"Revolução envelheceu" e novas gerações pensam diferente, diz opositor cubano

Nerea Díaz.

Madri, 18 nov (EFE).- “A minha geração não bebeu a mesma compota estranha que os nossos avós, não fez efeito em nós”, declarou o líder opositor cubano Yunior García em entrevista à Agência Efe em Madri nesta quinta-feira, na qual falou sobre os jovens que se mobilizam contra o governo para exigir mudanças em Cuba e para os quais as redes sociais têm sido um ponto de encontro onde podem “aplaudir e reivindicar”.

García, um ator de 39 anos, deixou Havana e desembarcou surpreendentemente na quarta-feira passada no aeroporto de Barajas, em Madri, acompanhado pela esposa e com um visto de turismo de 90 dias, ajudado por pessoas e organizações da Espanha e do seu país, das quais não quis dar detalhes devido a possíveis represálias.

A Efe entrevistou o artista cubano após uma entrevista coletiva muito concorrida convocada na capital espanhola pela organização internacional Prisioners Defenders, na qual ele confessou que estava cansado e que tudo relacionado à viagem aconteceu muito rápido.

No entanto, reconheceu que a viagem era necessária, pois tanto ele como a família estavam sob pressão, e que em tempos recentes mal tinha conseguido dormir.

Consciente das diferenças entre gerações em Cuba, García comparou as ideias do “regime” cubano a uma “compota estranha” que os seus avós beberam e que não afeta a juventude de hoje.

O que foi inicialmente, segundo o líder opositor cubano, uma “bela revolução”, agora é “uma revolução que envelheceu e se tornou o mesmo que eles queriam destruir”.

Por esta razão, García pede ao povo cubano que “tome consciência e nunca mais permita abusos deste tipo, perca o medo e ponha fim ao terror infundado”.

O artista valoriza um elemento muito importante para as novas gerações cubanas, o acesso à internet e às redes sociais, o que permitiu realizar aquilo que chamaram de “revolução dos aplausos”, uma vez que as redes se tornaram um lugar “onde podem nos aplaudir”.

“NÃO SOU UMA ESTÁTUA DE BRONZE”.

Em resposta aos que o questionam por ter deixado Cuba, o ator afirmou que gostaria de ser mais corajoso e que é humano, não a “estátua de bronze” que alguns acreditam.

Na Espanha, o dissidente cubano disse que se sente útil para poder fazer algo real pelo país natal sem pensar em mais nada e que agora está mais perto de conseguir.

Ao falar sobre o medo, Yunior García assumiu que “quando se tem tanto medo, perde-se subitamente todo o medo” e que “quando se pensa que não pode sentir mais, ele vem em outro dia, pior do que antes”.

FAMÍLIA COMO PILAR.

García disse que perde o medo graças à força dada pela esposa e pela sogra, que em um momento de crise o aconselhou a “levantar a cabeça”, pois sempre estarão juntos, “sob qualquer circunstância”.

Quando fala da família, o ator não consegue deixar de pensar se algo acontecerá com os parentes, embora isso seja algo que tente esquecer. Mas opositor acredita que Cuba não pode ser “desumanizada” para prejudicá-lo.

Sobre o filho que ficou em Cuba, García deseja que ele não tenha de passar por aquilo que a sua geração sofreu com uma “terrível doutrinação” e que espera que se torne “um verdadeiro revolucionário, no sentido real da palavra”. EFE

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