Rio de Janeiro – Há 50 anos, no primeiro minuto de 15 de março de 1975, os estados da Guanabara e do Rio de Janeiro se tornaram um só. A fusão, única na história da República, ainda gera reflexões entre historiadores e políticos. O processo surpreendeu tanto a população quanto as autoridades e exigiu uma reestruturação administrativa complexa.
O antigo estado da Guanabara correspondia à atual capital fluminense. Já o estado do Rio de Janeiro, antes da unificação, tinha Niterói como capital. Com a fusão, o Rio precisou estabelecer uma prefeitura, mas, inicialmente, sequer possuía sede.
Prefeitura sem sede: despachos improvisados
A falta de planejamento impactou diretamente a administração. O prefeito biônico Marcos Tamoyo (1975-1979) passou sete meses sem local fixo para trabalhar. O Palácio da Cidade, em Botafogo, só foi adquirido após um empréstimo do Banco do Brasil, quitado ao longo de seis anos. Durante esse período, Tamoyo chegou a despachar de um banco na Praia de Copacabana.
O procurador aposentado Roberto Paraíso Rocha, de 96 anos, relembra a situação:
– Diante de outras prioridades na fusão, esqueceram de destinar recursos para a sede. Essa improvisação simbolizou as dificuldades da integração entre os estados.
Estruturas duplicadas e choque cultural
A fusão trouxe desafios administrativos. A nova Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) começou com 98 deputados, pois reuniu parlamentares do antigo estado do Rio e da Guanabara. Depois, o número caiu para 70.
O deputado Átila Nunes (PSD), que participou da primeira legislatura, relembra o impacto:
– Foi um choque. Deputados da Guanabara eram mais formais, de terno e gravata. Os do interior tinham outro estilo. Além disso, gastamos tempo reorganizando o estado, em vez de focarmos em políticas públicas.
A população da antiga Guanabara também sentiu o impacto. O estado era economicamente mais forte e culturalmente independente. Com a fusão, ocorreram duplicidades de cargos e funções, aumentando os gastos públicos.

Disputas e heranças da fusão
A unificação também gerou conflitos patrimoniais. O Sambódromo é um dos principais exemplos. A prefeitura e o governo do estado disputam a posse, mas o Supremo Tribunal Federal (STF) definiu que a Passarela do Samba pertence ao município.
Outro reflexo está no futebol. Criada em 1965, a Taça Guanabara segue como um título importante, enquanto a Taça Rio, nomeada após a fusão, virou um prêmio secundário para clubes fora das semifinais do Campeonato Estadual.
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Origem da fusão e previsão histórica
A ideia de unificar os estados surgiu nos anos 1950, quando se planejava a transferência da capital do país para Brasília. O escritor Machado de Assis, em uma crônica de 1896, já previa a mudança:
– “Um dia, quem sabe, esta cidade passará de capital de si mesma a capital de um estado único, a que se dará o nome de Guanabara”.
Entretanto, a previsão errou o nome. Em 1974, o presidente Ernesto Geisel editou um decreto formalizando a fusão, após a inauguração da Ponte Rio-Niterói.
Impactos econômicos e sociais
A historiadora Marly Motta explica que a fusão refletiu a política do governo militar de fortalecer regiões estratégicas. No entanto, a mudança afetou Niterói, que perdeu o status de capital, mas, com o tempo, ganhou em qualidade de vida.
– A fusão encareceu o custo de vida no Rio. Isso impulsionou uma migração da classe média para Niterói, elevando a demanda por serviços públicos.
Entenda a fusão da Guanabara e do Rio
- O que aconteceu? Os estados da Guanabara e do Rio foram unificados em 1975.
- Por que aconteceu? O governo militar desejava consolidar a região e reduzir a oposição ao regime.
- O que mudou? O Rio precisou estruturar sua prefeitura e reorganizar a gestão estadual.
- Quais problemas surgiram? Disputas de patrimônio, aumento de gastos e choque administrativo.
- Quais impactos permanecem? Divergências políticas, encarecimento do Rio e crescimento de Niterói.