Os segredos do fenômeno das startups sul americanas

Abrir uma empresa não é uma tarefa fácil, porém, o mundo vem testemunhando um número crescente de startups sendo criadas. Na América Latina e no Caribe, a população cuja faixa etária de trabalho está envolvida na criação de um novo negócio pode variar de 8% no Brasil a mais de 25% no Equador. Os brasileiros inclusive representam a maior taxa de empreendedorismo com aproximadamente 25% da população adulta envolvida na abertura de um novo estabelecimento entre empresas até 3,5 anos de atividade, conforme os dados do levantamento do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), que indica o aumento do empreendedorismo inicial. Esses indicadores significam que as startups não são apenas fundadas aqui, mas também prosperam.

Crescimento de iniciativas no segmento

Segundo um levantamento da Crunchbase, empresa líder em informações de negócios, os investidores de capital de risco investiram um recorde de US $19,5 bilhões em startups sediadas na América Latina no final do ano passado – isso foi mais do que o triplo do valor investido nas startups da região em 2020. Esses números convertem a América Latina no mercado que mais cresce no mundo para financiamento de empreendimentos.

Em relação a este ano, a Crunchbase acrescentou que, apenas nas duas primeiras semanas, as startups sul-americanas arrecadaram mais de US $450 milhões, impulsionadas pelo capital de risco. Alinhado a esse direcionamento, o relatório elaborado pela plataforma de inteligência Sling Hub apontou que só no primeiro mês de 2022, como como as startups garantidas arrecadados us$ 1,3 bilhão em investimentos, um valor de 70% maior em relação ao volume em janeiro de 2021 cujo total foi de US$ 764 milhões.

Um dos maiores alicerces para tamanha evolução, incubação e aceleração é sem sombra de dúvidas a localidade privilegiada e cultura generalizada, que faz os empreendedores, líderes empresariais e investidores em todas as áreas prestarem mais atenção na América do Sul. Diante desse mapeamento, se nota que os centros comerciais, como no caso de Bogotá na Colômbia, possuem os melhores percentuais, mais da metade de todas as startups no país estão sediadas na capital colombiana.

No Brasil, a história se inverte um pouco, vemos como megalópoles formadas por São Paulo e Rio de Janeiro, respondendo por 25% de todas as startups brasileiras. Contudo, aparece um potencial notável de expansão nas regiões do nordeste brasileiro. O estudo ainda considera razoável acreditar em mais de US $40 bilhões em investimentos de capital de risco até 2030. Com base nos apontamentos, justifica-se que o aumento do poder aquisitivo, justamente por conta da utilização generalizada da internet, está tornando os latinos mais abertos a mudar seus padrões de compra para o meio digital. Essa tendência para os brasileiros coincide com o aumento no consumo digital, que já registra uma alta mesmo durante o início da pandemia. Em março de 2020 um Cashback World apontou um acréscimo de 73%.

Por outro lado, em relação aos investimentos, averigua-se que uma boa parcela deles foram para organizações em estágios finais de captação de recursos e que, portanto, estão operando em vários países, como o banco online Nubank e a empresa de serviços de entrega Rappi. Todavia, apesar dos menos 27 “unicórnios” conhecidos, ou seja, marcas que têm um valor de mercado de mais de US $1 bilhão, existem ainda um enorme aumento do crédito para negócios que estão estágios de consolidação ou em um processo de ascensão precoce, como aumentos famosos.

O fenômeno é explicado por empresas como a Laboratoria, startup peruana co-fundada por Mariana Costa Checa, na qual oferece cursos gratuitos de programação de seis meses para mulheres em áreas pobres e, em seguida, as coloca em empresas de tecnologia renomadas. Outra marca em franco crescimento é Pachama, liderada pelo empresário argentino Diego Saez, que luta contra as mudanças climáticas vendendo “créditos de carbono” para empresas que transferem como demais, essa por sua vez, usam para plantar árvores ou ajudar a conservar florestas. Indo de encontro a isso, temos a argentina Nilus, fundada por Ady Beitler, cujo objetivo é de recuperar alimentos que os agricultores normalmente jogam para vendê-los os preços abaixo do oferecido para os necessitados. O segredo é que apesar do interesse mercadológico, eles se apresentam com princípios institucionais muito bem definidos, além de seus valores, de suas missões e as causas sociais, o que torna seus clientes mais fidelizados com a emblema e conquista isso, dificilmente se desassociam dela.

Impacto nacional por meio de crédito estrangeiro

Entretanto, a má notícia é que geralmente essas cooperativas são exemplos de casos de sucesso movidos sumariamente por desejos individuais, que alcançam a notoriedade a partir de aportes financeiros estrangeiros, dos quais em muitos casos não são achados em seus países nativos. As regiões tropicais tem uma enorme piscina de talentos, mas a maioria — com algumas exceções, como o Chile — não fornece auxílio substancial econômico próprio, know-how ou até mesmo contatos internacionais para jovens empreendedores que estão inaugurando seus negócios.

