Putin responsibiliza Europa por crise do gás, mas estende a mão

Moscou, 13 out (EFE).- O presidente da Rússia, Vladimir Putin, responsabilizou a Europa pela crise do gás devido à falta de previsão ao acumular reservas, mas ofereceu ajuda ao afirmar que seu país está disposto a aumentar os envios ao continente europeu se for solicitado.

“Estamos prontos para tomar quaisquer medidas adicionais”, disse o chefe do Kremlin em seu discurso na sessão plenária do fórum Semana da Energia da Rússia.

Putin disse que o mercado do gás, especialmente na Europa, “não parece equilibrado e previsível neste momento, e nem tudo depende só dos produtores, mas também, em igual ou maior grau, dos próprios consumidores”.

DÉFICIT DE ELETRICIDADE.

O governante russo frisou que o aumento dos preços do gás natural na Europa se deve ao déficit de eletricidade causado pela queda na produção de energia eólica, e não o contrário, e que muitos países não reabasteceram a tempo os seus estoques de gás.

“Nos últimos dez anos, foram introduzidas falhas sistemáticas passo a passo no sistema energético europeu e isto levou a uma crise energética”, disse Putin, que recordou que quando a produção de energia nuclear e a produção de gás ocupavam posições dominantes no setor energético não havia crise.

Ele insistiu que a Rússia “cumpre impecavelmente as suas obrigações contratuais” com os seus parceiros, incluindo os europeus, aos quais neste ano aumentou o fornecimento de gás em 15% e o fornecimento de gás natural liquefeito (GNL) em 13%.

PASSAGEM PELA UCRÂNIA.

Apesar das tensões entre Moscou e Kiev, o presidente garantiu que a Rússia está disposta a manter ou até mesmo aumentar os carregamentos de gás para a Europa através da Ucrânia depois de 2024, quando os contratos atuais expirarem.

No entanto, destacou que isto dependerá dos volumes contratados pelos parceiros europeus, uma vez que se trata de uma questão puramente econômica.

Contudo, alertou para os riscos da utilização do sistema de oleodutos ucraniano, que, segundo ele, “não foi reparado durante várias décadas”.

A Ucrânia tem receio que a Rússia deixe de utilizar o seu gasoduto quando o Nord Stream 2, que transportará gás russo diretamente para a Alemanha através do fundo do mar Báltico, estiver operacional. O trânsito do gás russo através do território ucraniano rende US$ 2 bilhões a Kiev anualmente.

CONTRATOS A LONGO PRAZO E REJEIÇÃO DE IMPOSTO.

Putin insistiu que as empresas russas não se beneficiam dos preços elevados do gás no mercado à vista, uma vez que operam, na maioria das vezes, com contratos de longo prazo.

Ele disse que os alemães deveriam “agradecer” ao ex-chanceler Gerhard Schröder, já que, por causa dos contratos de gás assinados com a Rússia, a Alemanha “paga agora US$ 300, e não US$ 1.500 por mil metros cúbicos” de gás.

O presidente russo advertiu que a União Europeia (UE) planeja impor um imposto sobre o carbono, o que descreveu como um “instrumento de concorrência desleal” que levará a aumentos de preços. Ao mesmo tempo, observou que a Rússia tem como meta alcançar a neutralidade de carbono até 2060. EFE