Com cenário acirrado em Pernambuco, chapas adiam definições para Senado e vices

De Paula (PSD), 60 anos, tem sua história ligada à direita: PDS, PFL, DEM e PSD. É convicto em suas posições à direita. Votou pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff (2016), foi favorável à PEC do teto de gastos (2016) e às reformas trabalhista (2017) e da previdência (2019).

O candidato a governador Danilo Cabral também foi favorável ao impeachment, mas – diferente de De Paula – fez o caminho contrário nas pautas seguintes e, agora, endossa a tese de que foi um erro o PSB ter votado pela derrubada de Dilma.

André de Paula (PSD) é deputado federal há seis mandatos, sempre convicto no posicionamento à direita / Câmara Federal

Apesar de apresentar Danilo como “o candidato de Lula em Pernambuco”, de olho na alta popularidade do petista no estado, a Frente Popular ainda não definiu se vai se apresentar como uma chapa de esquerda ou um “centro contra Bolsonaro”.

Caso se coloque à esquerda, visando atrair o eleitorado lulista e petista, Cabral vai disputar base com Marília Arraes (SD) – e certamente enfrentará acusações de traição ao PT no episódio do impeachment. Para neutralizar esse discurso, o PSB deseja ter o PT na vice.

Mas o PT deseja a vaga no Senado e indicou o deputado federal Carlos Veras para a disputa – hoje o ambiente no partido é de pouca confiança de que a indicação será confirmada pelo PSB.

Também de olho no Senado, a atual vice-governadora Luciana Santos (PCdoB) realizou evento, na segunda-feira (18), se colocando na disputa. Ambos defendem que a Frente precisa ter mais “cara de esquerda”. Caso o PSB escolha mesmo André de Paula (PSD), deve buscar uma mulher do PT para a vice. O nome mais cotado é o da deputada estadual Teresa Leitão.

Carlos Veras (PT) e Luciana Santos (PCdoB) também pleiteiam a candidatura ao Senado pela Frente Popular / Montagem: Brasil de Fato

A possível escolha por De Paula (PSD) será sob o argumento de se colocar “mais ao centro”, numa tentativa de reduzir uma suposta rejeição à chapa. Mas essa posição traz o risco de tornar a chapa “sem identidade” definida, com risco de perder a esquerda para Marília Arraes (SD) e certamente terá dificuldades na disputa pelos votos da direita, competindo contra Raquel Lyra (PSDB), Miguel Coelho (UB) e o bolsonarista Anderson Ferreira (PL).

A Frente Popular, vale lembrar, já carrega um inevitável desgaste de 16 anos à frente do executivo estadual.

:: Candidato socialista ao governo de Pernambuco tem apoio das principais prefeituras ::

Solidariedade

Última postulante a entrar na corrida, a deputada federal Marília Arraes deixou o PT e ingressou no Solidariedade (SD), partido que agora está sob seu comando em Pernambuco. A sigla tem histórico de aliança nacional com o PSDB e local com o PSB. Mas para 2022 o SD está fechado com Lula (PT) e localmente saiu da Frente Popular para lançar Marília.

A pré-candidata corre contra o tempo para formar suas alianças com prefeitos e grupos opositores estado adentro. Arraes já conquistou apoio de quatro deputados estaduais, que deixaram suas siglas e se filiaram ao SD. São eles: Wanderson Florêncio (ex-PSC), Gustavo Gouveia (ex-DEM), Fabíola Cabral e Fabrizio Ferraz (ambos ex-PP).

Outros nomes de peso são os de Luciano Duque, ex-prefeito de Serra Talhada (2013-2020); e Júlio Lóssio (SD), ex-prefeito de Petrolina (2009-2012). Se o PSB tem a força da máquina para ajudar a atrair prefeitos, Marília Arraes tem conseguido angariar apoio de muitos grupos de oposição às gestões municipais, mudando a imagem do ato de lançamento de sua candidatura.

