Rede Minas retira programa educativo da programação e pode inserir outro evangélico

Em outubro chega ao fim o programa Conversações, que ao longo de quatro anos deu visibilidade aos trabalhos literários, artísticos e culturais organizados fora do eixo comercial. A revista é um dos poucos programas da Rede Minas que tem à frente das telas um apresentador negro e também por isso, a extinção do conteúdo gerou revolta entre os telespectadores e jornalistas.

Coletivo de jornalistas negros Lena Santos se manifesta contra emissora

A decisão da emissora foi publicizada pelo coletivo de jornalistas negros Lena Santos. Em carta enviada ao Conselho Editorial da Rede Minas e ao presidente da Empresa Mineira de Comunicação (entidade que engloba as empresas públicas estaduais de rádio e televisão), o coletivo afirma que o Conversações, sendo um programa apresentado e produzido por um jornalista negro, “abre espaço para o cidadão comum e desperta a sensação de pertencimento no público”. E cobrou ainda a manutenção do programa na grade da emissora. 

O conteúdo é idealizado, produzido e apresentado pelo jornalista Cláudio Henrique, que agora, de acordo com informações da emissora, será remanejado para a direção de outro conteúdo da Rede Minas. 


Carta à Rede Minas / Coletivo Lena Santos

Em resposta ao coletivo, a Rede Minas se posicionou via redes sociais afirmando que “tanto a rádio Inconfidência quanto a Rede Minas estão em processo de reformulação das suas grades de programação”, e que, “o foco, neste momento, é ter produções que ampliem o interesse do público”.



Reprodução / Instagram Rede Minas

A extinção do programa não consta na ata de julho da reunião do Conselho Editorial da emissora, entidade que é responsável por avaliar se os conteúdos veiculados estão de acordo com a linha editorial da Rede Minas. Sobre o caso, a emissora informou à reportagem do Brasil de Fato que “todas as mudanças vão ser apresentadas para os membros, assim que definidas”. 

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Programa evangélico em emissora pública

Outra movimentação na programação, que vai na contramão ao que se espera de uma emissora pública, é a inserção de mais um programa religioso o “A voz do Conselho” na grade da Rede Minas. De acordo com ata da última reunião do Conselho Editorial da empresa, o programa é produzido por uma associação de pastores. A proposta parte do novo diretor de Conteúdo e Programação da EMC, Luiz Henrique Yagelovic, mais conhecido como Ike Yagelovic. 

Em cargo comissionado, o novo diretor da EMC tem vasta experiência em emissoras comerciais. A inserção está em análise no Conselho.



Ata do Conselho / Rede Minas

Atualmente a Rede Minas já exibe outros conteúdos de cunho religioso, como a novela produzida pela rede Record “Os dez mandamentos” e o programa da Igreja Batista da Lagoinha “Profetizando vida”.

Questionada sobre a inclusão de um programa de pastores e de outros conteúdos de cunho religioso em uma emissora educativa e pública, a Rede Minas afirmou que “todos os projetos estão em fase de avaliação”. E que “há anos, a emissora conta com a Faixa Ecumênica. Atualmente, esse conteúdo compreende a exibição de “Profetizando Vida”, “Mãe Maria” e a “Missa Dominical”. Em relação à novela “Os dez mandamentos”, em exibição na TV Brasil, a Rede Minas retransmite a atração, de terça a domingo, às 0h45. A exibição faz parte da troca de conteúdos contratuais que a Rede Minas tem com as emissoras públicas TV Brasil e TV Cultura”, diz a nota.

Desmonte e terceirização 

No início do mês, os trabalhadores da rádio Inconfidência que junto a Rede Minas conformam à Empresa Mineira de Comunicação, anunciaram a possibilidade de entrarem em greve após o governo apresentar um reajuste salarial apenas para os trabalhadores em cargos comissionados. 

A proposta foi apresentada no Plano de Cargos e Salários (PCS) da Empresa Mineira de Comunicação (EMC). Os trabalhadores da Inconfidência denunciam ainda que estão há mais de três anos sem reajuste salarial, que em 2020 foi concedido apenas para os comissionados. Outra denúncia da categoria é que o Plano de Cargos extingue vagas de trabalho que gradualmente seriam ocupadas por trabalhadores terceirizados.

Fonte: BdF Minas Gerais

Edição: Elis Almeida