“O envolvimento do governo do DF é evidente”, afirma tenente-coronel aposentado da PMSP

O governador do Distrito Federal Ibaneis Rocha (MDB), seu secretário de Segurança Pública Anderson Torres e o comandante da Polícia Militar do DF, o coronel Fábio Augusto Vieira, devem ser responsabilizados pelo ato criminoso de bolsonaristas que invadiram a sede dos Três Poderes em Brasília, na tarde deste domingo (8). A análise é de Adilson Paes de Souza, mestre em Direitos Humanos pela Faculdade de Direito da USP e tenente-coronel aposentado da Polícia Militar de São Paulo.

“O governo do Distrito Federal como um todo, e não só o secretário de Segurança Pública, é responsável pela omissão flagrante. Não fiz nada. Basta lembrar do que aconteceu na noite da diplomação do Lula [12 de dezembro] e até agora nada foi feito pelo governo do Distrito Federal”, afirma Souza.

“Claramente tinham poucos aguardados. Havia policiais tirando foto e havia aguardados escoltando os manifestantes até a Praça dos Três Poderes. Os envolvimentos do governo do Distrito Federal através de suas autoridades da Polícia Militar são evidentes. Óbvio que os bolsonaristas são responsáveis. E inclusive não tem como descartar a responsabilidade do Jair Bolsonaro”, disse o tenente-coronel aposentado da PM-SP.

“Dava muito bem para avaliar a gravidade da situação, que vinha piorando há muito. Basta relembrar o que aconteceu quando o Lula foi diplomado. Aquilo lá já foi em ensaio. Como nada aconteceu, encorajou. O governo do Distrito Federal e as autoridades no mínimo foram participantes da missão desses atos terroristas.”

Na mesma linha, a cientista política, antropóloga e especialista em Segurança Pública Jacqueline Muniz, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), avalia que “a demora da ação policial, antes de ser uma decisão tática, é uma decisão política do governador”, escreveu em seu perfil no Twitter.

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“A invasão do Congresso, do Planalto e do STF contorna com a tinta da caneta do governante. O deixar acontecer é passível de responsabilização. Deve-se responsabilizar toda a cadeia de comando e controle, do governador ao policial de ponta”, disse a pesquisadora.

“O governador do DF fez um policiamento de figuração, em função das contas políticas que fez sobre rendimentos políticos a serem extraídos da invasão encenada e publicizada no verso e prosa ao longo da semana.”

O governador do DF se desculpou pela invasão à sede dos Três Poderes em vídeo divulgado em suas redes sociais ainda neste domingo (8). Ibaneis Rocha afirmou que desconhecia a gravidade da manifestação golpista que se aproximava da Esplanada dos Ministérios.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no entanto, afirmou que não aceita as desculpas enviadas pelo governador do DF. O petista assinou um decreto, mais cedo, autorizando a intervenção federal na Segurança Pública do Distrito Federal até 31 de janeiro deste ano.

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José Múcio e Flávio Dino

Adilson afirma ainda que o atual ministro da Defesa, José Múcio, também deve ser responsabilizado. “Na noite da diplomação do Lula houve a omissão da cúpula do governo do Distrito Federal. Por que ele não mandou instaurar inquérito contra governador e secretário de segurança pública do Distrito Federal?”, questiona Adilson.

O mestre em Direitos Humanos relembrou que Múcio classificou, durante sua cerimônia de posse no dia 2 de janeiro, os acampamentos de bolsonaristas em frente aos quartéis militares como “manifestação da democracia”.

“Eu falo com autoridade porque tenho pais lá. No de Recife, tenho alguns amigos aqui [Brasília]. É uma manifestação da democracia. A gente tem que entender que nem todos os adversários são inimigos, a gente tem até inimigos correligionários. Eu acho que daqui um pouquinho aquilo vai se esvair e chegar a um lugar que todos nós queremos”, disse Múcio na ocasião.

O tenente-coronel aposentado também aponta para uma possível falha na atuação do atual ministro da Justiça Flávio Dino, que deve, em suas palavras, ser compreendido. “Ele falhou em não ter informações sobre a real gravidade da situação, falhou em não cobrar ostensivamente de forma forte proteção aos prédios dos três poderes”, afirmou.

Edição: Glauco Faria