Lula em Roraima: "Não vai mais existir garimpo ilegal"

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que o governo vai atuar para acabar definitivamente com o garimpo ilegal. A afirmação foi feita após visita a um hospital indígena e à Casa de Saúde Indígena em Boa Vista, capital de Roraima, neste sábado (21).

Lula foi ao estado para ver de perto a tragédia humanitária vivida pelo povo Yanomami. Na gestão de Jair Bolsonaro (PL), organizações sociais, movimentos populares e sociedade civil denunciaram o descaso com as comunidades.

Nos últimos anos, elas vêm sofrendo com a presença de garimpeiros, falta de comida, contaminação da água e falta de políticas públicas. Há registros de casos severos de desnutrição, mortes por doenças evitáveis, violência e até estupros. O garimpo ilegal e a falta de compromisso do governo anterior no combate à atividade são apontados como as principais causas do cenário. 

“Não vai mais existir garimpo ilegal. Eu sei das dificuldades de tirar o garimpo ilegal. Sei que já se tentou e eles voltam. Mas nós vamos tirar” disse Lula.

Yanomami: emboscada de garimpeiros mata indígena e deixa adolescente em estado grave

O governo informou que pelo menos 570 crianças morreram de desnutrição, diarreia e outras causas evitáveis nos últimos quatro anos. Somente do dia 24 a 27 de dezembro foram três óbitos registrados. Em 2022, foram mais de 11,5 mil casos de malária entre os povos.

“Se alguém me contasse que, aqui em Roraima, tinham pessoas sendo tratadas da forma desumana que eu vi o povo Yanomami sendo tratado, eu não acreditaria. Não podemos entender um país que tem as condições que têm o Brasil deixar os nossos indígenas abandonados como eles estão aqui”, afirmou o presidente.

Lula informou que o Ministério da Saúde deve modificar a dinâmica de atendimento aos indígenas afetados pela crise sanitária. Equipes do Sistema Único de Saúde (SUS) serão enviadas para as aldeias para evitar o deslocamento das próprias populações e iniciar um trabalho estrutural nos territórios.

Nove crianças Yanomami morrem por falta de atendimento em dois meses, diz associação

O Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) disponibilizou também uma brigada de médicos e médicas para atuar na região e vai iniciar a doação de alimentos agroecológicos para as comunidades.

“Eu vim aqui firmar o compromisso com os caciques. O compromisso com nossos queridos irmãos de que vamos dar a eles a dignidade que eles merecem na saúde, na educação, na alimentação e no direito de ir e vir. Nós vamos levar muito a sério essa história de acabar com qualquer garimpo ilegal”, ressaltou Lula.

Na sexta-feira (20), o governo federal determinou que um grupo de trabalho envolvendo diversos ministérios comece a atuar para conter a tragédia humanitária.

Publicado em edição extra do Diário Oficial da União (DOU), o decreto institui 90 dias para os trabalhos da chamada Coordenação Nacional para Enfrentamento à Desassistência Sanitária das Populações em Território Yanomami. Segundo o texto, o comitê tem 45 dias para apresentar um “plano de ação estruturante” com respostas à crise.

Indígena yanomami é assassinada em Roraima e associações pedem “investigação minuciosa”

Em paralelo à criação do comitê, o Ministério da Saúde declarou estado Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional nos territórios Yanomami. A pasta criou também o Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública (COE – Yanomami), sob responsabilidade da Secretaria de Saúde Indígena (SESAI). O grupo vai atuar em campo, mas também na mobilização de recursos e na articulação entre estados, municípios e o Sistema Único de Saúde (SUS).

Desde o início da semana, a região recebe equipes do Ministério da Saúde e do SUS. A intenção inicial era fazer um diagnóstico da situação. Mas casos gravíssimos tiveram que ser atendidos de imediato.

Crianças em estado severo de desnutrição chegaram a ser levadas para hospitais da região de helicóptero. De acordo com o Ministério da Saúde, também foram encontrados idosos em condições graves por inanição, número expressivo de doentes por malária, infecções respiratórias agudas e outras doenças.

Edição: Thales Schmidt