Al Gore: "Natureza está levantando sua voz como jamais vimos"

Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos e um dos mais notórios ativistas ambientais, advertiu em entrevista exclusiva à Agência Efe que "a natureza está levantando sua voz como nunca antes" e, portanto, é necessário concluir a cúpula climática COP26 com "maior compromisso" por parte dos governos mundiais.

Guillermo Garrido.

Edimburgo (R.Unido), 29 out (EFE).- Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos e um dos mais notórios ativistas ambientais, advertiu em entrevista exclusiva à Agência Efe que “a natureza está levantando sua voz como nunca antes” e, portanto, é necessário concluir a cúpula climática COP26 com “maior compromisso” por parte dos governos mundiais.

Albert Arnold Gore, de 73 anos, que se tornou um astro da causa verde desde o lançamento de seu livro e documentário “Uma Verdade Inconveniente” (2006), afirma que “ainda é possível” evitar que as temperaturas subam mais de 1,5 grau em relação aos níveis pré-industriais, como em 2015 os signatários do Acordo de Paris se comprometeram a fazer.

A tarefa é complicada. Convencer 195 países a chegar a um acordo seria sempre difícil, mas ainda temos uma boa chance de sucesso”, disse o cofundador da ONG Climate Reality Project.

Gore, que participará da COP26, é “otimista”, embora tenha frisado que “não resta muito tempo”, e portanto “precisamos sair da COP de Glasgow, no Reino Unido, realizada de 31 de outubro a 12 de novembro, com um compromisso maior e mais firme entre todas as nações”.

SIGNIFICADO DA CÚPULA DE GLASGOW.

Segundo Gore, a cúpula britânica “é a mais importante desde o Acordo de Paris em 2015”, que obriga as nações a “rever seus compromissos e torná-los mais ambiciosos” em Glasgow para a realização dos objetivos climáticos.

Aquele pacto, vinculativo, visa manter o aumento médio da temperatura global abaixo de 2 graus Celsius, e prosseguir os esforços para limitar o aumento a 1,5 grau.

As medidas atuais das nações signatárias para fazê-lo, chamadas de “Contribuições Determinadas Nacionalmente”, excedem esse limite, embora alguns dos signatários, como Gore lembrou, tenham atualizado seus compromissos no período que antecedeu a cúpula.

Os Estados Unidos, após seu retorno ao Acordo de Paris neste ano, anunciaram uma redução de 50% nas emissões de carbono até 2030 em comparação com 2005, mas sem um compromisso oficial de uma economia descarbonizada até 2050.

A China, maior emissor mundial de gases de efeito estufa – 25% – pretende atingir o pico de suas emissões de carbono até 2030 e atingir a neutralidade de carbono até 2060. Já a União Europeia se comprometeu a reduzir as emissões de gases de efeito estufa em pelo menos 55% até 2030 em relação ao nível de 1990.

Graças, entre outras coisas, a tais anúncios, Gore espera ver “progressos significativos” na cúpula de Glasgow.

CONSEQUÊNCIAS JÁ ESTÃO AQUI.

“A mãe natureza está levantando a voz de forma mais poderosa do que jamais vimos na história”, disse Gore, que chama a atenção para os “eventos climáticos extremos mais destrutivos e mais frequentes” que o mundo experimentou neste ano.

O acúmulo de calor e a interrupção do ciclo da água causam fenômenos como “incêndios, enchentes e secas” que ocorreram no verão na Europa, além de “elevação do nível do mar”, ressaltou o político e ativista americano.

Como resultado, as pessoas fogem de suas casas como “refugiados climáticos”, que podem se tornar “vítimas da xenofobia”, como “aconteceu nos países do Leste Europeu”, acrescentou.

De acordo com o Centro de Monitoramento de Deslocados Internos, havia 40,7 milhões de pessoas deslocadas em 2020, dos quais 30,7 milhões deixaram suas casas devido a condições climáticas extremas e adversas, embora em meados do século o Instituto de Economia e Paz estime que o número subirá para 1,2 bilhão.

FIM DOS COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS.

“Temos que parar de usar nossa atmosfera como lixeira”, declarou Gore, além de advertir sobre as “partículas poluentes” dos combustíveis fósseis, cuja inalação mata, segundo ele, “de 7 milhões a 9 milhões de pessoas ao redor do mundo a cada ano”.

A solução é parar de “queimar combustíveis fósseis” e “desenvolver seus substitutos limpos e alternativos”, o que já está “acontecendo”, destacou.

Noventa por cento da eletricidade gerada pelas novas instalações no ano passado, segundo Gore, “é oriunda de energias renováveis – principalmente energia solar e eólica – e continua a ficar mais barata”.

Para ele, a economia do futuro deve “priorizar um setor florestal sustentável, uma agricultura regenerativa e o desenvolvimento de uma economia circular” que utiliza “o fluxo de resíduos como matéria-prima”.

Gore vê a necessidade de “estabelecer uma meta” até 2030 para reduzir “as emissões globais em 50%”, um empreendimento que “é definitivamente realizável e criará um mundo melhor, mais limpo, mais próspero e mais justo”. EFE