A combinação de baixa umidade, queimadas e a ausência de chuvas no Estado do Rio de Janeiro tem afetado o abastecimento de água, a qualidade do ar e a saúde dos moradores. Os sistemas de abastecimento Imunana-Laranjal, responsável pela Região Leste Metropolitana, e Acari, que atende parte da Baixada Fluminense, estão em estado de alerta, conforme anunciou a Cedae na terça-feira (10).
Em decorrência da estiagem, Angra dos Reis decretou emergência hídrica, e o fornecimento de água também foi afetado em Mangaratiba e Itaguaí.
Além da crise hídrica, o risco de incêndios no estado é elevado, como temos visto nos últimos dias, com algumas regiões, como Barra do Piraí, Barra Mansa e Vassouras, registrando níveis de perigo classificados como altos ou muito altos, de acordo com o Centro Estadual de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden-RJ).
O Instituto Estadual do Ambiente (Inea), em boletim emitido também na última terça, relatou que quatro das 55 estações de monitoramento indicaram má qualidade do ar, sendo três na Baixada Fluminense e uma em Barra Mansa.
Já para este domingo (15), o tempo muda na capital e a secura deve melhorar graças a passagem de uma frente fria pelo oceano, que irá trazer umidade do mar. É esperada uma chuva fraca em pontos isolados a partir da noite. A temperatura também pode cair e a máxima prevista é de 28 graus.
Aumento de doenças respiratórias
A deterioração da qualidade do ar e a baixa umidade também geraram impacto na saúde pública. O secretário de Saúde do Rio, Daniel Soranz, informou que houve um aumento de 31,2% nos atendimentos de casos de asma e 29,8% nos de bronquite aguda, entre janeiro e agosto deste ano, em comparação ao mesmo período de 2023.
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A situação é agravada pela fumaça das queimadas, que além de reduzir a qualidade do ar, emite partículas tóxicas, como sulfatos, nitratos e monóxido de carbono.
O professor André Ricardo Araújo da Silva, da Faculdade de Medicina da UFF, afirmou que a vegetação mais seca, combinada com os incêndios criminosos, aumenta significativamente os riscos.
“O tempo seco deixa a vegetação vulnerável, e qualquer fagulha pode desencadear um incêndio. A inalação de partículas provenientes das queimadas pode causar irritação nos pulmões, agravando quadros respiratórios preexistentes”, disse ele.
Para a Dra. Patricia Guerra Faveret, pneumologista e docente do IDOMED, “a inalação dessas partículas tóxicas pode causar irritação nos olhos, vias aéreas e agravar doenças respiratórias, especialmente em crianças, idosos e pessoas com condições pré-existentes”.
Ela ainda recomenda que, em situações de baixa umidade, a hidratação é adequada, o uso de umidificadores e a limpeza das narinas com soro fisiológico são medidas importantes para mitigar os efeitos respiratórios.
Araújo também observou que, devido ao caráter litorâneo do estado do Rio, a umidade do mar pode oferecer algum alívio, mas os impactos são mais severos nas regiões do interior. “O ar muito seco provoca dificuldade para respirar, e os idosos e bebês, que são mais vulneráveis, podem sofrer mais com a desidratação e o aumento de casos respiratórios”, acrescentou.
Reservatórios em alerta e impactos no abastecimento
O geógrafo Marcelo Lemes, professor da Estácio, destacou que a falta de chuva na Região Metropolitana do Rio de Janeiro tem resultado em uma diminuição significativa dos níveis dos reservatórios, como o sistema Guandu.
“A redução das chuvas compromete o reabastecimento natural dos reservatórios e agrava a crise hídrica, tornando necessário um racionamento de água em diversas regiões”, afirmou Lemes.
Ele também alertou para a interação entre as queimadas e a escassez hídrica: “As queimadas emitem grandes quantidades de material particulado que podem inibir a formação de chuvas, criando um ciclo negativo em que menos chuva contribui para mais queimadas e essas, por sua vez, agravam a seca”.
Além disso, a qualidade da água disponível também é prejudicada, com o aumento de sedimentos e contaminantes nos corpos hídricos, elevando os custos de tratamento e impactando a saúde pública.
Medidas de prevenção e adaptação
Diante desse cenário, especialistas sugerem medidas preventivas e adaptativas para mitigar os efeitos da seca e das queimadas. Segundo André Araújo, a orientação de pequenos produtores para evitarem queimadas criminosas, juntamente com a punição adequada, é crucial.
Além disso, ele defende campanhas de conscientização para a população quanto ao uso racional de água e a necessidade de evitar atividades ao ar livre nos horários de maior calor.
Patrícia ressaltou a importância de políticas públicas que fiscalizem a emissão de poluentes industriais e incentivem o uso de transporte coletivo. “A preservação das áreas verdes urbanas também é uma medida essencial para a melhoria da qualidade do ar”, comentou.
As perspectivas de recuperação dos níveis de água e a redução das queimadas dependem de fatores climáticos e da implementação de estratégias de manejo ambiental. “Investimentos em sistemas de captação de água, reuso e controle de perdas podem contribuir para a recuperação dos níveis dos reservatórios”, disse Marcelo Lemes.
A onda de secura no estado continua a afetar diversas áreas, e a previsão é de que os desafios relacionados à qualidade do ar, abastecimento de água e saúde pública persistam até que as condições climáticas melhorem.