O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou nesta segunda-feira (6) que teve uma “conversa muito boa” com o presidente Lula, abrindo a possibilidade de um encontro entre os dois “tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos”. A declaração ocorre no auge da crise diplomática provocada pelo tarifaço imposto por Washington a produtos brasileiros, medida adotada em retaliação ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Trump Elogia Lula e fala em ‘química excelente’
Em publicação nas redes sociais, Donald Trump afirmou que o diálogo com Lula foi “positivo e construtivo”, ressaltando que ambos discutiram principalmente economia e comércio bilateral. O norte-americano disse que “gostou da ligação” e que os países “irão muito bem juntos”.
“Ele parece um cara muito legal, ele gostou de mim e eu gostei dele. E eu só faço negócio com gente de quem eu gosto. Por 39 segundos, tivemos uma ótima química, e isso é um bom sinal”, disse Trump durante discurso na Assembleia Geral da ONU, em Nova York.
Fontes do Itamaraty confirmaram que a conversa durou cerca de 30 minutos e foi realizada por videoconferência. O diálogo foi acompanhado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, pelo ministro da Fazenda Fernando Haddad e pelo chanceler Mauro Vieira, que descreveram o tom como “amistoso e direto”.
Crise diplomática reacende debate sobre soberania e comércio
A aproximação entre os dois presidentes ocorre em meio à tensão provocada pelo aumento de 50% nas tarifas sobre produtos brasileiros, anunciado por Trump em julho. Em carta oficial, o republicano justificou a medida como resposta ao “tratamento injusto” dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, seu aliado político, no julgamento conduzido pelo STF.
O gesto gerou forte reação do governo brasileiro. Em nota, o Palácio do Planalto afirmou que “a independência do Poder Judiciário é inegociável” e que “nenhum governo estrangeiro pode interferir em processos de competência exclusiva da Justiça brasileira”.
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Segundo o Ministério da Fazenda, o tarifaço ameaça setores estratégicos da economia nacional, especialmente agronegócio, aço e manufatura, com impacto direto nas exportações e no emprego industrial.
“O diálogo foi positivo. Há disposição para reconstruir pontes e restabelecer o equilíbrio comercial”, afirmou Fernando Haddad, em entrevista após a reunião.
Encontro em preparação e jogo político global
O governo Lula busca transformar o gesto diplomático em reaproximação pragmática com Washington, sem abrir mão da crítica à política protecionista de Trump. Fontes do Itamaraty indicam que está sendo negociado um encontro presencial entre os dois presidentes durante uma cúpula na Ásia, ainda neste trimestre.
Para analistas, o movimento reflete uma tentativa de Lula de reposicionar o Brasil como interlocutor independente, mantendo relações equilibradas com Estados Unidos, China e União Europeia. Entretanto, a postura imprevisível de Trump pode transformar o gesto de cortesia em instrumento político de pressão comercial.
O episódio também evidencia como a geopolítica da desinformação e do populismo continua interferindo nas relações internacionais. Ao defender Bolsonaro, Trump reativa seu eleitorado mais radical, enquanto Lula busca preservar a imagem de estabilidade institucional diante da pressão externa.
Contexto histórico e implicações
As relações entre Brasil e Estados Unidos sempre oscilaram entre cooperação econômica e tensões políticas. Durante os governos de Barack Obama e Dilma Rousseff, o escândalo da espionagem da NSA já havia abalado a confiança bilateral. Agora, o embate em torno de Bolsonaro repete o padrão: divergências ideológicas interferindo nas relações comerciais.
Especialistas em diplomacia ouvidos pela imprensa norte-americana afirmam que Lula tenta transformar a crise em oportunidade para reafirmar a autonomia da política externa brasileira, alinhada a valores democráticos e progressistas.
Enquanto isso, setores empresariais brasileiros pressionam por um acordo rápido que evite perdas bilionárias nas exportações.
Perspectivas para o comércio e a política internacional
Caso as negociações avancem, a reunião entre Trump e Lula pode redefinir o rumo das relações entre as duas maiores democracias do continente. Um entendimento sobre tarifas agrícolas e industriais abriria espaço para novos acordos comerciais, fortalecendo o Mercosul e reduzindo a dependência do Brasil de mercados asiáticos.
Contudo, diplomatas alertam que Trump mantém postura imprevisível e tende a politizar a diplomacia conforme seu interesse eleitoral. O desafio para Lula será equilibrar pragmatismo econômico com defesa firme da soberania nacional e dos direitos democráticos, princípios centrais de sua política externa.



