Em meio ao isolamento internacional do bolsonarismo, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) voltou a recorrer ao presidente argentino Javier Milei como referência política.
Nas redes sociais, o parlamentar compartilhou um vídeo de Milei cantando rock durante o lançamento de seu novo livro e escreveu:
“Presidente Milei lança livro, fala de liberdade, Bolsonaro e o método da esquerda de usar assassinato como instrumento político. Gracias, Presidente.”
O gesto ocorre num momento delicado: Donald Trump, antigo aliado da extrema direita brasileira, vem adotando tom mais conciliador com o governo Lula, o que enfraquece o eixo conservador que unia Trump, Bolsonaro e Milei.
Milei transforma crise em espetáculo
Na Argentina, o lançamento do livro virou um ato político disfarçado de show. A poucos dias das eleições legislativas, Milei subiu ao palco de jaqueta de couro e guitarra ao lado de ministros e correligionários, cantando clássicos do rock argentino para milhares de apoiadores.
A encenação veio logo após um novo escândalo: José Luis Espert, principal nome do partido A Liberdade Avança em Buenos Aires, renunciou à candidatura após ser acusado de receber dinheiro e favores de um empresário ligado ao tráfico internacional de drogas.
O episódio abalou o governo e ampliou a pressão sobre Milei, que tenta conter a sangria política.
Discurso de resistência e ataques à esquerda
Mesmo pressionado, Milei tentou exibir confiança. Em seu discurso, afirmou que o kirchnerismo “ganhou um round, mas não a guerra”, minimizando as derrotas eleitorais recentes.
Também ironizou Cristina Kirchner, cantando o refrão “Cristina Tornozeleira” — referência à prisão domiciliar da ex-presidente.
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Depois da performance musical, o líder argentino voltou ao palco de terno e gravata, como ele próprio descreveu, para comentar seu livro A construção do milagre. A obra reúne discursos e ensaios sobre suas decisões no poder desde 2023.
Coberto pela bandeira nacional, Milei encerrou o evento com o hino argentino e novos ataques à esquerda, a quem acusou de “usar o assassinato como instrumento político”.
Ele citou Jair Bolsonaro, Donald Trump, Miguel Uribe e Charlie Kirk como supostas vítimas de violência política:
“Quando perdem o debate, recorrem à violência. Tentaram matar Bolsonaro, tentaram matar esse colosso que é Trump”, disse.
O presidente ainda tentou reforçar o discurso econômico, alegando ter reduzido a inflação de 25,5% em dezembro de 2023 para 1,9% em agosto de 2025.
Eduardo busca palco em meio ao esvaziamento do bolsonarismo
O aceno de Eduardo Bolsonaro a Milei é visto como uma tentativa de manter o discurso da “nova direita viva”, mesmo com o declínio do bolsonarismo fora do Brasil.
Com Trump cada vez mais distante e a extrema direita fragmentada na Europa, Eduardo tenta se reaproximar do argentino para preservar a retórica antiesquerdista que uniu ambos.
Mas a aproximação soa mais simbólica do que estratégica. Milei enfrenta queda de popularidade, denúncias no entorno e isolamento diplomático, enquanto o bolsonarismo tenta sobreviver sem aliados de peso.
Fim de feira político
Com figurino de roqueiro e discurso inflamado, Milei ainda vende a imagem de rebelde antissistema, mas a performance já não ecoa como antes.
Para Eduardo Bolsonaro, o gesto parece mais um ato de resistência do que de força real — uma tentativa de manter viva uma aliança que o tempo e a política trataram de desgastar.



