“Padrão FBI” e porte de armas: Capitão Wagner esconde Bolsonaro mas mantém pautas bolsonaristas

Os números apontam que o Nordeste sempre foi reduto do Partido dos Trabalhadores. As últimas pesquisas indicam vitória esmagadora na região de origem do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o presidente Jair Bolsonaro (PL), que tenta a reeleição. De acordo com a última pesquisa Quaest, divulgada esta semana, Lula aparece com 60% das intenções de voto no Nordeste contra apenas 21% do atual presidente.

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Ainda segundo os últimos levantamentos divulgados pelos institutos de pesquisa, apenas o candidato a governador do Ceará Capitão Wagner (União Brasil) figura entre os apoiadores de Bolsonaro com reais chances de disputar o segundo turno das eleições no Nordeste.

Buscando competitividade, desde o início da campanha, Wagner tenta desvincular sua imagem à do Presidente da República, chegando a falar em diversas oportunidades públicas de que não é apadrinhado de Bolsonaro, não concorda com todas as iniciativas do presidente e que será o governador de todos os cearenses, dialogando com qualquer presidente. Nas redes sociais de Wagner também não há nenhuma foto ou referência a Bolsonaro.

No entanto, ao comparar a atuação dos dois candidatos, é possível encontrar muitas similaridades em suas propostas, especialmente na área da Segurança Pública. No Congresso Nacional, Wagner, Deputado Federal e Capitão da Polícia Militar, votou a favor da liberação do porte de arma para colecionadores, atiradores e caçadores, quando o PL das armas foi aprovado na Câmara Federal, em 2019.

No primeiro debate para as eleições de 2022 no Ceará, o próprio candidato disse ser a favor da flexibilização das regras para que o cidadão comum possa portar uma arma no Brasil.

Outra semelhança pode ser encontrada na votação da Câmara pelo voto impresso. Capitão Wagner votou a favor do projeto rejeitado que tentava alterar a constituição e retornar o voto impresso nas eleições do Brasil, considerada uma das mais seguras e céleres do mundo, em virtude da confiabilidade das urnas eletrônicas.

Wagner se afina a linha bolsonarista que defende maior acesso a armas, admira militares e reverência os Estados Unidos. A principal proposta do candidato na área da Segurança Pública, por exemplo, é instituir o “Padrão FBI” de investigação com a ajuda do ex-agente da polícia estadunidense, George Piro, que aparece na propaganda eleitoral de Wagner afirmando que “se você escolher Wagner como seu governador, em 1º de janeiro de 2023 eu estarei lá para mudar o Ceará”.

A Coligação ‘Ceará Cada Vez Mais Forte’, liderada pelo PT, chegou a  entrar com uma ação junto ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) pedindo a retirada da peça do candidato do União Brasil, por veiculação de fake news na propaganda de rádio e televisão. De acordo com o texto da ação, Wagner induz os eleitores a acreditarem na promessa de que, se eleito, implantará no Estado métodos e ações usadas pelo FBI para o combate à criminalidade. O candidato Roberto Cláudio (PDT) também questionou Wagner durante um debate eleitoral e chamou a proposta de “imoral e ilegal”, tendo em vista a contratação dirigida da empresa de um apoiador/amigo.

Na terça-feira (27), o portal de notícias The Intercept_Brasil publicou uma reportagem escrita pela jornalista Nayara Felizardo revelando, entre outras coisas, que a parceria de Capitão Wagner, candidato ao cargo de governador do Ceará pelo União Brasil, com o FBI não existe. Segundo a reportagem, os programas eleitorais do candidato apresenta uma figura até então desconhecida dos brasileiros como principal destaque: o ex-agente do FBI George Piro. 

A reportagem informa que o ex-agente se aposentou do FBI em julho e que não há compromisso algum do órgão americano com o Capitão Wagner. Diz ainda que segundo o site Flórida Bulldog, George Piro pediu aposentadoria após ser chamado na sede do FBI em Washington para explicar porque não havia investigado o xerife Gregory Tony, acusado de corrupção em licitações para compra de kits de primeiros socorros. Ele trabalhava no condado de Broward, na Flórida, e Piro liderava o escritório do FBI em Miami, capital do estado, desde 2018. Era, portanto, responsabilidade sua investigar o caso, mas ele o transferiu para o escritório do FBI na Carolina do Sul.

Ainda segundo o site, Piro teria se negado a tocar a investigação, porque não queria ser responsável pela prisão do primeiro xerife negro da região, nem arruinar sua relação com o gabinete de Tony, com quem trabalhava frequentemente. A interferência indevida, diz outra reportagem do Flórida Bulldog, fez a investigação parar. Descontente com a atitude do chefe, um subordinado teria reclamado, mas o caso só retornou ao escritório do FBI em Miami após a aposentadoria de Piro.

De acordo com a reportagem, Piro não foi “diretor do órgão por 23 anos”, como alega Wagner na Propaganda Eleitoral, mas ele trabalhou para o FBI por 24 anos, tendo sido por um tempo diretor assistente da Divisão de Operações Internacionais na sede do FBI. Nos últimos anos, porém, Piro ocupou o cargo de “agente especial encarregado do escritório de campo do FBI em Miami”.

O Intercept informa que não conseguiu respostas do FBI sobre o caso e que Capitão Wagner não respondeu às perguntas da jornalista sobre a parceria com a polícia estadunidense. O BDF também procurou a assessoria do candidato para que ele explicasse melhor a proposta, mas não teve retorno até o fechamento desta reportagem.

 

Fonte: BdF Ceará

Edição: Camila Garcia