Hospitalizado, Papa Francisco critica neoliberalismo e crise global

Roma – Mesmo hospitalizado no Hospital Gemelli, em Roma, há 18 dias, Papa Francisco segue liderando a Igreja Católica e emitindo mensagens sobre questões globais. Após enfrentar crises respiratórias em 22 e 28 de fevereiro, ele apresentou sinais de melhora e segue sob monitoramento médico. Na última terça-feira (4 de março), o Vaticano divulgou uma mensagem escrita pelo pontífice em 26 de fevereiro, onde ele critica o neoliberalismo e a crise da governança global.

Papa alerta para os desafios da “policrise” global

Na mensagem, dirigida aos participantes da assembleia geral da Pontifícia Academia para a Vida, Francisco aponta que a humanidade enfrenta uma “policrise”, combinação de guerras, mudanças climáticas, crises energéticas, epidemias, migração em massa e avanço tecnológico. Segundo ele, a tecnologia, sozinha, não resolverá esses desafios, e a resistência à mudança pode levar a erros já cometidos no passado, como ocorreu durante a pandemia da Covid-19.

Para Francisco, a solução exige uma nova reflexão sobre o mundo e uma revisão crítica do modelo atual. Ele defende que a sociedade precisa abandonar certezas rígidas e ouvir as contribuições científicas para evitar decisões baseadas no medo e na desinformação.

Críticas ao neoliberalismo e à governança global

O pontífice condenou a desregulamentação econômica e o neoliberalismo, argumentando que esses modelos impõem a “lei do mais forte” e desumanizam a sociedade. Ele reforçou que apostar nesses sistemas significa reforçar desigualdades e exclusão social.

Além disso, Francisco expressou preocupação com o enfraquecimento das organizações internacionais. Segundo ele, essas instituições estão cada vez mais irrelevantes por causa de interesses particulares e nacionalistas. Em referência à encíclica “Fratelli Tutti”, o papa defendeu a criação de um multilateralismo mais eficaz, focado no bem comum, na erradicação da fome e na defesa dos direitos humanos.

Diálogo entre ciência e fé

Francisco elogiou o trabalho da Pontifícia Academia para a Vida por sua abordagem sinodal, que incentiva o diálogo entre diferentes áreas do conhecimento. Ele também citou o jesuíta e paleontólogo Pierre Teilhard de Chardin, que buscou integrar ciência e fé, enfrentando resistência na época.

Ainda na mensagem, o papa relembrou sua encíclica “Laudato Si’”, destacando a necessidade de revisitar o conceito de “criação contínua” para entender os desafios ambientais e sociais atuais.

Ao encerrar sua declaração, Francisco confiou os trabalhos da Pontifícia Academia para a Vida à intercessão de Maria, pedindo que ela guie a humanidade na busca por “um novo céu e uma nova terra” (Ap 21,1).