Dois meses de guerra: quando o conflito entre Rússia e Ucrânia terminará?

No dia 24 de fevereiro de 2022, a Rússia invadiu a Ucrânia, o que afetou muitos ucranianos, gerando preocupações em diversos países, desde então a guerra ainda não acabou e continua preocupando o mundo todo, inclusive o Brasil.

Segundo a professora do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário da Serra Gaúcha – FSG, Flavia Carolina de Resende Fagundes, a guerra ainda não tem previsão para terminar. “Não podemos prever o futuro, mas os sinais no momento apontam que o conflito tende a se prolongar, pois nesse momento, não há demonstrações de que os atores envolvidos como a Rússia, Ucrânia e Estados Unidos, estejam inclinados a negociar.

A professora ressalta que o presidente Volodymyr Zelensky, declarou recentemente que não renunciará aos territórios das províncias de Donbas, enquanto o governo estadunidense levanta o tom de crítica à Rússia, acusando o presidente Putin como responsável pela guerra, bem como travando uma crise econômica contra o país. O conflito entre os diplomáticos acaba diminuindo o espaço para que negociações de paz avancem.

“O conflito não iniciou em 2022 e sim em 2014, quando o acordo de Minsk que resolveu a questão da Criméia entre os dois países, não conseguiu garantir a paz na região e desde então, ambos trocam acusações de violação do acordo. Já faz um tempo que a Rússia acusa a Ucrânia de atacar as repúblicas do Donbas, e a Ucrânia culpa o país vizinho por intervenções em seu território. Para se ter noção, desde 2014, morreram 14 mil pessoas na região”, explica a docente.

Para Flavia, a guerra entre as duas nações materializa as disputas entre o Ocidente e um bloco euroasiático, que envolve a Rússia e a China. “A Rússia enxerga a entrada da Ucrânia na Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN como uma ameaça à sua segurança, considerando que a organização liderada pelos Estados Unidos estaria buscando cercar o país, desta forma, diante das movimentações para a entrada da Ucrânia na OTAN, o Kremlin julgou tal situação uma linha vermelha, desencadeando a invasão. Com isso, é uma disputa geopolítica, na qual a Rússia tenta garantir sua área de influência, enquanto o Ocidente busca trazer a Ucrânia para as suas instituições, cercando a Rússia.

Flavia salienta que a guerra acelerou processos que já estavam em curso no sistema internacional, como o fim da hegemonia do Ocidente e a ascensão da Ásia, apontando para a consolidação de um mundo multipolar, tendo como polos Estados Unidos, China e Rússia.

“A guerra econômica travada contra a Rússia acelerou a implementação de novos sistemas de pagamentos para além do dólar, como o sistema rúpia-rublo nos negócios entre Índia e Rússia, o que aponta a relativização da hegemonia do dólar e a concorrência de outros sistemas de pagamentos”, afirma.

Os Estados Unidos e outras nações, impuseram algumas sanções econômicas contra a Rússia, com a finalidade de frearem a guerra, mas as medidas não estão nem perto de impedir os ataques do país contra a Ucrânia.

“Se olharmos para a história, podemos observar que sanções tem pouco sucesso em mudar o comportamento dos estados, por exemplo, as punições impostas ao Irã não enfraqueceram o regime político no país, estas podem ainda criar uma consciência de agressão externa, o que restringe as possibilidades de negociação. Existem formas de burlar essas condenações, como temos visto pelo peso econômico da Rússia, países importantes como a China, Índia e Arábia Saudita continuam a realizar negócios com os russos”, afirma.

Para a professora da FSG, o Brasil já sente os impactos do conflito na inflação, no aumento do preço de commodities, como o trigo e o petróleo. “Além do aumento dos preços, o Brasil pode ser afetado no fornecimento e preço de fertilizantes, o que pode prejudicar a competitividade das exportações brasileiras, assim como piorar a situação inflacionária do país.

Por fim, a professora ressalta que os países ocidentais devem conduzir uma solução diplomática para conciliar os interesses de segurança da Ucrânia e da Rússia, facilitando um possível acordo de paz