O governo Lula começa a articular uma ofensiva política para pautar urgentemente a jornada 6×1 e a tarifa zero no transporte público, após conquistar o apoio popular com a isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil por mês.
A proposta busca ampliar seu apoio nas bases trabalhistas e nas eleições municipais de 2026, prevendo articulação com partidos da base e mobilização social para garantir aprovação legislativa.
Contexto político e agenda estratégica
A vitória recente com a isenção do IR elevou o capital político do governo. Agora, a equipe do Planalto entende que avançar com pautas simbólicas, populares e materialmente impactantes — como a redução da jornada de trabalho e a gratuidade nos transportes — pode reforçar legitimidade e alianças.
A articulação será coordenada por Gleisi Hoffmann, ministra das Relações Institucionais, e Erika Hilton (PSOL), autora da Proposta de Emenda à Constituição que prevê a jornada de 36 horas semanais.
Ambas reunirão líderes partidários do PT, PSOL, PCdoB e PSB, e convidarão MDB e PSD para costurar um texto de consenso. A proposta original, protocolada em fevereiro, já conta com 234 assinaturas e aguarda despacho do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).
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Proposta da jornada 6×1 e sua tramitação
A PEC propõe reduzir a jornada de trabalho para 36 horas semanais, distribuídas em quatro dias de 8 horas, com possibilidade de ajustes por acordos coletivos. Após o despacho de Motta, a medida seguirá para análise da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e depois para comissão especial, antes de ir ao plenário.
Em discurso no Dia do Trabalhador, Lula defendeu que reduzir a jornada permitirá equilíbrio entre trabalho e vida pessoal — embasado por experiências internacionais que apontam ganhos em produtividade e qualidade de vida.
Todavia, a proposta enfrenta resistência de entidades empresariais. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirma que a redução aumentaria custos e comprometeria a competitividade, especialmente das pequenas empresas. A equipe econômica avalia medidas compensatórias para mitigar impactos negativos.
Tarifa zero: viabilidade e entraves
Paralelamente à pauta trabalhista, o governo quer implantar a tarifa zero em ônibus, metrôs e transportes urbanos. O Ministério da Fazenda prepara estudo de viabilidade para iniciar o modelo em cidades-piloto e depois expandi-lo nacionalmente.
O PT defende que a pauta precisa ser nacionalizada. Em municípios sob administração do partido — como Maricá (RJ) e Teresina (PI) — a gratuidade já é aplicada. Prefeitos foram convocados para debater o tema em audiências com a Frente Nacional de Prefeitas e Prefeitos.
Para viabilizar o custeio, Jilmar Tatto (PT-SP) coordena a Frente Parlamentar da Tarifa Zero. Ele alerta que a principal limitação é a escassez de subsídios municipais. Seu argumento: se o governo federal assumir parte do financiamento, estados e prefeituras poderão complementar e viabilizar o modelo. O estudo da Fazenda deve ser entregue ainda em 2025.
Implicações políticas, sociais e riscos
Potencial mobilização popular
A defesa dessas pautas reforça o compromisso com a classe trabalhadora e com o transporte público — itens-chave nas agendas progressistas. Se bem conduzidas, podem consolidar base eleitoral nas periferias urbanas.
Riscos econômicos e de oposição
As resistências empresariais não são meramente retóricas. A carga adicional sobre a folha de pagamento, custos logísticos e pressões fiscais podem desencadear reação do setor produtivo. O governo precisa articular medidas de compensação e demonstrar que não haverá sacrifícios ambientais ou econômicos.
Dilema orçamentário
A tarifa zero, se em escala nacional, exigirá vultosos recursos públicos. A falta de clareza sobre fonte de financiamento pode gerar críticas de populismo ou irresponsabilidade fiscal. Será decisiva a transparência no estudo da Fazenda.
Efeitos na disputa eleitoral de 2026
Ao propor agendas com impacto simbólico e prático, Lula pode marcar território e demonstrar que seu governo ainda aposta em avanços estruturais. Entretanto, falhas ou recuos podem ser explorados pela oposição como fraquezas políticas ou inconsistência.
Jornada 6×1 como eixo de justiça social
A redução da jornada é uma reivindicação histórica dos movimentos trabalhistas. Ao colocá-la no centro da agenda, o governo avança não apenas em conveniência eleitoral, mas em reforma estrutural de distribuição de tempo, qualidade de vida e valorização do trabalho.
Ao mesmo tempo, precisa evitar que essa pauta seja capturada pelo discurso de custo elevado ou insustentabilidade, mostrando com evidências de estudos internacionais e negociações coletivas bem estruturadas.
Tarifa zero: urgência social e condicionantes fiscais
A gratuidade no transporte público é uma demanda urbana que se conecta diretamente à mobilidade e ao direito à cidade. Contudo, a universalização sem base fiscal segura corre o risco de se transformar em promessa vazia.
O governo deve antecipar críticas, demonstrar cenários escalonados e propor transferências federais para sustentar estados e municípios. Aqui, a transparência no estudo será vital para legitimar a iniciativa.



