Pesquisa aponta oportunidades de desenvolvimento da América Latina diante do crescimento chinês

               O mundo não tem mais apenas um polo hegemônico de poder. Com a emergência da China como potência econômica e ator global, um leque de oportunidades pode se abrir para a América Latina — uma região atravessada por um histórico de intervencionismo dos Estados Unidos. Esse quadro é analisado no dossiê nº 51 do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social.
“Que condições a emergência da China e seu peso global conferem para ganhar graus de autonomia nacional neste contexto? Que papel podem desempenhar os processos de integração da América Latina para usar nossos recursos como povos para satisfazer as necessidades das maiorias?”, são algumas das perguntas levantadas pelo texto.
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Em entrevista ao Brasil de Fato, Emiliano López, pesquisador do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, afirma que o poder de Pequim “permite novas estratégias comerciais, complementaridade produtiva, desenvolvimento de infraestrutura sem os graus de condicionamento político, ideológico e militar propostos pelo império norte-americano”.
López, que também é economista e professor da Universidade Nacional de La Plata, destaca que as diretrizes do crescimento do gigante asiático, com decisivo planejamento estatal, representam “um exemplo de desenvolvimento soberano justo em um momento de crise do paradigma capitalista ocidental”.
O PIB da China cresceu a uma média de 9,5% ao ano entre 1978 e 2017 e Pequim tem hoje a liderança tecnológica em temas como transição energética e internet 5G. A China também tem projeto de integração global de infraestrutura que financia e incentiva a construção de portos, ferrovias e rodovias ao redor do globo. Apelidado de “Nova Rota da Seda”, o projeto também é conhecido como “Plano Marshall Chinês”.
O dossiê ressalta, todavia, que o “desenvolvimento soberano” com a parceria da região com a China não está dado. Ele depende da saída das “oligarquias do poder estatal” e de sua “ideologia colonizada”, além do desenvolvimento de “um processo de integração e unidade regional que priorize a cooperação sobre a competição e que exclua os Estados Unidos”.
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López destaca que a discussão sobre a ascensão da China é um “debate acalorado” entre os movimentos populares e que há um questionamento sobre um possível novo “ciclo de dependência” parecido com o desenvolvido com as potências ocidentais.
“A presença de um polo virtuoso de acumulação global com uma política não belicista e não intervencionista nos permite ganhar apoio para uma política soberana. Obviamente, o sucesso não é garantido. Fará parte do equilíbrio de forças e opções de governo que os povos da América Latina podem construir e consolidar”, diz o professor da Universidade Nacional de La Plata.
            Edição: Arturo Hartmann