Ativistas e policiais atolados na lama: protesto denuncia impacto de mina de carvão na Alemanha

Aproximadamente 35 mil pessoas foram reprimidas com cassetetes e canhões de água pela polícia alemã, no último sábado (14), em um protesto contra a expansão de uma mina de carvão a céu aberto, que ganhou repercussão internacional.  

Com a participação da ambientalista sueca Greta Thunberg, o ato aconteceu em solidariedade aos ativistas que estão acampados há meses, em vigília, em Lützerath. A vila fica na bacia do rio Reno, entre Dusseldorf e Colonia, e deve desaparecer para dar lugar ao projeto extrativista da empresa alemã de energia RWE.  

Por conta do interesse na mineração do linhito presente na região, a vila de Lützerath começou a ser evacuada na última quarta-feira (11). Depois da repressão de sábado, neste domingo (15) autoridades alemãs anunciaram que removeram todos os ativistas climáticos da região, inclusive os que estavam em árvores. Como uma estratégia para dificultar a remoção, ambientalistas criaram estruturas com redes no topo dos seus galhos. 

O argumento do governo alemão, sob comando do primeiro-ministro Olaf Scholz, é de que a expansão da mina de carvão é necessária para atender à demanda energética do país diante da crise de abastecimento criada pela guerra da Rússia contra a Ucrânia.    

Ambientalistas contestam e argumentam, por meio da campanha “Lützerath vive”, que “a RWE quer demolir a vila para queimar 650 milhões de toneladas de linhito”, que isso resultaria em enormes quantidades de emissões de gases de efeito estufa e, assim, a Alemanha quebraria o acordo climático de Paris.  

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Em um discurso durante o protesto, Greta Thunberg defendeu que “o carvão de Lützerath deve permanecer no solo”, para que o meio ambiente não seja sacrificado às custas “do crescimento a curto prazo e da ganância empresarial”. 

De acordo com a agência de notícias AFP, o confronto entre policiais e manifestantes deixou dezenas de feridos e detidos. Processos criminais foram instaurados em cerca de 150 casos. Entre eles, acusações de resistência contra policiais e danos à propriedade. 

Bem equipados ao estilo “robocop” da polícia militar paulista, os agentes de segurança alemães não se prepararam, no entanto, para lidar com a lama do local, reforçada pela água usada por eles próprios na repressão aos manifestantes. Vídeos os mostram atolados, caindo sozinhos (ou com a ajuda de uma pessoa vestida de monge): 

Ataques à sede do partido alemão Os Verdes 

Outros protestos aconteceram em diferentes partes da Alemanha. Na última sexta-feira (13), escritórios do partido alemão Os Verdes, em Berlim, foram pichados e contêineres incendiados. 

O partido, que se apresenta como defensor das causas ambientais, faz parte de uma coalizão com o Partido Democrático Liberal de Olaf Scholz e assinou um acordo com o governo e a empresa RWE, liberando a expansão do empreendimento, desde que o uso de carvão acabe em 2030 (ao invés de 2038, como estava previsto inicialmente).  

Edição: Daniel Lamir