Brasília – Mensagens, vídeos, áudios e depoimentos obtidos pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e pela Polícia Federal (PF) revelam que a tentativa de impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva está diretamente ligada aos atos terroristas de 8 de janeiro. Segundo o procurador-geral da República, Paulo Gonet, os ataques contra os Três Poderes fizeram parte de um plano para provocar uma “ruptura institucional”, envolvendo “fomento” e “facilitação” por integrantes do governo Jair Bolsonaro e militares da ativa.
Investigados discutiram estratégias após a eleição
A análise da PF mostra que, logo após o segundo turno de 2022, militares começaram a articular formas de anular o resultado das urnas. Entre os investigados, está o tenente-coronel Guilherme Marques de Almeida, que, em áudios interceptados, falou sobre “preparativos” e defendeu uma estratégia de comunicação para fortalecer o movimento golpista.
– “Algumas coisas já estão sendo feitas, né… Preparativos, não de operação nem nada, mas de estratégia comunicacional”, disse Almeida a um interlocutor.
A investigação mostra que ele, então comandante do 1º Batalhão de Operações Psicológicas, incentivou manifestações e disseminou desinformação em grupos de WhatsApp. Em um dos áudios divulgados pelo jornal O Globo, Almeida sugeriu que os protestos se concentrassem no Congresso Nacional.
– “Não adianta protestar na frente do QG do Exército, tem que ir para o Congresso. E as Forças Armadas vão agir por iniciativa de algum Poder”, afirmou.
Mensagens reforçam envolvimento de militares
Conversas entre militares indicam articulação. Em um diálogo com Mauro Cid, o tenente-coronel Rafael Martins Oliveira questiona:
– “A pedida é ir para o CN (Congresso Nacional) e STF? As FFAA vão garantir a permanência lá?”
Cid responde:
– “Vão”.
De acordo com a PGR, oficiais das Forças Especiais, conhecidos como “kids pretos“, estavam infiltrados nos acampamentos e participaram do planejamento dos atos de 8 de janeiro.
Bolsonaro estava nos EUA durante os ataques
No dia das invasões aos Três Poderes, Jair Bolsonaro estava nos Estados Unidos. A PF afirma que ele recebeu mensagens de militares perguntando se deveriam “desmobilizar a tropa ou permanecer em alerta”. Para os investigadores, sua ida ao exterior teve o objetivo de evitar uma possível prisão e acompanhar os desdobramentos das manifestações.