Berlim – 22 de janeiro de 2025 – A filósofa Susan Neiman, diretora do Einstein Forum na Alemanha, tem surpreendido leitores com seu livro “A Esquerda Não É Woke”. A obra, publicada em vários idiomas, analisa a relação entre a esquerda e o conceito de “woke”, destacando como essa confusão teria influenciado eventos políticos globais, como a vitória de Donald Trump em 2016. Recentemente Neiman concedeu entrevista a BBC News Mundo e explicou os conceitos e suas diferenças.
Neiman argumenta que ser de esquerda e ser woke são ideias fundamentalmente opostas. Em entrevista, ela explicou que o livro surgiu após conversas com pessoas de diferentes países, que relataram desconforto em se identificar como parte da esquerda devido a discursos associados ao movimento woke.
Esquerda universalista e diversidade
Neiman defende uma visão universalista da esquerda e critica o foco excessivo na diversidade como principal valor. Segundo ela, embora a diversidade seja importante, não deve ser tratada como prioridade absoluta. “É um insulto às mulheres contratá-las apenas por serem mulheres”, afirmou. Ela também mencionou que esse enfoque gera equívocos que enfraquecem os ideais tradicionais da esquerda.
Para a autora, a confusão entre esquerda e woke resulta da incorporação de valores como a defesa dos oprimidos, mas em uma abordagem exagerada. “Minha forte sensação é que a diversidade é um bem — mas não o bem supremo”, destacou.
Debate na América Latina
O livro gerou discussões intensas no Chile e no Brasil, onde foi recebido com entusiasmo por leitores que se identificaram com as críticas de Neiman. Ela observou que os governos de Lula e Gabriel Boric, por formarem coalizões amplas, acabaram adotando agendas vistas como excessivamente woke.
Neiman se mostrou surpresa com a relevância do debate em temas como banheiros com base em gênero na América Latina. Para ela, questões desse tipo desviam a atenção de temas mais urgentes. “Quem se importa? É um tema inventado, mas tem sido muito utilizado politicamente”, pontuou.
Histórico do termo woke
Neiman traçou uma linha do tempo do termo woke, originado na década de 1930 no contexto de denúncias contra o racismo por músicos de blues afro-americanos. Na década de 1990, o termo politicamente correto ganhou força, mas foi adotado ironicamente por socialistas antistalinistas antes de ser apropriado pela direita.
A filósofa concluiu que o crescimento do movimento woke ocorreu em parte como reação à geração que viu em Barack Obama um líder inteligente e competente, algo considerado normal até a ascensão de Trump.
Entenda o caso: Esquerda e woke na visão de Susan Neiman
- Autora: Susan Neiman, diretora do Einstein Forum, Alemanha.
- Livro: “A Esquerda Não É Woke”, lançado globalmente.
- Tese central: Esquerda e woke têm conceitos opostos.
- Impacto político: Confusão teria ajudado na vitória de Trump em 2016.
- Repercussão: Debate em países como Brasil e Chile.
- Histórico do termo: Origem nos anos 1930 e evolução ao longo do tempo.