentativa de golpe de Estado. Desde então, ele cumpre prisão definitiva.

A intimação reforça a linha dura do ministro contra tentativas de burla, especialmente envolvendo figuras centrais do bolsonarismo, cuja estratégia política depende frequentemente da desinformação e da sugestão de que regras não lhes alcançam.

O episódio exibido no Jornal Nacional

As imagens divulgadas pelo Jornal Nacional mostram Bolsonaro e Nikolas conversando na área externa, enquanto o deputado manipula o celular na varanda. Para as autoridades, o simples uso do aparelho, dado o contexto, já levanta dúvida suficiente para justificar a apuração.

“Todas as visitas deveriam observar as determinações legais e judiciais previamente estabelecidas”, escreveu Moraes, destacando que a proibição de aparelhos eletrônicos não é um detalhe, mas sim uma medida para impedir comunicação clandestina — elemento central em investigações que envolvem articulação golpista.

O peso político do flagrante

Nikolas Ferreira, estrela do conservadorismo digital e ícone da nova geração do bolsonarismo, não é um visitante casual. Sua presença reforça o caráter simbólico do encontro: um gesto de lealdade entre líderes da extrema direita, mesmo sob vigilância judicial.

E justamente por isso, o uso de celular adquire outra dimensão: não apenas descumprimento de regra, mas oportunidade de interlocução política em território proibido.

O Brasil das visitas monitoradas

O episódio soma-se ao histórico de confrontos entre Moraes e o bolsonarismo, campo político que coleciona condenações por ataques à democracia, manipulação digital e tentativas de cooptação institucional.

Ao exigir explicações imediatas, o ministro envia um recado óbvio: nenhuma brecha será ignorada — muito menos quando se trata de quem tentou incendiar a República.