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Afeganistão: nova lei proíbe mulheres de falar em público e mostrar o rosto

A expectativa do governo é que as medidas evitem possíveis desvios de conduta

Sharbat Gula posa com a foto que a fez famosa
A afegã Sharbat Gula posa ao lado da foto que a fez famosa. Foto: Reprodução / Steve McCurry / BBC

Na quinta-feira (22), o governo afegão publicou uma nova lei que atinge especialmente as mulheres. Segundo o Talibã – principal grupo político do país – a intenção é aproximar a constituição aos valores da “sharia”, a lei islâmica. Conforme anúncio do Ministério da Justiça do Talibã, as novas medidas visam evitar possíveis desvios de conduta.

O ministério foi criado pelo Talibã em 2021, assim que os Estados Unidos deixaram o país após 20 anos de ocupação. Segundo a agência de notícias France-Presse, essas leis compõem um documento de 114 páginas e 35 artigos e regulamentam a conduta pessoal dos afegãos para a “propagação da virtude e prevenção do vício”.

A lei estabelece proibições já conhecidas no país, como: adultério, homossexualidade, a prática de jogos de azar, além da criação ou visualização de imagens de seres vivos em computador ou celular. Entretanto, a nova medida se tornou ainda mais restritiva no que diz respeito ao direito das mulheres:

  • As afegãs devem “cobrir completamente seus corpos na presença de homens que não pertençam à sua família”. No caso, elas também devem cobrir seus rostos com uma máscara.
  • “Ao saírem de casa por necessidade”, elas não podem ter suas vozes ouvidas em público, mesmo que em expressões artísticas, como música e poesia.
  • Motoristas são proibidos de colocar música para tocar, transportar mulheres viajantes sozinhas e misturar homens e mulheres que não sejam parentes no veículo.

As medidas também abrangem os homens, que devem evitar usar barba curta, além da proibição de amizades entre os afegãos e pessoas que não sejam muçulmanas.

Em caso de infração, as penalidades começam com advertências, multas, e vão se tornando mais duras. Neste caso, a pessoa pode ser presa preventivamente por até três dias e, em caso de reincidência, pode ser levada à Justiça.

Segundo relatório publicado em julho pela Organização das Nações Unidas (ONU), as novas medidas ilustram o progressivo endurecimento do regime dos Talibã.

A menina da foto

O Afeganistão fica na Ásia e faz fronteira com seis países, entre eles Paquistão, Irã e China. A imagem que ilustra esta matéria é da afegã Sharbat Gula, mundialmente conhecida como “a menina dos olhos verdes”, que em 1985 foi capa da revista National Geographic. Na época, ela vivia como refugiada no Paquistão e sua história ilustra o sofrimento do povo afegão, especialmente para as mulheres.

Ela retornou a sua terra natal por volta de 2017, mas assim que o Talibã voltou ao poder – em 2021 – pediu a ajuda de organizações humanitárias para deixar o país. No mesmo ano, ela recebeu asilo na Itália.