"Talvez não estivesse preparado", diz mentor de protesto fracassado em Cuba

Havana, 17 nov (EFE).- O dramaturgo Yunior García Aguilera, principal mentor da manifestação de dissidentes marcada para o último dia 15 em Cuba em prol de uma mudança política no país, reconheceu que não aguentou as pressões que sofreu nos dias anteriores ao protesto, que acabou não acontecendo.

García, de 39 anos, chegou de surpresa à Espanha nesta quarta-feira e contou que foi superado “pelas horas sem dormir, o assédio, a falta de comunicação, as ameaças”, em referência à campanha de assédio físico e midiático que sofreu nos dias anteriores à manifestação, quando com grandes grupos de simpatizantes do governo cubano chegaram a cercar sua casa em Havana.

“Talvez eu não estivesse preparado para isso”, disse García Aguilera em uma transmissão pelo Youtube feita em uma residência que lhe foi oferecida por uma organização espanhola e sobre a qual não deu mais detalhes.

O líder opositor garantiu que a decisão de deixar Cuba foi exclusivamente dele e que havia solicitado com antecedência um visto para viajar à Espanha após receber ameaças de prisão por parte das autoridades cubanas.

García criticou o governo cubano e seus apoiadores, que reagiram com zombaria às notícias de sua saída do país.

“Eles comemoraram minha partida como uma vitória. O que ganhou foi o terror. Mas quanto tempo esse terror pode vencer?” questionou.

Ele também lembrou que membros do Archipiélago – o coletivo que convocou a manifestação de 15 de novembro -, como Daniela Rojo, ainda estão em Cuba, e que a repressão aos dissidentes persiste, como no caso da curadora de arte Carolina Barrero, que afirma estar sob prisão domiciliar há 200 dias.

Os organizadores da manifestação atribuíram o fracasso da iniciativa à intensa campanha de interrogatórios, ameaças de prisão e atos de repúdio (intimidação coletiva com gritos e ameaças) realizados a mando das autoridades nos dias anteriores. EFE