O comum em Pernambuco é que o senador eleito seja aquele que integra a chapa do governador eleito. Como o cenário para a disputa do governo ainda é incerto, difícil mesmo de apontar favoritos no momento, nenhum desses deputados estaduais está disposto, por hora, a arriscar seu mandato numa aventura ao Senado. Deste modo, Marília Arraes ainda não tem nomes definidos para sua vice ou Senado.

E como sua postulação é de apenas um partido, o seu próprio, suas opções de nomes estão restritas. Também por isso ela tem feito sinalizações a dirigentes partidários da Frente Popular que podem estar insatisfeitos. Acenou para os deputados federais Raul Henry (MDB) e para o próprio André de Paula (PSD).

Um partido que perdeu espaço na Frente e pode encontrar abrigo em Arraes é o PDT de Wolney e José Queiroz. Há quem aponte a possibilidade de Marília Arraes buscar o PSOL, podendo repetir a parceria da disputa municipal de 2020.

PSOL e Rede

O partido tem como pré-candidato ao Governo do Estado o advogado e ex-superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) João Arnaldo. Ele foi vice na chapa de Marília Arraes em 2020, na disputa pela Prefeitura do Recife. Uma dificuldade na repetição da parceria é o fato de Marília estar hoje no Solidariedade.

O PSOL também mantém canal aberto com o PCB, que tem Jones Manoel pré-candidato ao governo. Mas os partidos não mostram, ao menos por enquanto, disposição em abrir mão de suas candidaturas próprias.

O PSOL tem definido, desde o fim de 2021, que sua candidata ao Senado é Eugênia Lima, 35 anos, também advogada, com história junto a grupos culturais de Olinda, onde foi gestora da pasta de juventude na gestão de Luciana Santos (PCdoB) há 15 anos. Eugênia é filiada ao PSOL desde 2015 e preside o diretório municipal do partido em Olinda. Até o momento ela é a única pré-candidata ao Senado no campo da esquerda.

Eugênia já foi candidata ao Senado (2018) e a vereadora de Olinda (2020) / Divulgação

Em 2020 ela foi candidata a vereadora em Olinda, sendo a 8ª mais votada, com 2,8 mil votos, mas a chapa do PSOL não alcançou o coeficiente eleitoral, impedindo que ela conquistasse uma das 17 cadeiras. Em 2018 ela foi candidata ao Senado, tendo ficado em 8º lugar, com 113,7 mil votos (1,7%).

O PSOL firmou nacionalmente uma federação com a Rede – que praticamente não existia em Pernambuco, mas se tornou a nova casa do deputado federal Túlio Gadêlha (ex-PDT), o que atraiu uma série de pré-candidatos a deputados estaduais.

Caso a chapa seja puro-sangue, a vice deve vir da Rede. Apesar de ter maioria dos votos no processo decisório da federação, a parceria em nome da ampliação também força uma “moderação” do PSOL em direção à Rede, o que pode atrapalhar diálogos com o PCB e a Unidade Popular (UP).

PCB e UP

O PCB tem como pré-candidato ao Governo do Estado o historiador e assistente social Jones Manoel (PCB). O partido não definiu a vice ou a candidatura ao Senado da chapa, já que espera atrair aliados, que podem ser alocados nessas posições.

Além das conversas com o PSOL, o PCB tem mantido diálogo com o a Unidade Popular (UP), ferramenta eleitoral do antigo Partido Comunista Revolucionário (PCR). A UP ainda não lançou pré-candidato ao governo, o que pode ser uma sinalização de disposição para compor uma aliança.

Em março o Brasil de Fato fez um a entrevista com Jones Manoel: “Vamos surpreender muita gente”, diz Jones Manoel, pré-candidato ao Governo de Pernambuco.

E a direita?

