Em uma revelação inédita, o ex-militar Valdemar Martins de Oliveira revelou detalhes sobre o destino dos restos mortais do deputado Rubens Paiva, assassinado durante a ditadura militar. Em entrevista ao Intercept Brasil, Valdemar afirmou que o corpo de Paiva foi lançado ao mar, preso a uma roda de caminhão, após ser removido rapidamente do local de seu assassinato. Ele revelou também que dois colegas de regimento, Jurandyr Ochsendorf e Jacy Ochsendorf, estiveram envolvidos no encobrimento sob ordens do comandante Paulo Malhães.
A declaração de Valdemar Martins, ex-integrante do Exército durante a década de 1970, lança luz sobre um dos maiores mistérios da ditadura militar. O ex-militar afirmou que, além da ocultação dos restos mortais, o próprio processo de silenciamento foi rápido e meticulosamente planejado, refletindo a brutalidade do regime.
O relato do ex-militar e a ocultação do corpo
Valdemar contou que o corpo de Rubens Paiva foi retirado no mesmo dia de sua morte, sob ordens diretas de Paulo Malhães. A operação de ocultação envolveu o uso de um barco da Marinha para levar os restos mortais até o mar, onde o corpo foi jogado com um peso amarrado, uma roda de caminhão, a fim de dificultar a identificação. O relato de Valdemar Martins expõe a frieza e a rapidez com que o regime militar agiu para esconder os crimes cometidos.
O ex-militar revelou que foi obrigado a participar de várias operações de busca, apreensão e espionagem, atividades que, segundo ele, foram realizadas sob coação. Ao longo dos anos, essas experiências ficaram gravadas em sua memória, sendo agora compartilhadas com o objetivo de esclarecer um dos maiores abusos cometidos pelo regime militar.
O paradoxo das honrarias militares
Valdemar Martins também chamou a atenção para a ironia de que os militares envolvidos na operação de ocultação de Rubens Paiva receberam medalhas e honrarias por seus serviços. Os irmãos Ochsendorf e o tenente Antônio Fernando Hughes de Carvalho foram agraciados com a Medalha do Pacificador por suas ações durante o período da ditadura. Este fato demonstra como a violência do regime militar foi muitas vezes premiada, em vez de ser punida.
O ex-militar também mencionou que, apesar de sua participação no encobrimento do crime, ele foi acusado de deserção, o que o impediu de ser transferido para a reserva. Ele lamentou: “Fiquei calado por muito tempo. Dizem que a pena máxima é 30 anos, mas estou numa prisão há 50 anos”. Sua declaração revela o peso das acusações que carrega desde então, um fardo que ele não se sente mais capaz de suportar em silêncio.
Quebra do silêncio em busca da verdade
Após anos de silêncio, Valdemar Martins decidiu falar sobre o que presenciou durante a ditadura militar, com o objetivo de ajudar a esclarecer a verdade sobre o desaparecimento de Rubens Paiva. Sua decisão foi motivada pela necessidade de proteger sua família e também pela busca por justiça, contribuindo para que a história de abusos da ditadura não seja esquecida.
As informações fornecidas por Valdemar ajudam a adicionar mais um capítulo à narrativa sobre o desaparecimento de Rubens Paiva, reforçando a importância de continuar a investigação dos crimes cometidos pelo regime militar e o reconhecimento da luta das vítimas.