No Uruguai, Lula diz a Lacalle Pou que apoia acordo comercial com China dentro do Mercosul

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva viajou a Montevidéu pra reunir-se com o presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, nesta quarta-feira (25). A visita ao país vizinho foi seguida da participação de Lula na 7ª Cúpula da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), em Buenos Aires. 

Apesar de já ter encontrado o líder uruguaio durante o encontro da Celac, a viagem de Lula foi um gesto para demonstrar a disposição do governo brasileiro em dialogar com seus vizinhos.

De acordo com o presidente uruguaio, a reunião foi dividida em dois grandes temas: infraestrutura, com as obras de uma hidrovia e uma ponte binacional; o outro assunto foram as relações multilaterais. 

Um dos principais objetivos do encontro era convencer Lacalle Pou a não abandonar o Mercado Comum do Sul (Mercosul) e seguir o estatuto do bloco para assinar um novo pacto de livre comércio com a China. 

“Acredito no multilateralismo. Quero fortalecer o Mercosul, a Unasul e a Celac. E brigar por uma nova governança global. O mundo hoje não é o mesmo de 1945 quando a Organização das Nações Unidas foi criada. O mundo e a situação geopolítica de hoje são outros”, disse. 

O acordo foi a polêmica central nas três últimas cúpulas do Mercosul, já que o Uruguai acelera as negociações por fora do bloco com Pequim. A disputa se acirrou na última reunião, quando Argentina assumiu a presidência temporária do bloco e disse que se o governo uruguaio avançasse com o acordo, iria representar uma ruptura com o Mercado Comum do Sul.

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Lacalle Pou trocou farpas com Alberto Fernández durante o encontro e voltou a fazer declarações hostis na Cúpula da Celac, na última terça-feira (24), classificando os outros países do Mercosul como “protecionistas”.

O presidente brasileiro disse que as demandas do uruguaio são justas. “Primeiramente porque seu papel é defender os interesses do seu país, sua economia e seu povo. Segundo porque é justo querer produzir mais e vender mais”, declarou.

“Tento ser sempre objetivo nas relações internacionais. A questão é que o Uruguai não pode esperar tanto tempo, precisamos ser mais rápidos”, disse otimista Luis Lacalle Pou.

O Uruguai propôs a criação de uma comissão técnica para definir os detalhes do acordo com o governo chinês e disse estar disposto a compartilhar as informações com os demais membros do bloco. 

Lula ainda acenou para apoiar nas tratativas de um novo pacto comercial, que passe pelo aval dos outros membros do bloco.

“Estamos totalmente de acordo com as ideias de inovação e abertura do Mercosul. O que precisamos fazer para modernizar o Mercosul? Queremos sentar com nossos técnicos, depois com os ministros e finalmente com os presidentes para renovar o que for necessário”, salientou o presidente brasileiro.

Lula disse que acredita ser possível assinar um acordo comercial com a China e que o acordo com a União Europeia, que se discute há 15 anos, é “urgente e necessário”. 

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Lula recordou que durante seu primeiro mandato, em 2003, assumiu uma política externa altiva e ativa com os vizinhos, por isso demanda que o aeroporto de Riviera, na fronteira entre os dois países, torne-se uma base aérea internacional.

“Por ser a maior economia da América Latina deveríamos ter uma política parceira com nossos vizinhos e dar maior suporte econômico […] Era parte da nossa visão ajudar para que todos os países cresçam juntos”, disse.

O Brasil é o principal destino das exportações uruguaias, responde a cerca de 17,6% e é o segundo país no ranking das importações de Montevidéu, ficando atrás somente da China, segundo dados do Ministério de Comércio Exterior do Uruguai.

Por fim, Lula ainda falou sobre sua boa relação com os antecessores do atual presidente uruguaio, os dirigentes da Frente Ampla, Tabaré Vásquez e José Mujica, salientando que apesar das diferenças políticas, iria priorizar uma relação de respeito com o direitista Lacalle Pou.

“Os presidentes não precisam gostar de mim […] A relação entre dois chefes de Estado exige duas coisas: respeito à soberania de cada país e interesses de fazer o bom para o povo de cada país”, concluiu.

Edição: Rodrigo Durão Coelho