Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrenta dificuldades para manter sua popularidade entre os católicos, um público historicamente mais alinhado a ele.
A queda de aprovação no segmento acompanhou o recuo geral, passando de 42% para 28% segundo o Datafolha. Paralelamente, cresce a estratégia da direita de se aproximar de lideranças católicas conservadoras, fortalecendo o apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A recente polêmica com Frei Gilson, da Congregação Carmelitas Mensageiros do Espírito Santo, evidenciou esse movimento. O religioso, com 8,5 milhões de seguidores no Instagram, foi criticado pela esquerda após afirmar que “a mulher nasceu para auxiliar o homem”. Bolsonaro, por sua vez, saiu em defesa do frei, acusando a esquerda de atacá-lo por sua influência religiosa.
Bolsonaro amplia laços com padres conservadores
Nas redes sociais, a direita tem investido em alianças com influenciadores católicos. Em janeiro, circulou uma fake news associando Lula a um processo judicial contra a Canção Nova. O deputado bolsonarista Nikolas Ferreira (PL-MG) tem se aproximado de padres como Chrystian Shankar, do Santuário Frei Galvão, e Paulo Ricardo, da Paróquia Cristo Rei. Este último, seguido por 2,4 milhões de pessoas, é um expoente do catolicismo conservador e ligado ao falecido Olavo de Carvalho.
Parlamentares bolsonaristas também fortalecem a conexão com padres tradicionalistas. Bia Kicis (PL-DF) divulgou encontro com o padre Eduardo Peters, enquanto Carla Zambelli (PL-SP) manteve proximidade com padre Alex Brito, dos Arautos do Evangelho. Em 2022, o bolsonarismo explorou falas de Brito, que declarou que a escolha nas eleições deveria considerar “Deus”.
Investigação de trama golpista cita padres
Quatro padres foram mencionados na investigação da tentativa de impedir a posse de Lula. O único indiciado foi padre José Eduardo, acusado de criar a “oração do golpe”. Sua defesa nega as acusações, e ele não foi denunciado pela PGR. Outros envolvidos incluem Genésio Lamounier, que rezou com Bolsonaro após sua derrota, e os já citados Frei Gilson e Paulo Ricardo.
A atuação de instituições católicas conservadoras também tem ganhado espaço. O Centro Dom Bosco, fundado em 2016, faz campanha contra o comunismo e tem histórico de confrontos com a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), a quem chama de “Conferência Nacional dos Bolchevistas”.
Lula tenta reaproximação com católicos
Para conter perdas nesse eleitorado, Lula tem intensificado acenos à comunidade católica. Em um evento no Rio Grande do Norte, ele discursou ao lado do ex-arcebispo de Natal, Dom Jaime Vieira Rocha, e rezou um Pai Nosso. No entanto, dentro do PT, lideranças avaliam que é preciso mais do que participação em eventos religiosos para reverter a rejeição.
Segundo Padre João (PT-MG), “o desafio é quebrar o estigma de que o PT defende o aborto”. A estratégia de Lula também tem se baseado em um discurso voltado à prosperidade e ao trabalho, para atrair os eleitores cristãos.
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Estratégia bolsonarista entre católicos
- Aproximação digital: Políticos de direita fortalecem influenciadores católicos.
- Relação com padres conservadores: Bolsonaro e aliados se associam a nomes de peso no catolicismo tradicionalista.
- Desinformação: Fake news sobre Lula são disseminadas para minar sua relação com os fiéis.
- Disputa interna na Igreja: CNBB enfrenta críticas de setores conservadores, como o Centro Dom Bosco.
- Tentativa de golpe: Investigação citou quatro padres, um deles indiciado.
- Lula reage: Presidente busca recuperar apoio católico com discursos e participação em eventos religiosos.
Com informações de O Globo