© Lula Marques/Agência Brasil
Atualizado em 25/11/2025 05:44

Em um movimento que surpreende zero eleitores progressistas, o Partido Liberal (PL), que nunca dedicou um minuto à pauta do povo, anuncia que a verdadeira prioridade após a prisão preventiva de Jair Bolsonaro é retomar o debate sobre a anistia e, convenientemente, acelerar a votação do chamado Projeto da Dosimetria — que, para eles, é apenas um prêmio de consolação.

Com a liderança de figuras como o Senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o partido corre contra o tempo, não para resolver os problemas reais do país em novembro de 2025, mas sim para garantir que seus aliados e seu líder máximo fujam das consequências dos próprios atos. O “amadurecimento” no Congresso, citado por Rogério Marinho, não é sobre educação ou saúde, mas sim sobre a capacidade de autoproteção da classe política.

A Comédia da Não-Obstrução

Flávio Bolsonaro fez questão de ressaltar que a oposição “não adotará estratégias de obstrução”. Ora, que alívio! A oposição se dignará a fazer o mínimo de seu trabalho, contanto que o Projeto da Dosimetria siga adiante, mesmo que seu “compromisso não é com a dosimetria, é com a anistia”.

Essa ginástica retórica é cristalina: se o pacote completo da anistia não for entregue, eles aceitam o Projeto da Dosimetria como um bom tapa-buraco jurídico para aliviar a situação do ex-presidente. Os interesses do povo? Permanecem na gaveta, aguardando que a crise pessoal de seus líderes seja resolvida.

A Ciência e o Poder Sobrenatural de Moraes

A prisão de Bolsonaro, decretada por risco de fuga e violação de regras, criou um “clima de urgência” — mas só para o PL. O Senador Flávio Bolsonaro, num show de descolamento da realidade, tentou desqualificar a decisão de Alexandre de Moraes, acusando-o de ser “negacionista” por ignorar laudos médicos.

Essa é a tática antiga e patética: quando a lei os alcança, a culpa é sempre do Judiciário “politizado” ou de uma “perseguição”.

Flávio ainda insiste que a vigília organizada na última sexta-feira, que claramente serviu como palco para a mobilização de apoiadores em desafio à ordem judicial, era apenas um encontro “pacífico” para “orar”. É de uma ingenuidade sarcástica:

“Ele (Moraes) entendeu que tem um poder sobrenatural de prever o futuro” — disse Flávio sobre a prisão preventiva por risco de fuga e mobilização.

Não é preciso ser vidente, Senador, para prever que quem ignora sistematicamente as instituições e já tentou usar a força para coagir o Judiciário é um risco à estabilidade democrática. A prisão é uma consequência lógica, não um milagre.

A Pauta do Povo Fica para Quando?

Enquanto o PL se desdobra para salvar a pele de seus membros e usa a bancada para votar contra a indicação de Jorge Messias ao STF, o Deputado Sóstenes Cavalcante confirma o óbvio: “É só a pauta que temos desde fevereiro.”

Sim, é só a pauta que eles têm: a pauta deles mesmos. Não há menção a reformas sociais, combate à desigualdade crescente ou qualquer projeto que beneficie a base da pirâmide. O sofrimento de Michelle Bolsonaro foi destacado no encontro, mas e o sofrimento das milhões de famílias brasileiras que sequer têm um político para articular a defesa de seus direitos básicos?

O recado do PL é claro: A política no Brasil, para essa cúpula, continua sendo um clube de autoajuda e autodefesa. Não espere que o PL use sua força no Congresso para anistiar o povo de impostos injustos ou de uma vida precária. Eles só anistiam quem está no poder com eles.

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JR Vital - Diário Carioca
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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.