"Não esqueceremos" - Ato marca um mês da tragédia em Petrópolis

Durante ato realizado na tarde desta terça-feira, 233 cruzes foram fincadas em frente à Câmara Municipal de Petrópolis.

Durante ato realizado na tarde desta terça-feira, 233 cruzes foram fincadas em frente à Câmara Municipal de Petrópolis. É o número exato de vítimas confirmadas na tragédia que atingiu a cidade um mês atrás. Fotos dos 4 desaparecidos também estiveram presentes — junto com o grupo de voluntários que segue as buscas dentro dos rios e córregos da cidade.

Protesto em Petrópolis - Foto: Thomas Mendel
Protesto em Petrópolis – Foto: Thomas Mendel

Uma faixa resumiu a mensagem que a população atingida quer passar: “Não Esqueceremos”. Em uma atividade carregada de dor e luto, com cerca de 200 pessoas presentes, o sentimento geral era de que a população está abandonada à própria sorte e que a cidade ainda tem muitos pontos de risco iminentes.

No dia 15 de fevereiro Petrópolis viveu a pior tragédia de sua história, após fortes chuvas atingirem a cidade e tirarem de forma brutal a vida de mais de 230 pessoas no centro da cidade, Chácara Flora, Vila Felipe, Morro da Oficina e dentro de dois ônibus que afundaram na avenida Washington Luiz.

Desde então a mobilização na cidade tem sido grande. Diante do efetivo insuficiente da para lidar com a tragédia humanitária, diversos grupos de voluntários foram formados para procurar as vítimas que estão desaparecidas e prestar apoio às famílias que perderam tudo.

Leandro Rocha, marceneiro que moveu mundos para encontrar o filho Gabriel — morto aos 17 anos na enxurrada que atingiu o ônibus em que ele estava -, continua atuando e mobilizando voluntários para buscar os desaparecidos: “Eu recebi uma missão. Assim como meu filho ajudou a salvar pessoas que estavam nos ônibus, eu tenho o compromisso de ajudar as famílias dos desaparecidos a encontrá-los.” Leandro também reforçou a importância de mais envolvimento das autoridades, pedindo mais apoio dos bombeiros e de grupos de busca.

Marco Antônio, advogado que perdeu o filho João Carlos também num dos ônibus, desabafa: “Pra mim o que aconteceu em Petrópolis não foi uma tragédia, foi uma carnificina”. Jussara Aparecida, moradora da comunidade Chácara Flora, que perdeu dois filhos e ficou soterrada por mais de uma hora, denuncia a negligência do estado: “Eles nunca olharam por nós, não foi só essa tragédia, antes eles já não olhavam para comunidade, a gente estava lá abandonado. Depois de 9 dias eu consegui enterrar meus filhos. Eles eu sei que não vão voltar, mas eu peço respeito e o que é nosso por direito.”

Os dados científicos disponíveis mostram que diante das mudanças no clima, a frequência e intensidade de eventos climáticos extremos, como a chuva que atingiu Petrópolis, estão aumentando. Fazendo coro aos cientistas, a sociedade civil tem incansavelmente alertado políticos e autoridades sobre a necessidade imediata de reduzir a emissão de gases do efeito estufa e a urgência da necessidade de planos de adaptação para evitar tragédias como essa.

Petrópolis é o retrato da incapacidade do poder público de lidar com a realidade. Mesmo a região tendo histórico de eventos climáticos intensos, que devem se tornar mais frequentes, a resposta dos governantes continua precária e insuficiente