Nesse contexto, percebe-se que os bancos de Wall Street estão procurando aproveitar a corrida do ouro, para tornar esses “unicórnios” públicos nos Estados Unidos. Esse boom chamou a atenção também de nomes importantes em private equity e venture capital, como SoftBank Group Corp (9984.T), General Atlantic e Sequoia Capital. Aliás, pelo menos 10 startups, incluindo o serviço de aluguel de apartamentos do Brasil QuintoAndar, bem como a revendedora mexicana de carros usados Kavak e as fintechs Clip e Creditas estão preparando ofertas iniciais (IPOs) para o próximo ano, um movimento que vai de frente com as perspectivas do setor.

Para se ter uma ideia, de acordo com o Banco Mundial, a quantidade de recursos voltados à inovação nesses mercados é expressivamente reduzida se comparado com os demais países. O investimento médio em pesquisa e desenvolvimento é de apenas 0,6. Israel, um país territorialmente reduzido, investe 4,9% de seu produto interno bruto anual em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, ou seja aproximadamente 8,16% inferior à taxa dos israelenses. A Estônia, um dos três Países Bálticos, situado na Europa Setentrional, com 45 mil quilômetros quadrados de área, muito inferior aos 8,5 milhões de quilômetros quadrados de extensão brasileira, dispõe de uma taxa 42 vezes acima da soma de todos os países latinos.

Desse modo, pode-se concluir que há um oceano azul de possibilidades. Porém, a pergunta que fica é: porque mesmo com tamanha potencialidade, pouco ainda se está investido por aqui? Um dos empecilhos é a instabilidade política da América do Sul, na qual atrapalha a estabilização de iniciativas de subsídio próprias, visto que, essas oscilações afastam os investidores estrangeiros, ao invés de atraí-los. A promoção de novas ações perpassa pelo fato de que 54% dos latino-americanos acreditam que o investimento estrangeiro é positivo para seus países, de acordo com um novo estudo do BID. Ou seja, as empresas na América do Sul crescem mais rápido do que em qualquer outro lugar do mundo, entretanto, em contrapartida, apenas recebe uma pequena fração dos investimentos mundiais, muito por conta das poucas adesões às formas de internacionalização das marcas.

Um novo movimento

Ademais, recentemente surgiu uma nova configuração nos mercados regionais, liderados por companhias como a Tributi, especializada em sistemas de declarações fiscais, a Frubana responsável pela entrega de alimentos e a Troura, da área de autorização de identidades. Mesmo que de setores econômicos diferentes, elas possuem um elo em comum, foram fundadas por ex-funcionários da Rappi. Além disso, outros negócios criados a partir de vínculos da empresa colombiana estão no setor B2B, focado em oferecer soluções tecnológicas eficientes e sofisticadas, como a Yuno, integradora de pagamentos, que levantou cerca de US $10 milhões no último trimestre, até meados de março.
Os co-fundadores Ortega e Núñes diagnosticaram que havia problemas da otimização de pagamentos e desenvolveram uma solução, na qual pouco tempo depois rendeu aos empresários, a visão de uma empresa independente. Essas transações começaram a ocorrer em torno de 2020, a onda de empreendedores emergindo desses unicórnios, tais como Mercado Livre, Clip, Cornershop e Kavak, de antigos colaboradores que resolveram iniciar suas indústrias com base nas experiências e conflitos vivenciados enquanto ainda trabalhavam esses gigantes.

A BID Lab constatou dois anos atrás que os segmentos que mais cresciam (72%) eram fintech e e-commerce, vindas em especial do Brasil e da Argentina. Depois deste tempo, o panorama agora conta com jogadores fortes vindos dos países vizinhos. De acordo com Enzo Cavalie, CEO e fundador da Startupeable, plataforma de informações de stakeholders do setor, ver a tendência de construção de novas startups a partir das já consolidadas. Com o tempo esse efeito deve se instaurar de forma mais acentuada em outras organizações envolvidas nesse ecossistema, que não necessariamente são restritas aos empreendimentos bilionários. Em suma, haverá cada vez mais uma fragmentação do mercado, projetadas por visionários que já conhecem os meandros do setor e detêm capacidade de conexões intercontinentais.

Por fim, constata-se que os segredos desse fenômeno estão em cercar-se com as pessoas certas, até mover-se com equipes erradas pode significar a crônica de uma morte prematura para qualquer empreendimento. As movimentações fazem parte de um ciclo limitado ainda de empresários que contam com o apoio e os contatos com financiadores globais, que solidificam o processo de estabilização das indústrias no nível internacional. O documento emitido no ano passado pela CB Insights, intitulado Top 20 Reasons Why Startups Fail debateu muitas práticas na limitação e expansão negócios, entre as razões listadas está a incapacidade de corrigir defeitos; a falta de apoio em redes profissionais (particularmente de investidores); a despesas legais (royalties por uso protegido por direitos autorais ou conflitos com outras empresas) e à falta de interesse em financiamento em financiar ideias inovadoras. Por trás de todo esse sucesso das startups na América do Sul existe um sentido de adesão a uma visão mais aberta que, conforme se desenvolve, emergem novos conceitos de aplicações ainda remanescentes