A chapa encabeçada pelo bolsonarista Anderson Ferreira (PL), ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes, é a única da direita que tem um candidato ao Senado definida. O nome é o do “sanfoneiro de Bolsonaro”, Gilson Machado Neto (PSC). Com formação em veterinária, ele tocou na banda de forró Brucelose entre os anos 1990 e 2000. Foi filiado ao PFL, DEM, PHS, PMDB, novamente DEM, PSL e agora PSC.

Foi levado por Bolsonaro para a presidência da empresa pública de incentivo ao turismo no Brasil (Embratur) e, de 2020 a 2022, foi ministro do Turismo, tendo apoiado a tentativa do Governo Federal de tomar de Pernambuco a gestão da ilha de Fernando de Noronha.

Gilson Machado (PSC), ao centro; e Anderson Ferreira (PL), à direita, são os candidatos de Bolsonaro em Pernambuco / Reprodução
Gilson Machado Neto é de uma família de políticos e empresários com origem na exploração da cana de açúcar em Pernambuco. Seu tio Gilson Machado Filho (falecido em 2018) foi também empresário da cana, deputado constituinte conservador, tendo defendido a inclusão da pena de morte no Código Penal.

PSDB e Cidadania

A chapa liderada por Raquel Lyra (PSDB), ex-prefeitura de Caruaru, também não tem definida sua candidatura ao Senado. Os nomes mais fortes da aliança são os deputados federal Daniel Coelho e estadual Priscila Krause (ambos do CD). Enquanto Coelho não se mostra disposto a abrir mão da Câmara Federal para uma aventura incerta, Krause tem se mostrado mais disposta. Ela é um nome conhecido na região metropolitana do Recife e filha do ex-prefeito Gustavo Krause, o que poderia ajudar a candidatura de Raquel a ganhar visibilidade na RMR. Mas nada está decidido ainda e nem parece haver pressa.

União Brasil e Podemos

Encabeçada pelo ex-prefeito de Petrolina e também bolsonarista Miguel Coelho (UB), a candidatura do União Brasil tem relativa força no Sertão (atraindo inclusive prefeitos do PT), mas ainda luta para se consolidar na região metropolitana. Assim como no caso da chapa de Raquel Lyra, os nomes para o Senado e vice podem ser definidos visando dar amplitude geográfica à chapa.

Leia: Em Pernambuco, direita ressurge com Miguel Coelho em novo “superpartido”

Entre os apoios, a chapa tem o senador e pai de Miguel, Fernando Bezerra Coelho (MDB), que deve ser candidato a deputado federal; os deputados Ricardo Teobaldo (Podemos), Romero Albuquerque, Romero Sales Filho, Alessandra Vieira (todos do UB), além dos irmãos de Miguel, Fernando Coelho Filho (UB) e Antônio Coelho (UB).

Calendário eleitoral

Os partidos ainda têm três nesses para se decidirem. O período de convenções partidárias é um intervalo de duas semanas, de 20 de julho a 5 de agosto, quando as siglas devem tomar uma decisão sobre coligações (majoritárias) e definir seus candidatos tanto da chapa majoritária (governador, vice e senador) como proporcional (deputados federais e estaduais).

Dois meses antes, já no dia 15 de maio, os pré-candidatos podem iniciar sua arrecadação online através de financiamento coletivo. Mas eles só terão acesso ao recurso se seus partidos (ou federações partidárias) registrarem suas candidaturas (até o dia 15 de agosto) junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

No início de junho (até o dia 15), o TSE deve divulgar os valores do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) a serem repassados a cada partido, proporcionalmente ao número de cadeiras de cada sigla na Câmara Federal.

As campanhas eleitorais, com propaganda nas ruas e na internet, têm início no dia 16 de agosto. As propagandas na TV e rádio são veiculadas a partir do dia 26 de agosto. As propagandas se encerram nos dias 29 de setembro (TV e rádio), 30 de setembro (jornal impresso e internet) e 1º de outubro (carros de som e panfletos).