Situação dos deslocados na América é cada vez mais complexa, sengo ACNUR

Luis Ángel Reglero.

Madri, 9 nov (EFE).- A situação das pessoas deslocadas por diferentes causas na América “está se tornando mais complexa”, afirmou à Agência Efe o alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), Filippo Grandi.

Depois de participar de um evento em Madri para comemorar o 70º aniversário da convenção de 1951 que criou o Estatuto dos Refugiados, o italiano abordou em entrevista o problema da migração em regiões como a América.

Segundo Grandi, a América Latina é “uma área muito complicada” porque, além das crises na Venezuela e na América Central, existem outras como as do Haiti e da Nicarágua.

Existem cerca de 16 milhões de refugiados em outros países e pessoas deslocadas internamente no próprio país, na América. Mais de cinco milhões são venezuelanos, um número apenas inferior ao dos sírios, que deixaram o seu país para outros do continente ou da Europa, enquanto a América Central tem perto de um milhão de pessoas deslocadas em diferentes países.

ABORDAGEM CONJUNTA.

Muitos dos deslocados dentro dos seus próprios países ou em migração para outros países fogem da violência, como a provocada por vários grupos, incluindo os que estão por trás do tráfico de drogas, observou o chefe do ACNUR.

Isto força muitos a se juntarem a caravanas que tentam chegar aos Estados Unidos através do México. Em outros casos, o fenômeno se deve à situação política, como na Venezuela e, cada vez mais, na Nicarágua, onde as eleições do domingo passado, que deram a Daniel Ortega um novo mandato, que não é reconhecido por grande parte da comunidade internacional, podem levar mais migrantes para países vizinhos, como a Costa Rica.

O deslocamento também é motivado pela falta de trabalho devido à crise da pandemia de covid-19, em casos como o Brasil.

A combinação de todos estes fatores significa que na América Latina existe um cenário “realmente complicado”, cuja solução não é fácil, pois é necessário chegar à raiz do problema, advertiu.

“Uma abordagem regional, não país por país”, ajudará a resolver este problema, segundo o alto comissário.

Como exemplo, ele citou o Quadro Regional de Proteção e Soluções, uma iniciativa pioneira desenvolvida pelo ACNUR na América Central, que está recebendo apoio crescente de países da região e de doadores como Espanha e Estados Unidos.

Este quadro contribui para tornar os sistemas nacionais de asilo eficientes, para estabelecer mecanismos de acolhimento adequados nos países de trânsito, para melhorar as condições nos países de origem para um regresso seguro, vias de migração seguras e ordenadas, e para uma resposta regional mais eficaz aos refugiados, baseada na solidariedade e na partilha de responsabilidades na região.

Grandi comentou que os países da região precisam agir em conjunto em casos como o do Haiti, a fim de ajudar verdadeiramente os deslocados.

Muitos haitianos são expulsos sem uma avaliação para caso necessitem proteção internacional, e acabam sendo forçados a voltar à força apesar de fugirem de um país onde a violência, a pobreza e catástrofes naturais, como o terremoto de agosto, impactam milhões de pessoas.

MIGRANTES CLIMÁTICOS.

Grandi está na Europa neste momento, enquanto a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26) está sendo realizada em Glasgow. Todos sabem que são necessárias soluções para a emergência climática, segundo o alto comissário, ao acrescentar que isso é uma causa adicional para crises migratórias, forçando milhares de pessoas a abandonar as suas casas.

A América Latina é considerada uma das áreas mais vulneráveis, com o maior risco de “migrantes climáticos”, como têm sido chamados já há algum tempo.

Grandi adverte para os efeitos não só das catástrofes naturais, mas também dos efeitos indiretos, uma vez que as mudanças climáticas reduzem os recursos e nos países pobres as comunidades mais necessitadas começam a lutar entre si, como por exemplo no Sahel, no África, e esta luta gera deslocamentos forçados.

O alto comissário mencionou que, embora a convenção que comemora o seu 70º aniversário não seja jovem, é “muito forte” porque “salva vidas” e é respeitada até mesmo pelos países que não a assinaram.

De acordo com o relatório do ACNUR para 2020, há mais de 82 milhões de refugiados e pessoas deslocadas internamente em todo o mundo, o que representa um aumento de 4% em relação ao ano anterior. EFE