Controles de preços sem acordo com empresariado gera polêmica na Argentina

Buenos Aires, 20 out (EFE).- O governo da Argentina publicou nesta quarta-feira no Diário Oficial um decreto que estabelece controles de preços em mais de 1.400 alimentos e produtos de consumo em massa por 90 dias para frear a inflação, medida que causou polêmica por não contar com o apoio de diversos grupos empresariais.

Em declarações à rádio “LT9”, o presidente da Câmara Argentina de Comércio e Serviços (CAC), Mario Grinman, disse nesta quarta-feira que este regulamento causará “escassez”.

“Haverá escassez. Quando um produtor fica sem o produto que já fabricou, se isso causar um prejuízo, ele não voltará a fabricar, não tem jeito”, advertiu Grinman.

Para o chefe do CAC, os controles de preços “nunca funcionaram”, pois constituem, na sua opinião, em “uma aspirina que acalma a dor momentânea de uma doença muito complicada”.

“Se essa fosse a solução para conter a inflação, em vez de usá-la durante 90 dias, seria usada durante quatro ou cinco anos, se é tão fácil. Mas não funciona”, declarou, acrescentando que nesta ocasião os empresários “não podiam concordar em nada” com o governo, que impôs “tudo”.

O governo do presidente Alberto Fernández decidiu na terça-feira congelar os preços de um total de 1.432 produtos durante três meses, contando a partir de 1º de outubro, a fim de conter a inflação, um dos principais problemas macroeconômicos da Argentina.

A medida foi adotada após uma reunião com empresários do setor da produção e comercialização de alimentos e outros produtos de consumo em massa, uma reunião na qual, segundo o secretário do Comércio Interior, Roberto Feletti, houve “bastante consenso”.

Em resposta às palavras de Grinman, o próprio Feletti escreveu no Twitter nesta quarta-feira que o governo lamenta “este tipo de ameaças, que não são para um governo ou uma política, mas para o povo argentino”.

“Nem ameaças aos argentinos nem desabastecimento. Viemos de uma época muito difícil e estamos tentando avançar por todos nós, fazendo a nossa parte para que a Argentina se torne, definitivamente, social e economicamente sustentável. Estaremos sempre abertos ao diálogo e à negociação, mas não nestes termos”, escreveu Feletti.

De acordo com os últimos dados oficiais disponíveis, a persistente alta inflação da Argentina cresceu 52,5% em setembro em relação ao mesmo período do ano passado e acumulou nos primeiros nove meses do ano um aumento de 37%.

Em particular, para os alimentos e bebidas em conjunto, foi registrado um aumento de 53,4% em setembro em comparação com o mesmo período de 2020 e uma alta acumulada de 36,6% neste ano. EFE