Foto: © Lula Marques/Agência Brasil

A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (15), por 268 votos a 167, o pedido de suspensão da ação penal contra Gustavo Gayer (PL-GO) que tramitava no Supremo Tribunal Federal (STF).

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O parlamentar é acusado de calúnia, injúria e difamação por declarações ofensivas feitas a senadores e ministros do Supremo em vídeo publicado em 2023.

A decisão, com base no artigo 53 da Constituição, impede o prosseguimento do processo enquanto Gayer exercer o mandato.


Entenda a votação

O pedido foi apresentado pelo Partido Liberal (PL), legenda de Gayer, e teve parecer favorável da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). O relator Zé Haroldo Cathedral (PSD-RR) reconheceu que o discurso do deputado foi “grosseiro e inadequado”, mas considerou que as falas estão protegidas pela imunidade parlamentar.

O placar final registrou 268 votos a favor, 167 contrários e 4 abstenções. A decisão será comunicada ao Supremo Tribunal Federal, que deve suspender o andamento do processo e interromper a contagem da prescrição até o fim do mandato do parlamentar.


Acusações contra o deputado

A ação penal foi proposta em fevereiro de 2023 pelo senador licenciado Vanderlan Cardoso (PSD-GO), após Gayer publicar um vídeo nas redes sociais com críticas e ofensas a parlamentares e integrantes do Supremo.
Entre os citados estão Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), Rodrigo Pacheco (PSD-MG), Jorge Kajuru (PSB-GO) e o próprio Vanderlan.

A Primeira Turma do STF, sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes, aceitou a denúncia por unanimidade em novembro de 2024, levando o caso à fase de alegações finais.


Base constitucional da decisão

O artigo 53 da Constituição Federal determina que, ao receber denúncia por crime comum contra um parlamentar, o Supremo deve informar a respectiva Casa Legislativa, que pode autorizar ou sustar o processo em até 45 dias.

Com base nesse dispositivo, a Câmara decidiu que a ação ficará suspensa durante o mandato, mas sem extingui-la. Quando Gayer deixar o cargo, o processo poderá retomar seu curso normal.


Tensão entre os Poderes

A decisão ocorre em um momento de tensão entre o Legislativo e o Judiciário, especialmente após o debate da chamada “PEC da Blindagem” — proposta que previa autorização prévia do Congresso para que o STF pudesse abrir ações penais contra deputados e senadores.
A proposta acabou arquivada pelo Senado após forte reação pública e institucional, mas a votação desta quarta-feira reacende a discussão sobre os limites da imunidade parlamentar.

“Não há crime configurado, e a Constituição é clara ao garantir liberdade de opinião e palavra aos parlamentares”, afirmou o relator Zé Haroldo Cathedral.

Críticos da decisão, no entanto, apontam que a medida fragiliza o combate à desinformação e aos ataques a instituições democráticas, criando precedentes perigosos.


Repercussões políticas

Aliados de Gayer, um dos principais nomes da bancada bolsonarista, comemoraram o resultado como uma vitória da liberdade de expressão.
Por outro lado, senadores citados no vídeo, como Davi Alcolumbre e Rodrigo Pacheco, consideraram a decisão um retrocesso institucional, o que pode aumentar o atrito entre Câmara e Senado.

“A Câmara tomou uma decisão política, não jurídica. Isso tensiona a relação com o Senado e o STF”, avaliou um parlamentar ouvido sob reserva.


Entenda o que muda com a suspensão

SituaçãoAntes da votaçãoDepois da votação
Processo no STFEm andamento, na fase de alegações finaisSuspenso até o fim do mandato
PrescriçãoCorrendo normalmenteInterrompida
Efeitos sobre o mandatoNenhumGayer segue no cargo sem restrições
Retomada do processoNão aplicávelRetoma após o fim do mandato

Contexto

O episódio reforça o debate sobre imunidade parlamentar e o alcance da liberdade de expressão no ambiente político. Nos últimos anos, o STF tem adotado uma postura mais rigorosa em relação a ataques e discursos de ódio feitos por parlamentares nas redes sociais, sob a justificativa de proteger as instituições democráticas.

Já o Congresso busca reafirmar sua autonomia, alegando que a crítica política deve ser preservada, mesmo quando feita de forma agressiva.

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JR Vital - Diário Carioca
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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.