Tbilisi – O ex-jogador de futebol Mikheil Kavelashvili assumiu a presidência da Geórgia neste sábado, gerando forte reação da oposição, que considera sua eleição um golpe nas aspirações do país à União Europeia (UE) e uma vitória para a influência russa. Kavelashvili foi eleito com facilidade, apoiado pelo partido governista Sonho Georgiano, que controla o colégio eleitoral desde o fim das eleições diretas em 2017.
A oposição acusa o governo de manipular as eleições parlamentares de outubro com ajuda de Moscou e boicota as sessões do Parlamento desde então. A tensão aumentou após o anúncio da suspensão das negociações para a adesão à UE, em novembro, provocando protestos em massa na capital Tbilisi.
Contexto político
O Sonho Georgiano, partido no poder, promete equilibrar as relações com a UE e a Rússia. Contudo, opositores apontam para uma crescente inclinação pró-Moscou.
Fundado pelo bilionário Bidzina Ivanishvili, o partido aprovou leis polêmicas, como a exigência de registro de organizações com mais de 20% de financiamento estrangeiro, comparada a normas russas para restringir dissidências.
A União Europeia, que havia concedido à Geórgia o status de candidata à adesão em 2023, suspendeu o apoio financeiro e as negociações em junho, citando violações às recomendações do bloco, incluindo a aprovação dessas leis.
Protestos em Tbilisi
Desde o anúncio da suspensão das conversas com a UE, milhares de manifestantes se reúnem diariamente em frente ao Parlamento. Conflitos com a polícia são frequentes, com o uso de canhões de água, gás lacrimogêneo e prisões em massa.
Dezenas de jornalistas relatam agressões, atribuídas a gangues supostamente apoiadas pelo governo, o que o Sonho Georgiano nega. Salome Zourabichvili, presidente pró-ocidente até segunda-feira, condenou a repressão e anunciou que permanecerá no cargo até novas eleições.
Quem é Mikheil Kavelashvili?
Aos 53 anos, Kavelashvili tem um passado de destaque no futebol, com passagens pelo Manchester City e clubes da Suíça. Tornou-se deputado em 2016 pelo Sonho Georgiano e, em 2022, fundou o movimento aliado O Poder do Povo, conhecido pela retórica anti-ocidental.
Ele participou da elaboração da lei que restringe o financiamento estrangeiro de ONGs, criticada por organizações internacionais como uma ameaça à liberdade de expressão.
Declarações e humor em meio ao caos
Manifestantes afirmam que o novo presidente representa interesses russos e prometeram intensificar os atos. Cartazes com dizeres como “Somos filhos da Europa” ilustram a resistência. “Se o governo quer ir para a Rússia, que vá. Nós ficaremos aqui”, disse a manifestante Kato Kalatozishvili.
Entenda o caso: Geórgia e a crise política
- Eleição de Kavelashvili: Apoiado pelo Sonho Georgiano, ex-jogador assume a presidência.
- Tensões com a UE: Conversas de adesão suspensas após leis polêmicas.
- Protestos em Tbilisi: Milhares exigem eleições justas e criticam a influência russa.
- Repressão policial: Confrontos incluem prisões e ataques a jornalistas.