“Estão atrasando nossas vidas”, diz aluna sobre aulas terceirizadas no Paraná

               “Nosso curso de Administração tem oito anos e as aulas dadas pelos professores da rede foram sempre de qualidade. Agora, estamos sendo prejudicados dia após dia”. O depoimento é de Julia Godoy, aluna do Centro Estadual de Educação Profissional (CEEP) de Francisco Beltrão (PR). Ela é uma dos muitos estudantes que, nas últimas semanas, se posicionaram contra aulas dadas por empresa terceirizada contratada pelo governo de Ratinho Junior (PSD).
Segundo Julia, são vários problemas: “Temos dificuldade de ouvir e entender o que os professores falam nos vídeos veiculados pela TV, também temos a mudança de professores em uma mesma matéria e a descontinuidade dos conteúdos, além da divulgação de links de aulas ou trabalhos publicados depois da meia-noite, sem nenhuma explicação ou possibilidade de tirar dúvidas", relata, complementando: "Pagaram milhões para a Unicesumar e estão atrasando as nossas vidas.”
Unicesumar é a empresa que foi contratada pelo governador em novembro de 2021, ao custo de R$ 3,2 bilhões, para fornecer aulas e docentes responsáveis por algumas matérias na modalidade de Educação a Distância (EaD). No entanto, desde março, vários problemas foram denunciados por estudantes e seus familiares, que pedem o retorno dos professores do próprio quadro da rede pública de ensino.
Apesar de muitos professores terem sido chamados via Processo Seletivo Simplificado (PSS) para assumir essas aulas, eles foram surpreendidos, no início do ano, com a notícia de que seriam substituídos pelas aulas EaD.
Na última semana, no CEEP de Francisco Beltrão, alunos das turmas do curso técnico de Administração fizeram vídeo, veiculado nas redes sociais, pedindo a volta dos seus professores antigos. Nos cartazes, a frase: “Não queremos TV, queremos professores.” 


Estudantes fazem protesto pedindo a volta de professores da rede pública / Foto: APP

Situações como essa se repetem em outros cursos. É o caso de alunos do Colégio Pedro Macedo, em Curitiba, que fizeram vídeos mostrando que passaram a manhã sem aulas devido à falta de monitor de TV. No Colégio Leonardo da Vinci, no município de Dois Vizinhos, viralizou outro vídeo de aluna explicando o conteúdo que deveria estar sendo ministrado por um docente da Unicesumar. Já no Colégio Estadual do Paraná (CEP), famílias se juntaram aos estudantes em manifestação em frente à escola pedindo o cancelamento do contrato e o retorno dos professores à sala de aula.
Em março, turmas dos cursos técnicos do CEEP Pedro Boaretto Neto, em Cascavel, deixaram as salas como forma de protesto. Inclusive, organizaram movimento chamado “Não às aulas a distância da Unicesumar”, com páginas nas redes sociais. Na mesma semana, a Secretaria Estadual de Educação do Paraná entrou em contato com a escola e comunicou que atenderia às reivindicações dos alunos. 


“Queremos professor em sala”, pedem os estudantes / Foto: APP

Retirada de direitos
Para o professor Lucas Pelissari, coordenador do Grupo de Pesquisa Estado, Políticas Públicas e Educação Profissional do Instituto Federal do Paraná (IFPR), há um movimento forte de alunos e famílias por identificarem a retirada de direitos.
“Junto com esse contrato, não vem só processo de privatização, mas a retirada do direito básico de aprendizagem. Em segundo lugar, esse novo sistema sequer foi acordado ou dialogado com a comunidade escolar. No momento da matrícula, por exemplo, ninguém foi avisado que as aulas seriam ministradas assim”, explica.
MP investiga contrato
O Ministério Público Estadual investiga a contratação da Unicesumar pelo governo Ratinho Junior. A instituição acatou pedido do Sindicato dos Professores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato) e remeteu a denúncia para a 5ª Promotoria de Proteção ao Patrimônio Público.
O sindicato requer que seja instaurado procedimento para investigar a legalidade da contratação da Unicesumar para oferecer conteúdos online e monitores, que substituem o trabalho docente presencial realizado por professores habilitados.
“Além da erradicação progressiva de carga horária disponível para os professores, há muitos problemas do ponto de vista pedagógico”, avalia Vanda Bandeira Santana, secretária Educacional do sindicato. “Se é pela televisão, como haverá interação? Será possível tirar dúvidas? Se o aluno falta, como tem acesso ao conteúdo? Como serão as avaliações?”, questiona.
Resposta oficial
Em nota, a Secretaria da Educação informou que "está ciente sobre os estudantes do CEEP Fazenda Rio Grande, que não estão assistindo às aulas em protesto contra o modelo de ensino. A secretaria está em contato diário com a direção da escola para solucionar a questão. A pasta continuará em diálogo com pais e alunos para entender as críticas e responder aos questionamentos sobre a parceria com a Unicesumar.”
        Fonte:  BdF Paraná
   Edição: Felipe Mendes, Frédi Vasconcelos e Lia Bianchini