Brasília, 8 de agosto de 2025 – O Ministério Público Eleitoral (MP Eleitoral) entrou com representação no Tribunal Regional Eleitoral de Rondônia (TRE-RO) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o senador Marcos Rogério (PL-RO) por suposta propaganda eleitoral antecipada. A acusação gira em torno de uma motociata realizada em Brasília, no dia 29 de julho, na qual Bolsonaro escreveu “222” — número de campanha de Rogério — na camiseta do aliado, diante de apoiadores.
Segundo o MP, o gesto não foi um improviso: foi orquestrado para associar a imagem de Bolsonaro à candidatura do senador e criar um pedido explícito de voto antes do início oficial da campanha, previsto apenas para 16 de agosto de 2026. A prática, de acordo com os procuradores, afronta a isonomia do processo eleitoral e antecipa de forma indevida benefícios políticos para o atual parlamentar.
Pedido de voto disfarçado em espetáculo político
O vídeo da cena — com 22 segundos — mostra Bolsonaro marcando o número “222” na camisa de Marcos Rogério diante de apoiadores em clima de comício. Para o MP Eleitoral, a combinação de imagem e mensagem foge da espontaneidade e tem nítido propósito eleitoral, configurando violação à legislação vigente.
Na representação, o Ministério Público pede que o vídeo seja retirado das redes sociais dos dois políticos, bem como de três portais de notícias de Rondônia, sob o argumento de que a exibição do número eleitoral fora do prazo desequilibra a disputa. A ação ocorre em meio à tentativa de reeleição de Rogério, que busca manter-se no Senado após oito anos de mandato.
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A motociata, realizada poucos dias antes de Bolsonaro ser colocado em prisão domiciliar por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), por envolvimento na tentativa de golpe de Estado, reuniu nomes estratégicos do bolsonarismo e funcionou como uma vitrine pré-eleitoral camuflada de evento público.
Repetição do método e afronta à Justiça Eleitoral
O ato partiu do evento Capital Moto Week, na Granja do Torto, e seguiu até a Esplanada dos Ministérios, com presença da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, da vice-governadora do DF Celina Leão (PP) e do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). A presença massiva de apoiadores e a encenação eleitoral diante das câmeras reforçam o padrão recorrente da extrema direita: testar os limites da Justiça Eleitoral para promover seus candidatos fora das regras do jogo democrático.
Essa não é a primeira vez que o bolsonarismo burla a legislação eleitoral sob o manto de manifestação espontânea. Em diversos episódios anteriores, eventos semelhantes foram utilizados para promover candidatos, desacreditando as instituições e desafiando as normas republicanas.
O que está em jogo
O que caracteriza propaganda eleitoral antecipada?
Segundo a legislação, qualquer pedido explícito de voto antes do início oficial da campanha — 16 de agosto do ano da eleição — é irregular. Isso inclui o uso de números, slogans ou símbolos associados à candidatura.
Bolsonaro pode ser responsabilizado mesmo sem ser candidato?
Sim. Mesmo não sendo ele próprio candidato, Bolsonaro pode ser responsabilizado por participar de atos que beneficiem aliados de forma antecipada e desleal.
Qual o impacto da decisão do MP?
Se acatada pelo TRE-RO, a representação pode resultar em multa e outras sanções, incluindo impactos na elegibilidade de Marcos Rogério.
Há precedentes de condenações semelhantes?
Sim. Políticos de diversas siglas já foram punidos por antecipação de campanha, ainda que com menor repercussão pública. O caso atual ganha peso pelo uso ostensivo da imagem de Bolsonaro, que continua influente entre setores conservadores.
O que isso revela sobre a estratégia bolsonarista?
A aposta na desinformação simbólica, na repetição de atos ilegais e na naturalização de abusos faz parte de uma estratégia deliberada para fragilizar os mecanismos de controle democrático.
Cena que escancara a máquina eleitoral paralela
O episódio escancara o modo de operar da extrema direita brasileira: confundir ato público com propaganda, transformar apoiadores em massa de manobra e enfraquecer o sistema eleitoral com teatralizações políticas. Com Bolsonaro cada vez mais pressionado por investigações criminais e limitado judicialmente, aliados se valem de sua imagem para sustentar projetos eleitorais próprios, desrespeitando normas e desafiando a autoridade da Justiça.



