Chile prorroga por 15 dias militarização de área de conflito mapuche

Santiago, 9 nov (EFE).- O Congresso do Chile aprovou nesta terça-feira o pedido do presidente do país, Sebastián Piñera, de estender por 15 dias a militarização de uma área no sul do país onde há décadas existe um conflito territorial com os índios mapuche, que se agravou nos últimos tempos.

Tanto a Câmara dos Deputados quanto o Senado aprovaram a ordem oficial enviada pelo presidente, que começou a vigorar por 15 dias em 12 de outubro por decreto executivo e foi prorrogada pelo mesmo período e pelo mesmo meio no dia 26 do mesmo mês, mas agora precisava da aprovação do Congresso para ser mantida.

A medida, conhecida como uma exceção constitucional de estado de emergência, ficará em vigor até 26 de novembro e permite que as forças armadas colaborem com polícia em operações.

A macrozona de aplicação abrange as províncias de Bío-Bío e Arauco, na região de Bío-Bío, e as províncias de Malleco e Cautín, em La Araucanía, áreas que recentemente experimentaram uma onda de violência com ataques frequentes a máquinas agrícolas e terras, bloqueios de estradas, greves de fome por prisioneiros indígenas e tiroteios com vítimas.

O governo argumenta que a medida é necessária devido ao aumento, naquela parte do país, dos atos de violência ligados a tráfico de drogas, terrorismo e crime organizado.

Muitos desses episódios fazem parte do conflito mapuche, que coloca o Estado chileno contra o principal grupo indígena do país, que reivindica as terras que habitam há séculos e que agora pertencem em sua maioria a grandes empresas agrícolas e florestais.

Na ordem executiva, o presidente chileno defendeu que era necessário prorrogar a declaração inicial em vista da violência contínua na área. Ele também frisou que, enquanto esta medida esteve em vigor, diminuíram quase pela metade os ataques incendiários em comparação com as semanas anteriores.

Durante o mês em que a medida esteve em vigor, entre outros incidentes violentos, um membro da comunidade mapuche foi morto em uma operação policial e uma escola foi incendiada.

Além disso, um vídeo postado em redes sociais mostrava cerca de 50 homens encapuzados armados, identificados por sinais como a organização indígena Weichan Auka Mapu, ameaçando combater as forças de segurança “com armas” se elas não deixarem o território.

A Câmara dos Deputados aprovou a prorrogação da medida nesta terça-feira por um placar de 76 votos a favor, 59 contra e 7 abstenções, enquanto o Senado a validou por 21 votos a favor, 17 contra e 2 abstenções.

Parlamentares contrários à medida argumentaram que a área tem sofrido com negligência constante e que a militarização não resolve os problemas.

Já aqueles que votaram a favor defenderam a militarização como a única ferramenta para manter a calma diante do esgotamento e saturação dos Carabineiros (polícia militar) em lidar com a violência na área.

A medida tem sido criticada desde o início por organizações indígenas e pela oposição ao governo Piñera, que argumentam que é uma forma de inflamar ainda mais o conflito.

A situação atual provocou várias reações, como a do Escritório para a América do Sul do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (OHCHR), que lamentou a recente morte do membro da comunidade mapuche e expressou sua preocupação com a militarização decretada pelo governo. EFE

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