Especialista em Direito Internacional comenta falas de Bolsonaro no Flow Podcast

Para o advogado Daniel Toledo, Bolsonaro tocou em temas importantes durante as cinco horas de entrevista, mas foi contraditório em alguns momentos

O presidente Jair Bolsonaro (PL) foi entrevistado no Flow Podcast na última segunda-feira (8). A conversa teve mais de cinco horas de duração e foi transmitida ao vivo no YouTube, com o político falando sobre diversos assuntos polêmicos e algumas pautas sensíveis relacionadas a temas sociais, políticos e econômicos no Brasil.

Durante a entrevista, Bolsonaro declarou que muitas pessoas estão tirando seus passaportes para sair do Brasil, segundo ele, por medo da eleição de políticos de esquerda. Mas, de acordo com Daniel Toledo, advogado que atua na área do Direito Internacional, esse não é o principal motivo por trás do aumento nas solicitações de passaportes. “Realmente nós tivemos um problema muito sério na Argentina, no Chile e na Venezuela, e vemos a esquerda aumentando seu poder na América do Sul. No entanto, o grande número de pedidos de passaportes se dá, principalmente, porque durante a pandemia muitas pessoas não conseguiram renová-los e muitos expiraram nesse período. Além das solicitações que acontecem normalmente, nós temos o acúmulo dessa outra demanda que se deu pela crise causada pela Covid-19”, revela.

Segundo Toledo, o número de pessoas que têm o desejo de sair do Brasil está aumentando há algum tempo. “Muitos quiseram sair do país não só pelo crescimento da esquerda ou da direita, mas sim pelo caos que foi instaurado durante a pandemia em todos os países do mundo. Por isso, considero essa fala do presidente uma meia verdade”, pontua.

O advogado acredita que participar de uma entrevista no Flow Podcast, programa que foi palco de uma série de polêmicas nos últimos meses, vai na contramão dos valores pregados por Bolsonaro. “Óbvio que é um canal que tem uma visibilidade gigantesca e o movimento faz sentido em um ano eleitoral. Mas quando você prega valores como Deus, pátria e família, e vai em canal que, recentemente, viu um dos seus apresentadores defender a criação de um partido nazista no Brasil, que é um regime que matou milhões de pessoas ao redor do mundo, realmente me parece um pouco contraditório. Além disso, esse mesmo apresentador fazia o uso rotineiro de drogas durante os programas, algo que é amplamente rejeitado pelo presidente. A ideologia política pode até ser a mesma de Bolsonaro, mas as ideologias filosóficas são bem diferentes”, relata.

Para o especialista em Direito Internacional, o presidente deveria ser mais claro e coerente ao falar das questões relacionadas aos debates políticos. “Em dado momento da entrevista, Bolsonaro afirma que não vai aos debates porque figuras como Ciro Gomes apenas o chamariam de ladrão em rede nacional. Acredito que ele deva participar dos debates para, justamente, rebater esse tipo de acusação com informações e dados certeiros. Quando estamos falando de um Presidente da República, é preciso esclarecer esse tipo de situação e deixar que as pessoas decidam o que farão durante as eleições. Colocar panos quentes em temas polêmicos é algo que o ex-presidente Lula, por exemplo, faz muito bem. Mas não acredito que seja a melhor das estratégias”, declara.

Embora Bolsonaro defenda a liberdade de expressão e de imprensa, Toledo vê que durante a entrevista algumas pautas não puderam ser abordadas. “Muitas colocações do Bolsonaro fazem sentido e acho que foram muito bem apresentadas, mas parece que houve a instrução de não comentar sobre determinados assuntos e, algumas vezes, dá para perceber que o entrevistador estava pisando em ovos para não falar de temas que fossem desconfortáveis. No entanto, o próprio presidente falou na mesma entrevista que os assuntos da imprensa deveriam ser liberados e não deveriam ter controle”, pontua.

De acordo com o advogado, a polarização política que tomou conta do Brasil não traz benefício algum. “É lamentável que, com as altas taxas de desemprego e a instabilidade econômica enfrentada pelo País, as pessoas se concentrem apenas na escolha entre esses dois candidatos. Isso é uma forma de demonstrar o quanto nós estamos atrasados na criação de governantes reais que possam, realmente, fazer uma mudança efetiva no cenário político nacional”, finaliza