Rio de Janeiro – 10 de março de 2025 – Interlocutores do general Walter Braga Netto, preso no Rio de Janeiro e acusado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de tentativa de golpe de Estado, manifestam crescente insatisfação com a cúpula do Exército. O descontentamento surge com o avanço das investigações sobre aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, acusados de tentar impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva em 2023.
Pessoas próximas a Braga Netto apontam que a Força busca preservar sua imagem sem admitir omissão diante do episódio, apesar de sua crescente exposição pública. Entre os 34 denunciados pela PGR, 24 são militares, o que reforça o foco da crítica contra a cúpula militar.
Oposição interna e desconfiança com os ex-comandantes
Aliados de Braga Netto relembram que, apesar dos ex-comandantes do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, e da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Junior, terem rejeitado o golpe de Estado, ambos não tomaram atitudes concretas para denunciá-lo ou desmobilizar os acampamentos golpistas.
Em 11 de novembro de 2022, quase duas semanas após a derrota de Bolsonaro, os três comandantes das Forças Armadas divulgaram uma nota em que reconheciam a legitimidade dos acampamentos e condenavam qualquer repressão contra os manifestantes.
Esse comportamento é visto pelos aliados de Braga Netto como uma forma de “lavar as mãos” diante da situação. No mesmo dia da nota, um áudio de Mauro Cid, enviado a Freire Gomes, indicava que os organizadores do movimento se sentiam seguros para intensificar a ação golpista.
Falta de ação e omissões no relatório da PF
Os aliados do general também questionam a postura passiva da cúpula do Exército. Eles destacam que, apesar de haver resistência interna ao golpe, nenhum dos altos comandantes tomou medidas efetivas para impedir a trama golpista. “Eles estão tentando limpar o CNPJ deles, que está todo manchado”, afirmou um interlocutor, em referência à omissão do Exército. O relatório da PF sobre as investigações também gerou críticas por não incluir as respostas de Freire Gomes nas conversas com Mauro Cid. De acordo com a avaliação dos aliados de Braga Netto, essas falas poderiam alterar a interpretação do papel do ex-comandante do Exército.
Outro ponto questionado é a ausência do ex-comandante Júlio César de Arruda no relatório da PF. Arruda foi demitido por Lula após o 8 de janeiro, quando se recusou a revogar a nomeação de Mauro Cid para um cargo chave na articulação golpista.
A postura da cúpula e as críticas internas
Os interlocutores de Braga Netto continuam a destacar que o Exército não demonstrou ações claras para proteger a democracia durante a tentativa de golpe. “Se houve de fato um racha no Alto Comando, por que nenhum deles telefonou para demover o presidente da ideia de um decreto?”, questiona um colega de farda de Braga Netto. A falta de resposta de Freire Gomes nas conversas sobre a situação, além da ausência de Arruda nos autos da investigação, continua a alimentar a desconfiança entre os aliados do general.
Entenda o caso
- Braga Netto está preso no Rio de Janeiro e acusado de tentar dar um golpe de Estado.
- Aliados de Braga Netto criticam a cúpula do Exército por omissão durante os eventos que tentaram impedir a posse de Lula.
- A Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou 34 pessoas, das quais 24 são militares.
- Ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica rejeitaram o golpe, mas não tomaram medidas para impedi-lo.
- Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro, participou ativamente da trama golpista.
- A cúpula do Exército é acusada de não agir contra os movimentos golpistas, apesar de conhecimento da situação.
Com informações do DCM